No mês passado eu analisava um cartum “Nos tempos do coronavírus” do cartunista Myrria, publicado no siteacrítica.com. Ele abordou em linguagem mista, criativa uma forma eficiente as mudanças nas relações familiares. O cartum apresentava três balões: No primeiro, o filho sentado num sofá, olhos arregalados e com o celular na mão, diz: “¬¬¬¬¬¬¬¬- Bom dia pai e bom dia mãe! – O pai num outro sofá sentado ao lado da mãe, olhando atentamente ao celular responde: Bom dia filho! E em seguida a mãe também olhando o celular se manifesta dizendo: - Bom dia filho! Vamos começar a nossa reunião familiar!”. Ambos focados nos acontecimentos via celular.
Achei importante levar essa discussão aos alunos (as) para um possível debate. Lancei o seguinte questionamento – Você concorda ou discorda com a crítica feita no cartum? Em “Chamar a atenção dos leitores para o questionamento de que muitas famílias estão deixando de lado o hábito de ter relações mais saudáveis como uma conversa direta e sem a intervenção de tecnologias como o celular”. Pedi para que analisassem as figuras e a escrita, depois justificassem. Supreendentemente, a resposta da maioria foi enfática, muitos disseram que conhecem situações parecidas e pessoas que vivem mais em função do celular do que em conversas diretas com familiares e amigos.
Diante dessa triste realidade e analisando as respostas dos alunos (as) resolvi escrever esse artigo. O objetivo em questão não é “julgar”, nem pedir para “abandonar” o celular e sim saber utilizar ao seu favor, ciente que nada substitui a conversa familiar em momentos de descontração, o contato físico, o olhar de afetividade, o calor humano e o abraço, assim, dosar o tempo do uso do aparelho é o melhor caminho nesses últimos tempos.
Mediante a isso resolvi analisar mais profundamente, lendo artigos e assistindo lives de profissionais capacitados no assunto. Entendi que o objetivo do cartum foi mostrar que em tempos de pandemia está todo mundo em casa, com celular e pouco se fala. E que as relações familiares afetadas pelo excesso do uso dessa ferramenta tão poderosa e atraente entre membros da família estão aumentando a cada dia. A discussão aqui é exatamente entender os riscos eminentes que surgem de maneira inconsciente na vida de muitas famílias e se transformam em hábitos cotidianos e afetam indiretamente o modo de se relacionar. Lacan formaliza que o discurso é um semblante, sendo ele uma maneira de organizar o gozo, nesse sentido, o modo de comunicação está se tornando robotizado e a falsa sensação de estar reunido com a família, na verdade acaba num autoengano.
Outrossim, de forma até mais preocupante de acreditar que está tudo certo. Nesse ponto, repito o que já escrevi no outro artigo, a teoria discursiva nos fala de um sentido dividido, indo além, segundo Pêcheux (1988), discurso é o efeito de sentidos entre locutores. (...) Ao levar em conta as ideias delineadas por Foucault a respeito do discurso como instrumento de dominação e controle, e por Bakhtin sobre a utilização da língua em forma de enunciados concretos e únicos, que emanam de diferentes esferas da vida humana. Tais teorias buscam não apenas descrever e explicar, mas também expor um tipo particular de engano em tempos de pandemia.
A conclusão é a seguinte, fica evidente que a relação familiar afetada pelo excesso do uso de celulares entre membros da família só aumenta. É possível tornar-se enraizado numa sociedade em que os pais estão entretidos com o aparelho e mal prestam atenção nos filhos e outras vezes os filhos preferem o quarto e a “companhia” do celular e seus entretenimentos, infelizmente não estão dando conta desse distanciamento. Presumidamente não culpados e sim influenciados por esses novos artifícios da vida moderna de linguagem simples, inovadora, prazerosa. Isso mostra a ação da tecnologia e a troca afetiva sendo substituída por “atrações” pelo bem estar e as falsas sensações causadas gradativamente no mundo tecnológico. Temos sim, que aprender a conviver com essa liberdade tecnológica, e mostrar que pais e filhos inteligentes devem usar a tecnologia ao seu favor, cientes de que o contato físico não é substituído pela mensagem de texto. Logo, não implica utilizar e sim saber dosar o uso, isso com certeza fará a diferença nesse tempo moderno e de isolamento social.
Escrito por: Professora Rosalina Ramos Lopes.
Formada em Letras pelas FINAN/FALENA, Pedagogia FINAN/ FENA e Psicopedagogia IESNA, Pós-Graduação em Deficiência Auditiva: Tradução e Interpretação em Libras IESF, subárea Análise do Discurso, pela UEMS.
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