Publicado em 10/07/2021 às 06:32, Atualizado em 09/07/2021 às 16:22
Por: Rosalina Ramos Lopes
No mês passado eu analisava um cartum “Nos tempos do coronavírus” do cartunista Myrria, publicado no siteacrítica.com. Ele abordou em linguagem mista, criativa uma forma eficiente as mudanças nas relações familiares. O cartum apresentava três balões: No primeiro, o filho sentado num sofá, olhos arregalados e com o celular na mão, diz: “¬¬¬¬¬¬¬¬- Bom dia pai e bom dia mãe! – O pai num outro sofá sentado ao lado da mãe, olhando atentamente ao celular responde: Bom dia filho! E em seguida a mãe também olhando o celular se manifesta dizendo: - Bom dia filho! Vamos começar a nossa reunião familiar!”. Ambos focados nos acontecimentos via celular.
Achei importante levar essa discussão aos alunos (as) para um possível debate. Lancei o seguinte questionamento – Você concorda ou discorda com a crítica feita no cartum? Em “Chamar a atenção dos leitores para o questionamento de que muitas famílias estão deixando de lado o hábito de ter relações mais saudáveis como uma conversa direta e sem a intervenção de tecnologias como o celular”. Pedi para que analisassem as figuras e a escrita, depois justificassem. Supreendentemente, a resposta da maioria foi enfática, muitos disseram que conhecem situações parecidas e pessoas que vivem mais em função do celular do que em conversas diretas com familiares e amigos.
Diante dessa triste realidade e analisando as respostas dos alunos (as) resolvi escrever esse artigo. O objetivo em questão não é “julgar”, nem pedir para “abandonar” o celular e sim saber utilizar ao seu favor, ciente que nada substitui a conversa familiar em momentos de descontração, o contato físico, o olhar de afetividade, o calor humano e o abraço, assim, dosar o tempo do uso do aparelho é o melhor caminho nesses últimos tempos.
Mediante a isso resolvi analisar mais profundamente, lendo artigos e assistindo lives de profissionais capacitados no assunto. Entendi que o objetivo do cartum foi mostrar que em tempos de pandemia está todo mundo em casa, com celular e pouco se fala. E que as relações familiares afetadas pelo excesso do uso dessa ferramenta tão poderosa e atraente entre membros da família estão aumentando a cada dia. A discussão aqui é exatamente entender os riscos eminentes que surgem de maneira inconsciente na vida de muitas famílias e se transformam em hábitos cotidianos e afetam indiretamente o modo de se relacionar. Lacan formaliza que o discurso é um semblante, sendo ele uma maneira de organizar o gozo, nesse sentido, o modo de comunicação está se tornando robotizado e a falsa sensação de estar reunido com a família, na verdade acaba num autoengano.
Outrossim, de forma até mais preocupante de acreditar que está tudo certo. Nesse ponto, repito o que já escrevi no outro artigo, a teoria discursiva nos fala de um sentido dividido, indo além, segundo Pêcheux (1988), discurso é o efeito de sentidos entre locutores. (...) Ao levar em conta as ideias delineadas por Foucault a respeito do discurso como instrumento de dominação e controle, e por Bakhtin sobre a utilização da língua em forma de enunciados concretos e únicos, que emanam de diferentes esferas da vida humana. Tais teorias buscam não apenas descrever e explicar, mas também expor um tipo particular de engano em tempos de pandemia.
A conclusão é a seguinte, fica evidente que a relação familiar afetada pelo excesso do uso de celulares entre membros da família só aumenta. É possível tornar-se enraizado numa sociedade em que os pais estão entretidos com o aparelho e mal prestam atenção nos filhos e outras vezes os filhos preferem o quarto e a “companhia” do celular e seus entretenimentos, infelizmente não estão dando conta desse distanciamento. Presumidamente não culpados e sim influenciados por esses novos artifícios da vida moderna de linguagem simples, inovadora, prazerosa. Isso mostra a ação da tecnologia e a troca afetiva sendo substituída por “atrações” pelo bem estar e as falsas sensações causadas gradativamente no mundo tecnológico. Temos sim, que aprender a conviver com essa liberdade tecnológica, e mostrar que pais e filhos inteligentes devem usar a tecnologia ao seu favor, cientes de que o contato físico não é substituído pela mensagem de texto. Logo, não implica utilizar e sim saber dosar o uso, isso com certeza fará a diferença nesse tempo moderno e de isolamento social.
Escrito por: Professora Rosalina Ramos Lopes.
Formada em Letras pelas FINAN/FALENA, Pedagogia FINAN/ FENA e Psicopedagogia IESNA, Pós-Graduação em Deficiência Auditiva: Tradução e Interpretação em Libras IESF, subárea Análise do Discurso, pela UEMS.