A Saúde de Dourados pode esgotar a capacidade de atendimento nos próximos 15 dias, se mantiver o mesmo ritmo de contaminaçõs por Covid-19. A avaliação técnica é da superintendente-geral de Atenção à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde, a médica infectologista Mariana Croda. Ela foi entrevistada ontem pelos jornalistas Antônio Coca e Lia Nogueira, no Programa Show da Manhã, da Rádio Cidade FM 101.
O alerta leva em consideração a capacidade do atendimento e o avanço da doença. "Dourados é referência para 33 municípios. Só na microrregião existem 11 municípios em que mais de 60% deles têm alta incidência da doença e não possuem leitos de Uti. Então Dourados, se mantiver o mesmo ritmo de crescimento da doença, o número de óbitos e a necessidade de leitos de UTI da região, em cerca de 15 dias não terá nenhuma capacidade, tando de diagnóstico como de internação", avalia.
Questionada se o momento seria de necessidade do lockdown, Mariana Croda foi didática. "O que se leva em conta para essa medida extrema são fatores como a incidência da doença, a capacidade de serviços de saúde, de profissionais e diagnóstico. O que a gente vive em Dourados hoje são leitos hospitalares lotados, pessoas indo a óbito sem conseguir acessar o leito, porque morrem na emergência, já que tivemos casos de pessoas da microregião que morreram em casa. Ou seja, não se está conseguindo avaliar esse paciente da forma adequada em casa somente com monitoramento", acrescenta.
Ela continua: "Outra situação é o alto nível de profissionais de Saúde infectados, ou seja, as equipes de Saúde estão desfalcadas. Então, mesmo que se tenha leitos, existe o risco de não ter equipe. Outro ponto primordial é que mesmo que o município decrete um lockdown hoje, ela só irá conseguir achatar a curva, ou seja, diminuir a velocidade do crescimento casos, daqui 15 dias porque o período de incubação da doença é de 14 dias", ressalta.
Mariana também disse que Dourados já tem todos os critérios para determinar o lockdown. "O Município precisa olhar para a taxa de ocupação de leitos que não é só dos munícipes de Dourados, mas o fato de atender os 33 municípios", ressalta.
Questionada sobre quem tem a autonomia para tomar essa decisão, Mariana destacou "Dentro do Sistema Único de Saúde existe o princípio da regionalização e hieraquização. Dourados é gestão plena, é sede da macrorregião e tem a autonomia para essa tomada de decisão. Todas as medidas que fogem da gestão municipal já caracteriza uma intervenção, seja da Justiça, seja do Estado ou do Governo Federal", destacou.
A infectologista também revelou a situação do Estado. "No momento nós vivemos o ápice da pandemia do Estado. Nós inicialmente tivemos uma epidemia concentrada na Capital, que foi se expandindo para o interior através de surtos. Até então nós conseguíamos detectar os focos de infecção e mapear os contatos. Gradativamente esses surtos se espalharam pela comunidade e agora nós estamos numa fase da doença em que não conseguimos determinar a fonte da infecção, ou seja, uma transmissão comunitária intensa e nós estamos cada vez mais perdendo a capacidade, tanto de testes, quanto de leitos hospitalares e de acompanhamentos adequados destes pacientes", ressalta.
Dourados no epicentro
Mariana Croda reafirma que Dourados é o epicentro da doença e tratou como falácia a afirmação de que o município registra mais casos porque faz mais testes. Segundo ela, essa afirmação "somente vai interferir em um indicador, que é a letalidade da doença, ou seja, quanto mais se testa, mais se consegui diluir o denominador. Ou seja, quando eu coloco número de mortes pelo número de casos testados eu tendo a diminuir essa letalidade comparada com os outros locais. Nós fizemos uma análise estatística em relação a isso. Quando a gente coloca a oferta de testes por 1000 ou por 100.000 habitantes Campo Grande oferta mais testes que Dourados. Então não existe essa falácia da gente tentar diminuir, minimizar ou até negar o tanto que a epidemia avançou em Dourados principalmente nas ultimas duas semanas. Dourados está sim num momento crítico. Medidas austeras devem ser tomadas imediatamente senão nós teremos muitas vidas ceifadas e que poderiam sim ser evitadas", destaca.
Questionada se fosse responsável por tomar uma decisão ela disse que optaria por medidas de proteção. "Buscaria proteger o munícipe de uma doança que não tem vacina, tratamento, nem terapia específica. Eu também tentaria proteger o meu profissional de Saúde dessa contaminação. Como fazer isso? Deixando as pessoas dentro de casa e poupoado-as de serem expostas. Para isso não adianta culpar a população e falar que ela não adere as medidas de precaução. É preciso viabilizar isso. É preciso sim fechar o comércio, identificar a população vulnerável e fornecer ajuda para que ela não passe fome. É preciso que os serviços não essenciais sejam feitos de casa, estimular o teletrabalho por meio do fechamento do transporte público. É preciso ter um olhar de proteger a população que não tem a capacidade de fazer isso sozinha".
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