Desde outubro, 292 pacientes estão com tratamento contra o câncer interrompido no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) por falta de médicos. O número corresponde às pessoas que eram assistidas pelos oncologistas que pediram demissão diante de condições precárias de trabalho. Segundo funcionários, há apenas um oncologista em atuação, que não tem condições de absorver novos pacientes.
"Estou com o ciclo de quimioterapia interrompido. O câncer não espera. Tenho ligado todos os dias para o hospital, mas ainda não há uma definição sobre a continuidade do meu tratamento. Tenho medo de o tumor estar progredindo e passar até mesmo para outros órgãos", diz o aposentado Paulo Cesar Corrêa de Hollanda, de 68 anos, diagnosticado em maio com um tumor no abdômen.
Na semana passada, Paulo esteve no HFB, junto com a esposa, em busca de alguma definição para seu caso. No setor de oncologia, porém, o casal conta que obteve apenas informações vagas sobre a transferência dos pacientes para outras unidades federais.
"Informaram que o Paulo irá para o Hospital dos Servidores, mas isso está sendo dito há uma semana e não acontece nada de concreto. Dizem que vão ligar, mas até agora nada. Estamos desesperados. É muito triste ver uma pessoa morrendo em casa sem poder fazer nada", desabafou Maria de Araújo Hollanda, de 66 anos, esposa de Paulo Cesar.
Em Belford Roxo, o paciente João Cândido de Amorim, de 74 anos, vive a mesma situação. Ele tem câncer no pulmão e aguarda, em casa, alguma solução para a continuidade do tratamento.
"Enquanto isso a situação dele vai se agravando. Ele está cada dia mais fraco, não consegue caminhar e sente dores no corpo todo", disse o genro Eli Botelho da Silva.
As causas dos pedidos de demissão
Segundo o médico Julio Noronha, diretor do Corpo Clínico do Hospital de Bonsucesso, os pedidos de demissão em massa foram provocados por falta de medicamentos, demora na realização de exames, laudos, baixo salário e sobrecarga de trabalho.
"Como a maioria dos médicos cumpriam contratos temporários de seis meses, pediram para sair. Não suportaram as condições e pressão dos pacientes", disse Noronha.
Na avaliação do médico, a quantidade de pacientes com tratamento oncológico interrompido pode superar o número de 292.
"Há outros pacientes que foram diagnosticados com câncer no HFB, passaram por cirurgia, mas não puderam dar início ao tratamento, pois o serviço de oncologia foi fechado, em 14 de outubro, para novos pacientes.
Família entra na Justiça para remoção de paciente
O paciente Leonardo Diogo dos Santos, de 19 anos, também está entre os 292 pacientes com tratamento interrompido no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB). Ele tem um tumor no cérebro, em estágioavançado. O médico que o atendia está na lista dos que pediram demissão: foram nove ao todo. A família procurou a Justiça.
"Conseguimos liminar obrigando a remoção para outro hospital, mas o prazo terminou na sexta-feira e não foi cumprido. Fizemos exame em clínica particular e foi constatado que o tumor cresceu", contou a mãe de Leonardo, Catiane Diogo dos Santos, que mostrou laudo médico do filho, expedido pelo setor de neurocirurgia do HFB, no dia 11 deste mês. O documento diz: "Caso não seja submetido à avaliação oncológica, entendemos que o paciente está sob risco de lesão irreparável ou morte. Não dispomos de oncologia nesta unidade hospitalar no momento".
Leonardo passou por exame de ressonância na semana passada: "O tumor está avançado e os médicos decidiram não operar", disse Catiane.
Sobre o caso de Leonardo, a direção do HFB informou que o paciente foi encaminhado para o Hospital Federal da Lagoa: "Levaram o prontuário dele para lá. Mas ainda não tivemos resposta. Estamos esperando".
HFB: pacientes estão sendo transferidos para outros hospitais
Em nota, a direção do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) informou que todos os pacientes que realizavam tratamento oncológico na unidade estão sendo transferidos para os demais hospitais da rede federal do Rio, para que seja dada continuidade aos tratamentos, com prioridade para os casos mais graves.
Segundo a nota, os medicamentos necessários, assim como todos os prontuários com o histórico assistencial de cada paciente também estão sendo encaminhados para as demais unidades hospitalares: Hospital Federal do Andaraí (HFA), Hospital Federal dos Servidores do Estado, Hospital Federal da Lagoa e Hospital Federal de Ipanema. "Todos os esforços estão sendo envidados para manter a assistência aos pacientes oncológicos", diz a resposta da direção do HGB.
Porém, questionados sobre a contratação de médicos oncologistas para suprir o déficit de oncologistas após os pedidos de demissão, a direção do HFB e o Ministério da Saúde não deram prazo para a contratação de novos profissionais.
Fonte - O Dia
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