Pesquisa desenvolvida pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), descobre falhas no acompanhamento pré-natal ofertado para gestantes em hospitais da rede pública de Saúde.
Os dados foram levantados a partir de uma pesquisa desenvolvida pela universidade entorno das doenças sífilis e neurossífilis, demonstrando falhas na prevenção e no tratamento das doenças, acarretando aumento no índice da transmissão de mãe para filho durante a gestação.
Para a realização do estudo foram utilizadas 63 gestantes diagnosticadas com sífilis, admitidas para o parto no Hospital Universitário da UFGD (HU-UFGD), e seus recém-nascidos.
Entre os bebês, 12,7% tiveram complicações clínicas, como baixo peso ao nascer, e cerca de 50% tiveram de ser hospitalizados por complicações de sífilis.
Cada um desses casos acarretou ao SUS um custo de US$ 881,48 em tratamento e internação, o equivalente a R$ 4,5 mil, segundo cotação de sexta-feira.
Ao todo foram avaliados 21 recém-nascidos com neurossífilis e 42 com sífilis congênita, caso de quando a enfermidade é transmitida de mãe para filho durante a gestação.
Das 63 gestantes, 60 receberam acompanhamento pré-natal e 47 delas somente souberam que estavam com a doença neste período.
De acordo com a pesquisa, a falta de acompanhamento adequado e de qualidade tem contribuído para a superlotação das unidades de saúde, principalmente das áreas intensivas neonatais.
Como explica a coordenadora, Simone Simionatto,“o diagnóstico tardio da sífilis em gestantes e o acompanhamento inadequado dos parceiros sexuais podem favorecer a transmissão vertical da bactéria Treponema pallidum causadora da doença em gestantes brasileiras. Assim, melhorar a qualidade dos serviços de saúde é importante para um controle mais eficaz da neurossífilis”, afirma.
A bióloga explica que o constrangimento das mulheres e a ausência do parceiro no tratamento, chamou a atenção dos pesquisadores, levantando questionamento sobre o assunto ser um tabu em sociedade.
“Normalmente, as mulheres, quando recebiam o diagnóstico, reagiam com constrangimento, o que se deve ao pouco conhecimento sobre a doença e por ela ainda estar envolta em estigmas. A maioria delas não recebeu apoio dos parceiros. Prevalece uma grande resistência por parte dos homens em torno da enfermidade, o que nos leva a crer que é preciso um amplo processo de discussão com a comunidade para que a informação seja difundida”, salientou.
Simionatto pontua que a falta de políticas públicas em relação à prevenção dessas doenças é uma falha que deve ser observada, pois, agrava a situação do SUS e coloca em risco a vida de gestantes e bebês.
“O diagnóstico precoce da sífilis no primeiro trimestre de gestação, o acompanhamento do tratamento da gestante e do parceiro e futuros estudos para identificar as dificuldades do sistema público de saúde em realizar um pré-natal eficiente são as soluções indicadas”, explica.
A pesquisa teve início em 2016, no entanto, somente no ano seguinte o estudo aderiu o foco em neurossífilis, uma complicação da sífilis que pode gerar sintomas como falência de memória, depressão, paralisias e convulsões.
Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento de Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O estudo conta com a participação do médico infectologista Julio Croda, e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), além das enfermeiras Cristiane de Sá Dan e Andrea da Silva Santos, ambas do Hospital Universitário UFGD (HU-UFGD) e alunas do PPGCS/UFGD.
Fonte - Correio do Estado
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