A OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil seccional de Mato Grosso do Sul) divulgou nota, no portal, em repúdio ao diálogo que flagrou o deputado estadual Paulo Correa (PR) em conversa de telefone orientando outro parlamentar a, supostamente, fraudar a folha de ponto de seus funcionários nomeados na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alms).
“É com indignação que tomamos conhecimento do áudio publicamente divulgado da conversa entre os deputados PAULO CORRÊA (PR) e FELIPE ORRO ( PSDB), onde, aparentemente, combinavam fraudar o cartão de ponto de funcionários comissionados dos seus gabinetes. O diálogo choca e gera grave repulsa social pelo conteúdo, de como os representantes do povo tratam a coisa pública”, afirma a nota.
Assinada pela ‘diretoria da OAB-MS’, o texto ainda afirma que irá ‘tomar providências. “É intolerável, nos dias atuais, condutas de tal jaez. A OAB, cumprindo seu papel constitucional, solicitará aos orgãos competentes que adotem medidas rigorosas para a apuração de tais condutas”.
Áudio vazado
O conteúdo, que circula em diversas conversas no aplicativo whatsapp, é um áudio, que tem pouco mais de três minutos, em que o deputado mostra a preocupação do com a aferição da quantidade de funcionários e se eles, de fato, trabalham nos gabinetes. A conversa foi registrada porque um dos deputados teria emprestado o celular de um pastor que possui aplicativo para gravar ligações. Ele ligou então para o gabinete do deputado e a conversa ficou no celular.
Duas denúncias sobre o diálogo foram feitas: uma no TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul) e outra recebida pela coordenadora do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), Cristiane Mourão. Ambas foram protocoladas no último dia 26.
O deputado conversa com Felipe Orro (PSDB). “Presta atenção, é o seguinte, não tem ninguém do seu lado não, né?”, diz Correa ao início da ligação. “Eu preciso falar com calma com você”, complementa.
Correa afirma ter muitos funcionários e ‘ensina’ o colega a fraudar as folhas de ponto. “Você e eu temos bastante, você sabe que nós temos mais que os outros, não sabe? Põe um controle de ponto, mesmo que seja fictício. Do começo do ano até agora. Pega o seu chefe de gabinete e manda agir. (...) Todo dia aquelas pessoas tem que assinar o ponto, até que passe esse rolo aí”, explica.
E continua. “Pega lá desde o dia 15 de fevereiro para cá e manda todo mundo assinar. Vamos dizer que você tenha 20 em cota normal, mas tem mais 20? Faz os 40 assinar. Faz uma folha dos 20 normais e uma folha dos 20 que você tem. Assina e pronto, deixa sempre assinado do dia anterior”. Ao fim da ligação, Correa explica porque teria ligado para Orro, que se limita a dizer “sim” e “não” durante o diálogo. “Estou sugerindo porque eu gosto de você”.
A equipe de reportagem do Jornal Midiamax tentou contato com Paulo Correa por celular por três vezes nesta sexta-feira, pela assessoria de comunicação do deputado e até mesmo no imóvel onde mora o parlamentar em Campo Grande.
Neste sábado (29), entramos em contato novamente pelo celular por duas vezes, às 10h34, mas o celular do deputado está desligado. Via assessoria, a informação é de que Correa não está na Capital, para onde retorna somente neste domingo (30) para votar.
No imóvel, os funcionários também afirmam que o deputado não está e que só atende com hora marcada.
Já Felipe Orro falou com a reportagem e confirmou que o áudio é verdadeiro, mas que o diálogo aconteceu há mais de um ano. O deputado ainda admitiu que tem dois funcionários além da 'cota' e que cada parlamentar recebe cerca de R$ 70 mil para pagar a folha dos servidores de apoio.
“Você pode ouvir o áudio, eu não falei nada. Só estava conversando com o Paulo Correa”, afirmou. Pelo Facebook, o parlamentar afirma que “todos os servidores lotados em meu gabinete prestam o devido serviço para atender às demandas que chegam a nosso mandato. São servidores comissionados, cedidos ou efetivos da Casa, que pra nossa satisfação optam por prestar serviço em nosso gabinete, sendo que todo trâmite funcional segue as normas legais” e que “ajustes no controle de frequência foram e estão sendo feitos para atender a demanda de transparência da Lei e da sociedade”.
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