Um dos alvos da Operação Matáá, da Polícia Federal e que foi desencadeada na segunda-feira (14), é o pecuarista e ex-bancário Ivanildo da Cunha Miranda. Ivanildo também é réu na Operação Lama Asfáltica, na qual foi delator de um esquema de propina paga pelas empresas da JBS ao grupo político do ex-governador André Puccinelli (MDB).
A propriedade de Ivanildo é uma das fazendas em que a Polícia Federal identificou focos de incêndio supostamente criminosos e que são investigados desde julho deste ano.
O advogado Newley Amarilha afirma que a defesa ainda não teve acesso ao inquérito da Polícia Federal, mas que Ivanildo vai se defender mostrando que os focos não estão em uma de suas propriedades no Pantanal.
“A acusação é baseada em uma foto de satélite. Vamos mostrar outras fotos de satélite indicando que o fogo não está nessa propriedade”, informou Newley.
INCÊNDIOS CRIMINOSOS
A Polícia Federal desencadeou a Operação Matáá na segunda-feira (14), em Corumbá. Durante a investigação, foram encontrados indícios de que parte dos incêndios que se alastram pelo Pantanal é criminosa.
Foram cumpridos na segunda-feira 10 mandados de busca e apreensão em cinco fazendas e em casas de fazendeiros suspeitos de provocar danos em uma área de 25 mil hectares. A casa de Ivanildo, em um condomínio de luxo em Campo Grande, e também a fazenda dele, no Pantanal, foram alvos dos mandados de busca e apreensão.
O delegado responsável pela operação, Alan Givigi, chefe da Delegacia da Polícia Federal em Corumbá, informou que não foram apreendidos objetos nas fazendas vistoriadas pelos policiais federais. “Só foram feitas as perícias e ouvidos os funcionários. Agora, vamos esperar a análise dos materiais apreendidos e o resultado da perícia”, informou nesta quinta-feira (17).
Para encontrar os indícios de incêndios criminosos, a Polícia Federal usou dados de satélite de um núcleo da instituição em Brasília (DF), especializado em crimes ambientais, e também sobrevoou várias fazendas no Pantanal.
“São locais inabitados, em que os incêndios não começaram de forma acidental. Nossa suspeita é de que eles colocaram fogo antes para depois abrir uma área de pastagem”, explicou Givigi na segunda-feira.
Os incêndios investigados se alastraram para áreas de preservação permanente e também atingiram regiões como a Serra do Amolar e o Parque Nacional do Pantanal, já em território mato-grossense.
PENA MÁXIMA
Os investigados devem responder por pelo menos quatro crimes ambientais: dano à floresta de preservação permanente, dano direto e indireto a unidades de conservação, incêndio florestal e poluição. Se condenados, a pena somada desses crimes ultrapassa 15 anos de prisão.
A Polícia Federal deu o nome de Matáá à operação, palavra que significa fogo na língua indígena guató.
“Trata-se de uma área povoada por animais em risco de extinção. O fogo alastrou-se pelas áreas dos parques. É um corredor ecológico que liga os parques do lado brasileiro e também em território boliviano”, explicou o delegado sobre os possíveis crimes ambientais cometidos pelos fazendeiros.
LAMA ASFÁLTICA
Foi a delação de Ivanildo da Cunha Miranda em 2017 que ajudou a Polícia Federal a subsidiar provas na Operação Lama Asfáltica. Por causa da colaboração premiada dele, o ex-governador André Puccinelli (MDB), o filho do ex-governador, André Puccinelli Jr., os empresários João Amorim, da Proteco, e Antônio Celso Cortez e João Baird (Itel Informática e PSG) tornaram-se réus por vários crimes da denúncia, entre eles, corrupção e lavagem de dinheiro.
O processo chegou a tramitar na Justiça Federal, mas o Tribunal Regional da 3ª Região entendeu, em 2019, que o foro competente é a Justiça Estadual. Atualmente, o processo tramita no Fórum de Campo Grande.
Na delação de Ivanildo, ele confirmou que recebia a propina da JBS e distribuía entre pessoas ligadas ao governo. Parte dos benefícios fiscais concedidos pelo governo ao frigorífico JBS voltava por meio de propina.
“Trazia de avião ou de carro, carro próprio, trazia e levava direto. Nunca entreguei um centavo se não fosse na mão do André Puccinelli”, afirmou Ivanildo em delação.
Conforme o Ministério Público Federal, Ivanildo contou que em certa ocasião uma propina de R$ 10 milhões em espécie foi escondida em caixas de isopor e entregue ao ex-governador.
Com informações do Correio do Estado
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