O governo federal vem sofrendo ataques do recém-aliado Centrão, representado principalmente na figura do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). O terceiro na linha sucessória da Presidência, atrás apenas do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), fez um discurso pesado contra o Planalto na quarta-feira.
Em sua cadeira na Mesa Diretora da Câmara, ele disse ao Executivo que acendeu “a luz amarela”, que os remédios políticos do Parlamento “são todos amargos, e alguns, fatais” e que não há mais espaço para errar.
Segundo o deputado federal Luiz Ovando (PSL), que faz parte da base do governo, essa reação pesada do Centrão tem como pano de fundo a negativa do presidente Jair Bolsonaro em colocar um nome para conduzir o Ministério da Saúde indicado pelo grupo formado por diversos partidos.
Com a saída de Eduardo Pazuello, Bolsonaro nomeou o médico e presidente da Associação Brasileira de Cardiologia Marcelo Queiroga.
Ovando ainda criticou o fisiologismo habitual do Centrão, dizendo que ele sempre quer receber um quinhão do governo federal e, com a negativa do presidente, essa reação é natural nesse tipo de política.
“A relação humana é uma engrenagem, e sempre que ela roda gera calor e pode ocorrer atritos. Para acalmar os ânimos mais exaltados é preciso sabedoria e negociar. Para analisar esse panorama, eu digo que um desejo satisfeito gera outro maior, o qual precisa ser recompensado. O Congresso é dessa forma: eles antes não estavam com o governo, passaram a integrar a nossa base porque sempre querem um quinhão da fatia do Executivo federal”, criticou.
O jogo político desses partidos fisiológicos é algo conhecido em Brasília, ou seja, para políticos experientes como o presidente, que ficou por 29 anos dentro deste cenário, não é nenhuma novidade. Essa novela já teve capítulos anteriores que acabaram culminando no impeachment dos ex-presidentes Fernando Collor (Pros-AL) e Dilma Rousseff (PT).
Ao ser questionado por que o Planalto se rendeu a tal famigerada “velha política” – criticada de forma incisiva pelo presidente em sua campanha em 2018 –, Ovando afirmou que acordos fazem parte do jogo político e que esse processo é natural em um Estado Democrático de Direito. No entanto, ele afirmou que na velha política se deve sempre “caminhar com um pé atrás”.
“Você pode ter um amigo, mas nem sempre vai concordar com ele. No Congresso esse é o papel do governo, articular para conseguir colocar em pauta projetos que possam melhorar a vida dos brasileiros. Porém, você sempre deve manter essa relação com o máximo de cautela possível, pois nesse jogo tudo pode acontecer”, explicou.
Por coincidência ou não, essa reação mais pesada por parte de Lira ocorreu após ele ter uma reunião, acompanhado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-AL), com empresários nesta semana em São Paulo.
Para a categoria produtiva, a postura ideológica do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tem prejudicado a relação econômica do Brasil com outros países. Além disso, eles querem que o Congresso pressione o governo federal na aquisição e aplicação de vacinas contra a Covid-19, para que a economia volte a um certo nível de normalidade.
OPOSICIONISTA
Na visão do deputado federal e integrante da oposição ao governo Bolsonaro Dagoberto Nogueira (PDT), essa reação do Congresso Nacional se coaduna com a opinião da sociedade civil, que tem rejeitado a condução do governo no enfrentamento da pandemia e pode pressionar ainda mais os gestores para soluções mais rápidas.
Além disso, a política, nas palavras dele, “idiota” com que o presidente Bolsonaro enfrenta essa crise sanitária mundial também contribui nesse princípio de atrito institucional.
“Eles têm seus interesses junto ao Executivo, mas, ao contrário do presidente, eles não são burros. O mundo tem tomado uma postura totalmente diferente da do Brasil, mas o Bolsonaro nega reconhecer que errou e vem errando muito sobre a crise. Além disso, o mercado sabe que a economia só poderá retornar à sua real normalidade com a imunização em massa da população. Caso contrário, vamos ficar nesse dilema por dois anos, o que o País não aguenta”, avaliou.
UNIDADE
A deputada Rose Modesto (PSDB) resolveu analisar o momento, ao contrário do seu aliado Lira, de forma mais pragmática. Segundo ela, existe a vontade de resolver as crises sanitária, econômica e social rapidamente, o que pode acirrar os ânimos. Porém, é o momento de buscar unidade.
“A situação é delicada e obriga [a tomada de] medidas responsáveis e enérgicas. Acredito que a vontade de fazer o melhor e rápido para sairmos dessa crise pode elevar os ânimos. Não podemos perder o foco, que é viabilizar mais vacinas rapidamente, dar suporte ao sistema de saúde e promover ações e políticas para colocar a economia e o crescimento do País no eixo novamente”, encerrou.
Com informações do Correio do Estado
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.