O presidente da República, Jair Bolsonaro, chamou uma jornalista de "idiota", ao ser questionado nesta segunda, 26, sobre uma foto em que aparece segurando um cartão com a inscrição "CPF cancelado". A expressão é uma gíria do meio policial para se referir a mortes ou execuções.
"O senhor foi criticado por uma foto postada dizendo 'CPF cancelado' num momento em que tantas pessoas estão morrendo. O que o senhor tem a dizer?", questionou a repórter Driele Veiga, da TV Aratu, durante a inauguração de um trecho da BR-101, na Bahia. "Você não tem o que perguntar, não? Deixa de ser idiota", respondeu o presidente.
A foto em que Bolsonaro aparece rindo enquanto segura o cartão foi tirada nos bastidores da gravação de uma entrevista do presidente ao programa policial Alerta Nacional, de Sikêra Jr. A imagem viralizou nas redes sociais durante o fim de semana.
"É comum que pessoas imaturas e políticos autoritários ajam com grosseria, falta de educação e violência quando confrontados com seus erros e irresponsabilidades, aumentando o grau de irracionalidade quando se tratar de um homem e do outro lado estiverem as mulheres", diz o presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), Moacy Neves.
Opositores de Bolsonaro se manifestaram sobre o caso nas redes sociais. Governador da Bahia, Rui Costa (PT), chamou a atitude de Bolsonaro de "lamentável". "Ao invés de trabalhar, ele ataca governadores, ameaça as instituições, provoca aglomerações, despreza as vacinas. E continua agredindo jornalista. Lamentável Minha solidariedade a Driele Veiga e a todos os jornalistas que têm convivido com essa rotina de ofensas do presidente. A imprensa é um pilar fundamental da democracia. Tem que ser preservada e defendida."
O ex-prefeito de Salvador e presidente do DEM, ACM Neto, também comentou a situação. "Quero me solidarizar com a jornalista Driele Veiga, a quem conheço bem e sei da seriedade, competência e educação. É fundamental que, em uma democracia, o presidente da República compreenda e respeite o papel da imprensa."
Histórico
Entidades de defesa da liberdade de imprensa têm destacado o "histórico de forte hostilidade de Bolsonaro contra jornalistas" Em agosto do ano passado, questionado sobre repasses de R$ 89 mil feitos por Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), à primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente respondeu: "Vontade de encher sua boca de porrada."
"Desde o início de seu mandato, Bolsonaro vem demonstrando carecer de preparo emocional para prestar contas à sociedade por meio da imprensa, uma responsabilidade de todo mandatário nas democracias saudáveis. Jornalistas têm sido vítimas de agressões verbais constantes", disseram em nota conjunta a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Artigo 19, Conectas, Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB e Repórteres Sem Fronteiras.
Conteúdo Estadão
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