Buscar

20/08/2025 às 12:31, Atualizado em 20/08/2025 às 13:18

Moradores de MS têm 68,8% da renda comprometida com dívidas

Comprometimento do consumidor sul-mato-grossense está abaixo das médias nacional e regional

Cb image default
Foto - Reprodução Correio do Estado

O consumidor de Mato Grosso do Sul tem hoje 68,8% de sua renda comprometida com dívidas e despesas fixas, segundo levantamento inédito da Serasa Experian enviado ao Correio do Estado. O índice relativo a este ano é o menor do Centro-Oeste e está abaixo da média nacional, que alcança 70,5%, mostrando que os sul-mato-grossenses apresentam melhor equilíbrio financeiro em relação ao restante do País.

O estudo avaliou tanto o comprometimento da renda quanto a capacidade de pagamento, que é o valor que o consumidor ainda tem disponível para assumir novos compromissos financeiros. Em MS, essa capacidade média atingiu R$ 1.123,00 neste ano, também acima da média nacional (R$ 968,00) e próxima à média do Centro-Oeste (R$ 1.218,00).

Ainda conforme o levantamento, o comprometimento da renda do sul-mato-grossense apresentou uma leve queda ao longo dos últimos anos, embora siga em patamar elevado. Em 2022, o índice era de 69,2%, recuou para 69%, em 2023, e atingiu o menor patamar da série em 2024, com 68,1%. Neste ano, houve uma leve alta, chegando aos atuais 68,8%.

No Centro-Oeste, o índice oscilou entre 70,3% em 2022 e 70% neste ano, enquanto no Brasil o comprometimento saiu de 72,3%, em 2022, para 70,5%, neste ano. A comparação mostra que o Estado está em melhor situação que o restante da região e do País.

De acordo com o vice-presidente de Crédito e Plataformas da Serasa Experian, Eduardo Mônaco, os números mostram como a macroeconomia impacta, diretamente, o dia a dia dos brasileiros.

“É possível perceber que o comprometimento da renda, ou seja, a porcentagem já comprometida com pagamento de dívidas, financiamentos ou outras obrigações financeiras, teve uma queda no comparativo entre 2022 e 2025. Isso pode ser reflexo de alguns fatores, como o mercado de trabalho aquecido e políticas de estímulo a renda. No entanto, temos observado, atualmente, que esse aumento na renda não está contribuindo para conter a elevação da inadimplência no País”, analisa Mônaco.

“Por isso é tão importante o credor ter à sua disposição informações complementares acerca de cada CPF, como fonte da renda, indo além do comprometimento e da capacidade de pagamento. Isso possibilita entender o comportamento financeiro de cada consumidor e ser muito mais assertivo na concessão”, completa.

EVOLUÇÃO

Em 2022, a capacidade de pagamento média no Estado era de R$ 914,00. O valor cresceu para R$ 988,00 em 2023, chegou a R$ 1.095,00 em 2024 e atingiu R$ 1.123,00 neste ano. Esse aumento representa uma evolução de 22,8% em apenas três anos, acima da correção do salário mínimo e muito próxima da média regional.

A média nacional passou de R$ 728,00 em 2022 para R$ 968,00 neste ano, enquanto no Centro-Oeste os valores foram de R$ 981,00 para R$ 1.218,00.

O levantamento mostra que os consumidores de Mato Grosso do Sul ampliaram sua capacidade de pagamento nos últimos anos. O avanço de quase 23% no período coloca o Estado entre os que apresentam maior fôlego para novos financiamentos e renegociações.

“A capacidade de pagamento e o comprometimento de renda são variáveis interligadas e impactadas pela economia, como mencionado. Quanto mais informação uma empresa tem, mais precisa e menos arriscada se torna a tomada de decisão. Esse é o nosso objetivo: oferecer ao mercado cada vez mais informações precisas, que trazem transparência e segurança nos processos de concessão de crédito, além de ampliar o acesso ao crédito para o consumidor”, finaliza Mônaco.

Outro aspecto revelado pelo estudo é que os de renda mais baixa continuam sendo os mais pressionados por dívidas e despesas fixas. No País, quem recebe até um salário mínimo compromete 90,1% da renda, restando apenas R$ 120,00 de capacidade de pagamento.

Inadimplência segue em crescimento

Conforme adiantou o Correio do Estado no mês passado, o número de inadimplentes continua em crescimento em MS. Dados da Serasa Experian apontam que o Estado encerrou o primeiro semestre deste ano com 1.196.534 pessoas com o “nome sujo”, ante 1.129.829 registradas em dezembro – alta de 6% ou mais de 66,7 mil novos registros somente nos primeiros seis meses do ano.

No total, os sul-mato-grossenses acumulam 5.148.260 dívidas em aberto, que somam R$ 8,39 bilhões.

A inadimplência atinge agora mais de um terço da população adulta do Estado. Isso significa que, a cada três pessoas, uma tem contas atrasadas e está com restrições no CPF. O volume de dívidas corresponde a um ticket médio de R$ 7.013,41 por inadimplente e de R$ 1.630,02 por dívida.

Segundo o economista Eduardo Matos, o sistema financeiro brasileiro é bastante democrático, o que não é necessariamente ruim, mas pode ser prejudicial em função da falta de educação financeira.

“Um acesso mais facilitado a instrumentos de crédito de alto risco, como os cartões de crédito e limite do cheque especial, se tornam armas na mão do cidadão brasileiro. Porque, a partir do momento em que ele tem à sua disposição esse tipo de crédito, ele usará e, em muitos casos, até mesmo sem pensar ou [vai] interpretá-lo como uma extensão de sua renda, o que não é verdade”, considera Matos.

O mestre em Economia Eugênio Pavão ressalta que entre os que ganham um salário mínimo o inadimplemento é ainda maior.

“Os salários não dão conta dos pagamentos das necessidades básicas, mesmo com o aperto monetário, o salário mínimo não contempla as necessidades básicas”, conclui.

Com informações do Correio do Estado

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.