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29/06/2021 às 08:00, Atualizado em 28/06/2021 às 17:03

ARTIGO: É muita gente vivendo de “fachada” nas redes sociais

Por - Professora Rosalina Ramos Lopes

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Professora Rosalina Ramos Lopes

Essa semana eu estava navegando nas redes sociais e deparei com uma mensagem que me chamou a atenção, pouco depois um amigo enviou a mesma mensagem para mim. Mediante a isso resolvi analisar mais profundamente: “É muita gente vivendo de “fachada” nas redes sociais postando uma vida, uma família e um amor que NÃO tem, para aparentar ser uma pessoa que NÃO É”.

Não critico a tecnologia, pois acho maravilhosa, gosto muito e não saberia viver sem ela, a discussão aqui é exatamente entender os riscos de uma exposição infundada.

As plataformas tecnológicas têm sido utilizadas para exaustivamente mostrar momentos felizes, porém a melancolia não é totalmente ofuscada. Maquiar o cotidiano, pessoas e relacionamento, mostrar algo diferente e ilusório, para ser aceito ou agradar o outro.

Lacan formaliza que o discurso é um semblante, sendo ele uma maneira de organizar o gozo, nesse sentido, o modo de como o seguidor/amigo percebe é o mais importante, permanecer em evidência e mostrar a perfeição é uma maneira narcisista de querer essa aprovação. Essa cultura de aparência em que postar amor eterno é mais importante que viver o amor, declarar aos mortos é melhor que mandar flores aos vivos, usar roupas caras e de marcas é melhor que cuidar do corpo ou da saúde, Capitalismo, dizer que a oração é melhor que Deus, acabam no autoengano.

Outrossim, de forma até mais preocupante de acreditar nas próprias mentiras divulgadas na amostragem “perfeita” a uma vida que não tem, ou sonha ter e aparentar ser o que não é, enquanto do outro lado alguém curte ou finge acreditar.

Nesse ponto, a teoria discursiva nos fala de um sentido dividido, indo além, segundo Pêcheux (1988), discurso é o efeito de sentidos entre locutores. ... Ao levar em conta as ideias delineadas por Foucault a respeito do discurso como instrumento de dominação e controle, e por Bakhtin sobre a utilização da língua em forma de enunciados concretos e únicos, que emanam de diferentes esferas da vida humana.

De acordo com os postulados da Análise do Discurso, nesse caso midiático, não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia. Tais teorias buscam não apenas descrever e explicar, mas também expor um tipo particular de engano.

Bem, depois de tudo que foi dito, fácil é a conclusão de que o problema está enraizado numa sociedade doente, presumidamente não culpada e sim influenciada pelo bem estar e a falsa sensação de não estar sozinha, pois pode ver e ser visto a qualquer momento pelos internautas.

O difícil é explicar essas falsas sensações que aumentam gradativamente no mundo tecnológico. Temos sim, que aprender a conviver com essa liberdade, mas ter parâmetro e analisar até que ponto. Sabemos a força que a mídia exerce e isso fica nítido a cada dia principalmente nesses últimos anos e essa força passa a vincular no modo de vida das pessoas. Refiro nesse artigo, não a todas as formas de veiculação e sim as postagens na internet.

O objetivo é questionar essa realidade contraditória de casamentos perfeitos, corpos esculturais, famílias maravilhosas, filhos perfeitos, casas luxuosas, viagens caríssimas mostradas muitas vezes com pano de fundo feitas em aplicativos, enfim.... Essa questão é ainda mais séria e preocupante quando isso se torna “verdade”, a amostragem para o outro ver mesmo que de fato não aconteça, o viver de “fachada”, a perfeição que não existe em todo tempo.

Sem importar que a maioria das vezes, após as lindas postagens estão os choros, as angústias, a solidão, o desprezo, as frustrações, a depressão, entre outros. A bem da verdade, esse é o defeito da população que vem seguindo sem percepção dos males causados a si mesmo, das opiniões equivocadas sobre o que está sendo mostrado, do tamanho do envolvimento que se torna vício, clicar, postar e esperar que o outro acredite que a sua vida é perfeita.

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