Um dos mamíferos característicos do Pantanal pode ficar mais perto de sua extinção devido às mudanças do clima no mundo.
Estudos da Embrapa Pantanal, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), indicam que 75% desses animais podem morrer no período de 80 anos.
Esse cenário foi obtido a partir da análise de dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que identificou que a elevação da temperatura deve reduzir em até 30% a quantidade média de chuvas na Bacia do Rio Paraguai até 2100.
A pesquisa foi desenvolvida a partir de probabilidades. O modelo estatístico usado indicou que há 60% de chance que a população dos cervos fique reduzida a um quarto do que existe hoje.
“O mesmo modelo revela que há 70% de probabilidade de a população cair pela metade até aquele ano (2100). Ou seja, as chances de o cervo ser afetado no Pantanal pelas mudanças climáticas globais são substanciais”, informou nota da Embrapa.
Os pesquisadores que conduziram o trabalho sobre as mudanças climáticas foram José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden); Lincoln Alves, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); Roger Torres, da Universidade Federal de Itajubá/MG (Unifei). Ele foi publicado na revista Climate Research em 2016.
A análise sobre o impacto na vida dos cervos faz parte de dissertação de mestrado de Guellity Marcel Fonseca Pereira, que foi orientado pelo professor Marcelo Bordignon e co-orientado pelo pesquisador Walfrido Tomás, do Laboratório de Vida Selvagem da Embrapa Pantanal (MS).
“O cervo-do-pantanal se encontra na lista oficial de animais ameaçados de extinção no Brasil”, alertou a nota. Todos os dados que serviram para o trabalho foram coletados entre 1991 e 1993 e em 1998, 2000, 2001, 2002 e 2004. "É um dos raros casos de monitoramento de abundância de grandes animais feito por longo prazo no Brasil", contou o pesquisador Walfrido Tomás.
SÍMBOLO DO PANTANAL
O tuiuiú também pode ser ameaçado. A ave é símbolo do Pantanal e foi identificado que quando as inundações são menores, os ninhos também diminuem.
A quantidade de ninhos variou entre 200 a 20 mil ao longo de um século. A maior quantidade foi encontrada nos anos de 1990, quando houve grandes cheias. Na década de 1960, com sequência de anos secos, foi estimado em algumas centenas.
As espécies de mamíferos estudadas foram o cervo-do-pantanal e o veado-campeiro. O trabalho foi desenvolvido para justamente entender como é possível atuar na tentativa de conservar esses animais e evitar suas extinções.
O veado-campeiro utiliza áreas abertas para viver, enquanto o cervo-do-pantanal é dependente de áreas úmidas e se alimenta principalmente de plantas aquáticas.
"Para que as populações sejam afetadas é preciso um período relativamente longo de submissão às condições ambientais desfavoráveis, já que não é esperada diminuição imediata das populações após cheias muito intensas ou secas extremas. Não há catástrofe e demora um tempo para que esses eventos realmente afetem as populações de forma detectável pelos pesquisadores", explicou o pesquisar Tomás.
RISCO CONSTANTE
Os pesquisadores também identificaram que o cervo-do-pantanal já sofreu outros impactos, com períodos de secas, e sua população foi reduzida drasticamente. Contudo, com a regularidade das cheias, a espécie conseguiu recuperar-se.
Entre 1991 e 1993, a estimativa de população desses animais era de 40 mil a 45 mil indivíduos. Houve variação, entre 1903 e 2004, que a população flutuou entre 4,5 mil a 31 mil animais. A média estimada para o século 20 é de 20 mil cervos no Pantanal.
COMBATE
A pesquisa também indicou que será preciso implantar ações contra a degradação ambiental e ainda recuperar áreas que sofreram intervenção.
"É preciso tentar amortecer a redução de água nas inundações devido às mudanças climáticas globais, por meio da conservação de mananciais e nascentes, não drenando ambientes úmidos, conservando as florestas e evitando erosões. O pior cenário é a sinergia entre impactos das intervenções humanas no ecossistema e os efeitos das mudanças climáticas", recomendou o pesquisador da Embrapa Pantanal, Walfrido Tomás.
Intervenções nos rios para melhorar navegação, construção de hidrelétricas são outras situações que precisam ser analisadas e podem contribuir para a extinção dos animais.
"Isso pode afetar todo o comportamento hidrológico na planície de inundação e, somando-se seus efeitos com aquelas advindos de mudanças climáticas, temos o desastre perfeito para a economia e para a biodiversidade. Uma tragédia anunciada", reconheceu Tomás.
CERVO-DO-PANTANAL
Esse tipo de animal pode medir até 1,91 m de comprimento e 1,27 metro de altura, pesando até 140 quilos. Ele é o maior cervídeo da América do Sul e o segundo mamífero terrestre brasileiro em massa corporal.
O cervo-do-pantanal é identificado pela sua pelagem, marrom-avermelhada. Os machos possuem galhada com três ou mais pontas de cada lado. O focinho, a cauda e as extremidades dos membros são negros. As orelhas, em formato arredondado e grande, apresentam longos pelos brancos no interior.
A alimentação desses animais pode ser de plantas aquáticas, gramíneas e leguminosas. Ataques podem ocorrer quando se sentirem ameaçados.
Em geral, andam sozinhos ou em pequenos grupos, formados por um macho, fêmea e o filhote. Por conta do risco que correm de desaparecer, estão na Lista Brasileira de Espécies Ameaçadas e no livro vermlho da União Internacional de Conservação da Natureza. No Uruguai ele já foi extinto e no Paraguai e Argentina encontra-se em situação crítica.
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