O choque de preços que levou a inflação em março a 1,62%, a maior marca para o mês em 28 anos, e a dos últimos 12 meses a 11,30% provocou uma perda abrupta de conquistas de consumo dos brasileiros desde o Plano Real. Carne, iogurte, queijo, bolacha recheada, itens que tinham ficado acessíveis nas últimas décadas, agora estão deixando a lista de compras de parte da população - o que é o exemplo mais visível de uma situação de perda de renda, desemprego elevado e custos mais altos.
Nos últimos meses, 73,1% dos consumidores deixaram de comprar carne, quase 10% cortaram iogurte, queijo, laticínios e bebidas alcoólicas e perto de 6% não levaram para a casa biscoito e feijão, alimento básico, revela pesquisa do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga), feita pela JFP Consultoria e obtida pelo Estadão.
O estudo, que ouviu no início do mês 200 consumidores com renda familiar de até dez salários mínimos (R$ 12.120) quando faziam compras em supermercados da capital paulista, mostra que 52% deixaram de consumir algum produto entre alimentos, bebidas, itens in natura e artigos de limpeza. Com a disparada dos preços, 79% dos entrevistados passaram a levar um volume menor de itens para casa.
O zelador Marcelo Domingos dos Santos, de 50 anos, é um dos que frearam o consumo. Ele gasta hoje R$ 700 na compra de supermercado, sem levar tudo o que precisa para casa, onde vive com a mulher e dois filhos. Até pouco tempo atrás, desembolsava R$ 500 e saía do supermercado com o carrinho cheio.
"Faz um ano que diminuímos o consumo de carne. Até a moída está difícil de comprar", diz. O iogurte, um dos símbolos da melhora do consumo trazida pelo Plano Real, ele nem lembra quando comprou pela última vez.
Com informações da Agência Estado
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