O crescimento da participação do milho na produção de etanol no Brasil é uma tendência que veio para ficar. A avaliação é de Hélio Sirimarco, vice-presidente da SNA.
O executivo ressalta que a produção do biocombustível deve superar os 2 bilhões de litros em 2019 e chegar aos 8 bilhões de litros em nove anos.
"A fatia da produção de etanol de milho na oferta total do biocombustível do País deverá chegar a 8% em 2020 e atingir até 20% em 2028, segundo as estimativas de representantes do setor presentes na 19ª Conferência Internacional Datagro sobre Açúcar e Etanol", afirma Sirimarco.
Em relatório divulgado no dia 31 de outubro, a consultoria INTL FCStone informou que a oferta de etanol de milho deve seguir em forte alta na safra 2020/2021, na comparação com a expectativa do ciclo 2019/2020.
"O aumento é baseado na ampliação da capacidade produtiva, tanto por meio da inauguração de novas destilarias, em 2019 e em 2020, quanto pela expansão do potencial atual", indicou a empresa no documento.
Em relação a possíveis impactos nas cotações com o aumento do uso do cereal para a produção do biocombustível, Sirimarco explica que o preço do milho é determinado por vários fatores, não só pela demanda interna.
"Além disso, é importante ressaltar que o esmagamento do milho não resulta somente na produção do etanol, mas também do DDGS, um concentrado proteico extraído durante o processo de destilação que pode ser uma alternativa economicamente viável para a alimentação animal nas regiões em que o cereal apresenta preço baixo", afirma.
"Devido ao seu alto teor em energia, fósforo e aminoácidos em comparação com o milho, trigo e cevada, é uma alternativa nutricional e econômica na substituição destes alimentos na dieta dos animais".
Mato Grosso se destaca com novas usinas
Sirimarco lembra que o Mato Grosso, estado que se destaca na produção do biocombustível feito com milho, tem 12 usinas de etanol, sendo sete exclusivamente de cana, três de cana e milho e duas que usam somente milho. E o número deve aumentar.
Sirimarco conta que o presidente do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado de Mato Grosso (Sindalcool/MT), Silvio Pereira Rangel, já anunciou que cinco novas usinas exclusivas de milho serão inauguradas até 2021 e unidades de grupos tradicionais de cana, como a Barrálcool e a Itamarati, devem ser transformadas para processar também o grão.
Segundo Guilherme Nolasco, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Mato Grosso deve se consolidar como o maior produtor brasileiro de etanol de milho.
A produção deverá acompanhar o aumento estimado da produção do cereal, que deverá passar de 31 milhões de toneladas na última safra, para 52.2 milhões de toneladas em 2028.
Mercado da cana-de-açúcar
O vice-presidente da SNA também afasta a possibilidade de impactos mais relevantes dessa nova tendência para os produtores de cana.
"O mercado da cana-de-açúcar não é influenciado só pelo etanol. Na realidade, o que mais pesa é o comportamento do preço do açúcar, principalmente no mercado internacional", ressalta.
Segundo a FAO (agência da ONU para alimentação e agricultura), a produção global de açúcar deve cair 2,80%, para 175.1 milhões de toneladas, em 2019/20, em comparação a uma redução do consumo de 1,40%, para 177.5 milhões de toneladas no período. Isso irá representar um déficit global de cerca de 2.4 milhões de toneladas.
O índice de preços do açúcar da FAO ficou em média em 178,3 pontos em outubro, alta de 5,80% na comparação com setembro.
Com a expectativa de alta nos preços do açúcar no mercado internacional, a parte do álcool no mix de produção da cana no centro-sul brasileiro, principal região produtora, deve cair.
De acordo com o relatório da INTL FCStone, a fatia do processamento da cana voltada para a produção de açúcar aumentará de 34,60% para 37,40% na comparação da safra 2019/2020 com 2020/2021.
A estimativa da consultoria é de que a produção de açúcar no centro-sul deve ficar em 28,5 milhões de toneladas em 2020/2021, com aumento de 8,80% em relação à safra anterior, com 26,2 milhões de toneladas.
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