O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto em entrevista exclusiva para o jornal Folha de São Paulo, afirmou que a atual gestão do governo federal deve se mobilizar para garantir que os cortes de despesas e garantir que o arcabouço fiscal seja sustentável a longo prazo. A entrevista aconteceu na quinta-feira, dia 14-11.
Na conversa com o jornal, o atual presidente do BC acredita que existem duas formas de cortar despesas de forma substancial para o próximo ano: uma, por meio da redução de gastos na carne, e outra, que seria apresentando medidas que possam sinalizar aos agentes econômicos que o arcabouço fiscal está agindo como um reforço estrutural para a economia. Sobre a questão da carne, Roberto Campos destacou que os cortes devem começar durante o ano de 2025 para garantir um equilíbrio em relação ao arcabouço fiscal.
Sobre os cortes de gastos, o Roberto Campos destacou a importância de um ajuste fiscal consistente. Em seu ponto de vista, este reajuste deverá buscar uma redução de despesas avaliada em uma média de R$ 30 bilhões. “Olhando as pesquisas que a gente recebe de mercado, tenho escutado entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões no ano de 2025 e alguma coisa estrutural. No estrutural, não é uma opinião do Banco Central, o que a gente tem visto os economistas falando é que enderecem o ponto da indexação e da vinculação”.
Possível retração no consumo doméstico no fim de ano
Esse cenário de ajustes fiscais ocorre em um momento delicado para os consumidores, especialmente aqueles que têm o hábito de comprar carne para o consumo doméstico. De acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado pelo IBGE na semana passada, o custo da carne bovina deverá registrar um aumento de pelo menos 7,9% no último trimestre deste ano. Este será o maior aumento no período desde 2020, conforme análise da LCA Consultores. O preço da carne bovina se tornou uma preocupação crescente, uma vez que frigoríficos como a JBS enfrentam o maior incremento nos custos do gado em quase 30 anos.
O economista da GSM Consultoria e Projetos, Sthênio Martins destacou que o período de fim de ano, tradicionalmente, traz uma elevação na demanda interna, sendo impulsionada por fatores como o pagamento do 13º salário e a criação de vagas temporárias no comércio, o que tende a impactar diretamente os preços dos produtos.
“No final de ano existe uma demanda interna maior por conta de fatores como 13º salário e geração de vagas temporárias no comércio que podem impactar diretamente no aumento do preço da carne bovina e outros itens. No entanto, fatores relacionados a demanda externa também contribuíram para a variação positiva no preço, a exportação aumentou aproximadamente 30% no período de janeiro a outubro de 2024 em relação a 2023”. Outro fator que leva ao aumento nos preços esta relacionado ao desgaste das pastagens por conta das secas e queimadas que dificultaram a terminação a pasto dos animais, contribuindo para a redução da oferta de gado.
O especialista ainda explicou que os produtos alimentícios são os que mais tendem a sofrer aumentos durante períodos de inflação. Segundo Sthênio, a procura por outros tipos de carne para substituir a carne bovina já é uma tendência esperada no cenário nacional e no Estado. “Os itens de alimentação e bebidas são os que possuem maiores pesos no principal índice de inflação do Brasil, o IPCA, sendo assim, a alta nos preços da carne bovina, que representa uma variação acumulada de 6,28% no ano de 2024, deve impactar na inflação do país, causando queda no poder de compra das famílias brasileiras, resultando em uma redução no consumo de carne bovina e, possivelmente, a busca por itens substitutos como a carne suína e a de frango”.
A supervisora técnica do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Andreia Ferreira, afirma que as expectativas em relação ao preço do gado ainda são incertas e que a situação pode continuar prejudicando os consumidores. “Se continuar o cenário de retenção dos animais no campo, ou ainda se o número de animais em criação confinada for insuficiente para atender a demanda, a tendência é que o preço permaneça elevado. Sendo assim, isso é uma trajetória comum observada desde quando começamos a pesquisa do DIEESE na capital, em 2013”.
Caso a tendência de elevação continue nos supermercados em geral, os consumidores começarão a migrar para outros tipos de proteínas que possuam preços ainda mais acessíveis aos seus bolsos. “Os consumidores buscarão alternativas para manter o consumo de proteína, substituindo a carne bovina por outros tipos, como aves, peixes, carne suína ou até ovos. Isso já aconteceu durante a pandemia, quando essas trocas foram a única alternativa viável. Sendo assim, ou eles trocam de proteína, ou param de consumir por completo”.
Por João Buchara; com informações da Folha de São Paulo
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