Brasília começou a enfrentar em setembro seu primeiro esquema de racionamento de água por falta do recurso. Em um período aproximado de duas semanas, cinco regiões administrativas tiveram o fornecimento de água suspenso, o que afetou cerca de 600 mil pessoas.
O Distrito Federal é abastecido por dois diferentes esquemas: 85% da população têm água de dois reservatórios, o do Descoberto e o de Santa Maria; e os outros 15% e parte dos produtores agrícolas recebem o líquido diretamente de pelo menos cinco córregos. Esta última é a população afetada pelo rodízio de suspensão de água das últimas semanas. As áreas atingidas são as regiões administrativas de Sobradinho, Planaltina, Jardim Botânico, São Sebastião e Brazlândia.
As primeiras suspensões do abastecimento, sofridas por Brazlândia, não foram programadas, mas decorrentes da falta de água no córrego de origem devido a um período de estiagem maior que o comum na região. A partir disto, a Agência Reguladora de Água, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) fez um plano de contingenciamento.
“Os córregos do Distrito Federal, em geral, são de pequeno porte. muitos já secaram e outros estão com nível muito baixo. Então, começamos a ter problemas de atendimento da populaçãodestas cinco regiões administrativas. Essa população começou a ter interrupção no fornecimento porque a Caesb (Companhia de Abastecimento Ambiental do Distrito Federal) não podia ficar com as máquinas ligadas por falta de água. Às vezes porque o córrego estava baixo devido a falta de chuva, outras porque havia conflito entre os usuários”, explicou o diretor-presidente da Adasa, Paulo Salles.
Segundo o professor da Universidade de Brasília, Sérgio Koide, doutor em Recursos Hídricos, para situações de racionamento não acontecerem nesta região, o sistema deveria trabalhar com uma folga, ou seja, deveria estar ligado a mais fontes de água para os momentos de estiagem.
Desde julho a Adasa estuda estabelecer sobretaxa na tarifa para quem aumentar o consumo, como medida para evitar o colapso do sistema hídrico. Por enquanto, as medidas são acordos com o setor agrícola para se organizarem nos horários de captação, recomendações para que posto de lavagem de carro e caminhões-pipa reduzam o consumo e campanhas de conscientização para que a população não lave calçadas, fachadas de prédios, e tenha um consumo consciente.
Chuvas
De acordo com o especialista, é preciso economizar até que as chuvas venham o suficiente para encher os córregos. Nos últimos dois dias, choveu em vários pontos do Distrito Federal, mas não o suficiente para amenizar a escassez de água. “Se a gente conseguir fazer uma gestão razoável e a população diminuir o consumo, a gente vai conseguir chegar ao período das chuvas com o problema contornado. Porém, enquanto a gente não aumentar a produção, o problema vai continuar acontecendo. Estamos muito próximos do limite do sistema. O colapso vai acontecer sempre que tivermos uma época seca”.
A previsão era que quatro regiões sofreriam suspensão do abastecimento entre sexta-feira e a próxima segunda-feira (26), porém, com a queda de uma forte chuva na sexta-feira feira e com as medidas de economia, a Caesb cancelou as manobras de fechamento do abastecimento de água para as regiões de São Sebastião e Jardim Botânico. Já as regiões de Sobradinho e Planaltina começaram a apresentar pequenas melhorias, mas que ainda não permitem suspensão total das manobras técnicas e terão suspensões de abastecimento que durarão até às 23 horas até a segunda-feira.
Mudança de rotina
A comerciante de Sobradinho, Maria Ferreira, diz que em seu estabelecimento faltou água duas vezes durante a última semana. “Tem muitos anos que moro aqui e nunca vi faltar água desse jeito”, relatou. Segundo ela, a rotina do comércio teve que mudar. “Agora temos que deixar água no tambor. Quando falta água por uma noite ou um dia dá para se virar. A gente enche as garrafas da geladeira e se vira. Mais que isso, complica”.
Na creche de Jorge Cordeiro, também em Sobradinho, as crianças tiveram que ir para casa sem banho. “Quinta-feira não tivemos água o dia todo. Não pudemos dar banho nas crianças, porque aqui damos banho em todo mundo. Aqui tem 48 crianças. Inclusive, quando os pais vieram buscar as crianças explicamos que, infelizmente, não foi possível dar banho nelas porque demos prioridade à água para o pessoal beber. Hoje já teve água, mas semana passada também não teve banho”, contou Cordeiro.
Cláudia Maria também começou a adotar novos hábitos em casa com a falta de água. “Se for lavar roupa, a gente coloca um balde, coloca todas as águas de roupa ali no balde e com essa água dá para lavar o chão e dar descarga. Banho é só uma vez por dia, com os meninos pequenos é só unzinho e bem rápidão e, se não tiver água, tem que pegar nas canecas. Às vezes usamos a mesma água que lavamos a roupa para lavar outras roupas. Ai só na hora de enxaguar que usamos uma água mais limpa. Lavo a roupa branquinha, ai deixo a que solta mais tinta por último. Ai, depois tiro essa água, jogo no balde e aproveito para lavar a área”, explicou a dona de casa.
Para Paulo Salles, presidente da Adasa, não há motivo para a população se desesperar.”A situação é difícil, mas temos água e estamos fazendo todo possível para prolongar o uso dessa água. Temos duas formas de prolongar esse uso: chover ou reduzir o consumo. Estamos trabalhando para reduzir o consumo e essa é a grande mensagem”.
Fonte Agência Brasil
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