A equipe de Jair Bolsonaro gastou R$ 657.402,66 para cumprir agenda de viagens nacionais em dois meses durante a pandemia - entre junho e agosto. Os dados foram enviados pela Secretaria-Geral da Presidência da República para a agência Fiquem Sabendo por meio da Lei de Acesso à Informação.
Segundo informou a secretaria, os gastos referem-se "principalmente, a diárias, hospedagem e alimentação do Escalão Avançado, grupo de servidores de apoio que precede a chegada do Presidente da República ao local da visita. Tais viagens foram para cumprimento de agenda do Senhor Presidente da República”.
Foram realizadas 13 viagens, passando por estados do Sul, Sudeste, Norte e Nordeste, em um período que compreende o início de junho ao início de agosto. A maioria delas faz parte de uma agenda intensa do Executivo para inaugurar obras e se aproximar de eleitores, como forma de recuperar popularidade antes das eleições de 2022. O Nordeste, destino de quatro dessas viagens, registrou uma queda de 17 pontos percentuais no índice de rejeição ao presidente, segundo pesquisa do Datafolha.
Em junho, Bolsonaro viajou para inauguar o Eixo Norte da transposição do Rio São Francisco - a ida do presidente gerou polêmica nas redes sociais. Bolsonaro passou ainda por Missão Velha (CE) para sobrevoar trecho da ferrovia Transnordestina. No total, a viagem custou R$ 109 mil. Dois meses depois, uma tubulação da barragem de Jati, parte do trecho inaugurado pelo presidente, rompeu, e duas mil pessoas tiveram que deixar suas casas às pressas.
Em mais uma viagem para inaugurar outro trecho da integração do Rio São Francisco, Bolsonaro chegou a dizer que “quando chega a água, ele parece que ganhou na mega-sena”, referindo-se aos nordestinos.
Em retorno ao município de Missão Velha, Bolsonaro causou aglomeração, contrariando as recomendações de distanciamento social e uso de EPIs. Em vídeo publicado em suas redes sociais, ele aparece sem máscara cumprimentando apoiadores. Segundo a publicação, a visita foi uma “parada não prevista”.
Em julho, após passagem por Florianópolis (SC), sua equipe seguiu para Campo Alegre de Lourdes (BA), mas a viagem foi cancelada após chegada na cidade. Os gastos foram de R$ 63,6 mil. Semanas depois, Bolsonaro foi ao local para inaugurar a segunda etapa do Sistema Integrado de Abastecimento de Água do município, somando mais R$ 37,3 mil às despesas. Na ocasião, o presidente retirou a máscara para discursar.
Nessa viagem ao Nordeste, Bolsonaro fez suas primeiras aparições públicas após se recuperar da Covid-19. Ao pousar em São Raimundo Nonato (PI), causou aglomeração de pessoas em meio à pandemia e dispensou o uso de máscara de proteção. No Piauí, o presidente visitou o Parque Nacional da Serra da Capivara e o Museu da Natureza, viagem que custou R$ 23,1 mil com pagamentos de diárias, além dos gastos com cartão presidencial, não enviados pela secretaria.
A equipe presidencial também voltou ao Sul do país no final de julho, apesar de Bolsonaro ter afirmado que estava com “mofo no pulmão”. Em Bagé (RS), ele participou de um lançamento de moradias populares. Foram realizadas duas viagens da equipe para o local, uma no dia 27 de julho e outra dois dias depois, gerando um custo de R$ 81,1 mil.
Mantendo o hábito de cumprimentar apoiadores sem usar máscara, o presidente inaugurou a primeira etapa das obras do Porto Futuro no centro de Belém (PA), um espaço de lazer e turismo. A viagem foi a segunda mais cara da lista, custando R$ 110,3 mil, ficando para trás apenas dos gastos da visita a São Vicente (SP), com passagem por São José dos Campos (SP), que totalizaram R$ 127,9 mil.
Enviados pelos ministérios do Desenvolvimento Regional e da Infraestrutura em outros pedidos de acesso à informação, os cronogramas de inauguração de obras para os dois últimos meses de 2020 somam mais de 300 empreendimentos, o que indica que a agenda de viagens do presidente deve continuar ativa até o fim do ano.
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