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10/05/2025 às 16:00, Atualizado em 10/05/2025 às 15:35

Estudo mostra “epidemia silenciosa” de escorpiões e SES alerta para alta intoxicação

Estado já acumula mais de 2,3 mil casos somente neste ano e incidência preocupa

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Divulgação

Um estudo científico publicado pela USP (Universidade de São Paulo) mostrou que, em 10 anos, os casos de acidentes com escorpiões cresceram 150% em todo o país. Apenas no ano passado foram 133 mortes, o que já representa uma pressão no SUS (Sistema Único de Saúde). Seguindo a tendência do cenário nacional, Mato Grosso do Sul também tem assistido o aumento gradual no número de casos ao decorrer dos anos e, em apenas quatro meses, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) já registrou 2.334 casos.

De acordo com o doutor Sandro Benites, do Ciatox-MS (Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Mato Grosso do Sul), órgão vinculado à SES, escorpiões se tornaram uma praga urbana em todo o país, especialmente pelas condições propícias criadas pela proliferação das diversas espécies desses animais, sendo o mais comum a de cor amarela. Ainda segundo Benites, hoje, picadas de escorpião é a principal causa de intoxicação e morte por animais peçonhentos, superando cobras, aranhas e outras espécies juntas.

“Se juntarmos todos os animais, os escorpiões são os que mais matam. Eles se reproduzem rápido e se adaptaram bem ao meio urbano, que criou um ambiente propício para a proliferação deles”, explica Sandro.

O médico ainda pontua que outro motivo para o rápido crescimento da espécie na cidade é a falta de predadores naturais, já que no ambiente urbano, estes animais ficam nos esgotos, construções abandonadas, entulhos e lugares escuros, podendo aparecer em frestas e dentro de armários, em sapatos e, até mesmo, em caixas de brinquedos.

“Nas cidades, os escorpiões não encontram tantos predadores como na natureza, onde servem de alimentos para pássaros e galinhas. Muito pelo contrário, como o meio urbano tem muita barata, principal alimento dos escorpiões, eles encontram o ambiente favorável para se reproduzirem”, detalha.

Além disso, Sandro ainda aponta que a canalização de córregos, a exemplo do que acontece em Campo Grande, também favorece a proliferação desses animais, que entram nas residências principalmente pelos ralos, que dão acesso às redes de esgoto.

“Cada vez mais vamos ter mais casos de acidentes com escorpiões, tanto no nosso Estado como no país. Ele se esconde em frestas, restos de construções, lixo e Campo Grande tem muito disso. Além disso, o principal alimento dos escorpiões são as baratas, que são outra praga urbana”, resume.

Informação para prevenção de casos e fatalidades

Diante deste cenário, há 5 anos a SES (Secretaria Estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul) tem realizado ações de capacitação em todo Estado voltadas para profissionais da área da saúde, focando na prevenção e na lida de casos de escorpionismo. Este trabalho foi intensificado no último ano, o que tem apresentado resultados positivos na estabilização do número de casos.

Ao Jornal O Estado, Sandro Benites ainda destacou que a formação ainda leva informações para os agentes comunitários que fazem o trabalho de prevenção nas residências e também atinge profissionais em formação nos cursos de Medicina, Enfermagem e Farmácia em universidades públicas e privadas.

“Já fomos em inúmeras cidades treinando agentes comunitários para passar as informações de prevenção para a população. O trabalho tem sido feito intensamente há mais de um ano e acredito que a somatória de ações do poder público e da população é capaz de reduzir o número de casos e, principalmente de óbitos, mas estamos longe de acabar de vez com essa praga urbana”, disse.

Duas mortes em menos de dois meses

Sandro reforça que os casos de morte em decorrência do escorpionismo são acompanhados de perto pelo setor, que intensificou o trabalho de prevenção em locais onde a morte de crianças, principais vítimas fatais, ocorrem em espaço de tempo bem próximo, acendendo um alerta na saúde pública.

“Em Ribas do Rio Pardo, por exemplo, tivemos dois óbitos de crianças por veneno de escorpião no intervalo de menos de dois meses. Então, fomos lá e capacitamos os profissionais da saúde e agentes comunitários e, de lá pra cá, não tivemos mais casos de óbitos.

O especialista ainda cita a região do Bolsão, que engloba cidades como Três Lagoas, Cassilândia e Paranaíba, onde outras pessoas morreram, e foi necessário levar a capacitação para médicos, enfermeiros, farmacêuticos e agentes comunitários para a prevenção de novos casos.

Subnotificação

O estudo da USP também cita a subnotificação dos casos, uma vez que muitas pessoas não acionam serviços públicos para recolhimento dos animais quando estes aparecem em casa, apenas indo ao médico nos casos em que vítimas são ferroadas.

Este é o caso de Flávio Rodrigues, de 30 anos, que, apesar de ter tido contato com o animal não acionou o CIATOX para a captura do escorpião. Nas duas ocasiões, não houve a injeção do veneno.

Ele conta que, desde 2021, quando mudou para o bairro Monte Castelo, a aparição de escorpiões em sua casa ficou mais comum, o que levou a família a usar telas nas janelas e fechar os ralos como forma de prevenção.

“Instalamos telas nas janelas e ficamos um bom tempo sem que escorpiões aparecessem em casa. Contudo, no último temporal que teve, uma das telas ficou solta e eles voltaram a aparecer. Por duas vezes, passaram por cima de mim quando eu estava dormindo, mas apenas espantei com cuidado e matei. Como não se sentiram ameaçados, não me atacaram”, relembra.

O operador de atendimento, reforçou que, logo após esses episódios reinstalou que se soltou e fez manutenção nas demais, impedindo a entrada dos insetos na residência.

“Não basta apenas colocar tampas nos ralos, porque os escorpiões também sobem pelas paredes, entram por frestas na janela e acabam ficando em lugares escuros da casa, dentro de sapatos ou armários, inclusive já encontrei um morto dentro do guarda-roupas. Então, é preciso ter muito cuidado mesmo”, concluiu.

Por Ana Clara Santos

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