Publicado em 27/09/2024 às 07:00, Atualizado em 26/09/2024 às 15:25
Casos de internações por lesões autoprovocadas chegou a 237 no ano passado em Mato Grosso do Sul, no Brasil, diariamente são registrados mais de 30 casos
Dados do Ministério da Saúde, disponíveis no Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), apontam que os casos de internações por tentativas de suícidio em Mato Grosso do Sul é o maior em 10 anos, saltando de 65 em 2014, para 237 no ano passado.
O índice foi apresentado no Congresso Brasileiro de Medicina de Emergência, que está acontecendo em Campo Grande, e discute os atendimentos emergênciais de diversos casos. A Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede) também informa que no Brasil, são registradas mais de 30 internações por dia, por lesões autoprovocadas voluntariamente.
A presidente da Abramede, Maria Camila Lunardi, relatou que o aumento de casos de tentativas de autoextermínio tem sido uma realidade não só no Estado, mas em todo o país, por uma série de fatores, que envolvem desde as redes sociais às relações sócio-afetivas.
“As mídias sociais, começam a mudar um pouquinho aquela visão da pessoa, e as pessoas tentam uma vida que parece mais fantástica, diferente do que na verdade elas vivem, e com isso, elas passam a se deprimir mais, e elas passam a não aceitar a situação delas”, comenta Camila Lunardi.
As situações de burnout, principalmente para as pessoas mais jovens e até mesmo em crianças, também são citadas; e a presidente da Abramede expõe que a população idosa está passando por um aumento de casos de internações por lesões autoprovocadas propositalmente, principalmente após o período de pandemia.
“Está tendo um aumento entre a população idosa, que muitas vezes era uma população que a gente não dava muito valor em relação a isso, mas o isolamento social, principalmente depois da pandemia, fez com que essas pessoas não estivessem muitas vezes em contato com outras ou elas não tendo uma vida mais ativa, faz com que elas entrem mais vezes em depressão”, pontua a presidente da Abramede.
ATENDIMENTO
Os casos de internações por tentativas de suícidio passam primeiramente pela equipe de atendimento de emergência, que são os primeiros médicos e enfermeiros que vão atender as pessoas que estão em uma situação de risco de vida. Alguns desses casos, depois precisam ser transferidos para outros serviços, devido ou à gravidade dos ferimentos, ou do quadro psicológico.
No entanto, no geral, essa primeira equipe que atende pessoas que tentaram contra a própria vida não possui médicos psiquiatras em sua composição. O psiquiatra e professor da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Augusto Bittencourt, informa que o problema é ainda maior, já que muitas cidades não possuem psiquiatras e há uma necessidade de investimento na saúde mental em todo o país.
“Se a gente fosse pensar em algumas doenças, um grupo de doenças que precisaria de mais investimento, por conta do impacto negativo que ela traz na nossa sociedade, com certeza as doenças que precisariam de maior investimento seriam as doenças mentais, mas infelizmente o que a gente se depara é com uma grande dificuldade de acesso ao serviço de saúde mental. As pessoas não conseguem serviço de saúde mental”, esclarece o médico.
Augusto Bittencourt relata ainda que o Brasil está indo na contramão do mundo, com um aumento dos casos se suícidio e de tentativas, além de um aumento nos quadros graves de depressão, de resistência ao tratamento e de transtornos por usos de substâncias.
“A gente está vendo que as pessoas estão sofrendo mais, e eu acredito muito que as pessoas estão sofrendo mais porque está tendo uma desconexão muito grande das pessoas com a vida delas, com as pessoas que elas gostam. A gente vive hoje em dia com uma rotina muito grande de demanda de trabalho, de exigência muito grande consigo mesmo, com grandes cobranças por resultados e cada vez mais difícil ter esses resultados”, expõe o psiquiatra.
Além do aumento de tentativas, os casos de suícidio em Mato Grosso do Sul também é alarmante, principalmente no período pós pandemia. Em 2021, segundo dados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), 236 pessoas tiraram a própria vida, e só até a última terça-feira (24), 115 pessoas foram vítimas de suícidio em MS.
Com informações do Correio do Estado