Publicado em 15/06/2025 às 14:31, Atualizado em 15/06/2025 às 13:22

Casos de coqueluche dobram em MS e acende alerta para vacinação de gestantes

Em cinco meses, MS registra 40 casos e um óbito pela doença

Redação,
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Foto: Reprodução

Mato Grosso do Sul já registra o dobro de casos de coqueluche em 2025 em comparação com o ano anterior. Doença que muitas vezes é confundida com virose, mas é altamente contagiosa e pode levar a óbito. A SES (Secretaria de Estado de Saúde) reforça o alerta para a vacinação, especialmente entre gestantes.

Até a Semana Epidemiológica 22 (encerrada em 31 de maio), o estado contabilizou 40 casos confirmados da doença e um óbito de um bebê de apenas um mês de vida, cuja mãe não havia recebido a vacina dTpa durante a gestação. Em 2024, foram 24 casos e nenhuma morte. Atualmente, sete casos seguem em investigação.

A professora Miriam Aguiar, de 45 anos, contou ao jornal O Estado que levou cerca de três meses para se recuperar da doença. Durante esse período, precisou ir ao hospital mais de dez vezes e realizou diversos exames até obter um diagnóstico.

“Eu tive alguns sintomas parecidos com os de gripe, como tosse com catarro, mas era uma tosse fora do comum. Eu vomitava e, em algumas ocasiões, urinei na roupa de tanta força. Fiquei mal de outubro a janeiro, fui 17 vezes ao hospital, fiz tomografia, ressonância, raio-X, exames de Covid e de influenza”.

Miriam revela que ficou com algumas sequelas após contrair a doença. “Fiquei com uma lesão na costela, a bexiga ficou baixa e desenvolvi uma hérnia inguinal de tanto tossir. Até hoje tenho crises de tosse, mais leves, mas eu quase morri de tanto tossir. Até o coração ficou sobrecarregado”.

Segundo a SES, a vacinação é a principal forma de prevenção contra a coqueluche e está disponível gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde). O cenário em Mato Grosso do Sul acompanha a tendência nacional e continental de aumento da doença. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou 7.486 casos de coqueluche em 2024, com 29 mortes. A maioria, cerca de 95%, dos óbitos ocorreu em crianças com menos de 1 ano de idade. Em 82% desses casos, as mães não haviam sido vacinadas durante a gravidez.

O aumento nos registros da doença, segundo o médico pneumologista Ronaldo Queiroz, também pode estar ligado a um comportamento cíclico da bactéria. “A cada dois ou três anos, temos surtos de coqueluche. Isso acontece porque a bactéria pode sofrer mutações e escapar parcialmente da proteção imunológica conferida pela vacina. Por isso, é essencial manter o calendário vacinal em dia e fazer os reforços recomendados”, explica.

Apesar do aumento no número de casos, o pneumologista tranquiliza a população. “Não há motivo para pânico. A maioria dos quadros respiratórios hoje são leves. Mas é preciso estar atento à tosse persistente, procurar atendimento e, principalmente, prevenir com vacinação. É isso que salva vidas”, finaliza.

O que é coqueluche?

O médico pneumologista explica que a coqueluche é muitas vezes confundida com viroses comuns, mas se trata de uma infecção bacteriana grave das vias respiratórias, causada pela Bordetella pertussis. “É uma doença altamente contagiosa e não tem nada a ver com gripe ou resfriado. É causada por bactéria e tem um sintoma clássico: a tosse prolongada, muito intensa, que pode provocar vômito e falta de ar”, detalha.

De acordo com o médico, a transmissão ocorre por contato direto com gotículas eliminadas na fala, tosse ou espirro. E os principais grupos de risco são as crianças de 0 a 2 anos, que ainda têm o sistema imunológico em desenvolvimento, e idosos com comorbidades, como hipertensão, diabetes, doenças pulmonares ou cardíacas.

O especialista explica que a coqueluche tem três fases clínicas. A primeira, a fase catarral, caracterizada por sintomas leves parecidos com os de um resfriado, como coriza, febre baixa, mal-estar e tosse seca; a segunda, fase paroxística, com crises intensas de tosse seca e prolongada, que podem causar vômito, dificuldade para respirar e até cianose (coloração azulada da pele por falta de oxigênio) e a terceira, fase de convalescença: a tosse persiste, mas vai diminuindo gradualmente, o quadro pode durar de duas a seis semanas, e em alguns casos, mais de dois meses.

“O principal sintoma é a tosse chamada de ‘cumprida’, porque vem em crises intensas e pode durar semanas. Às vezes, a pessoa não consegue nem respirar direito durante o episódio. Em bebês, é ainda mais perigosa”, alerta.

Prevenção e tratamento

A vacinação é indicada para crianças (vacina pentavalente e DTP); gestantes (dTpa a partir da 20ª semana de gestação) e profissionais de saúde que atuam em hospitais e unidades de pronto atendimento.

Em Mato Grosso do Sul, a cobertura vacinal é considerada alta: 99,82% para a pentavalente, 99,85% para a DTP e 92,4% para a dTpa adulto. Além da vacinação, a SES investe em capacitação de equipes de vigilância e estratégias para detecção precoce dos casos.

Já o tratamento da coqueluche é feito com antibióticos da classe dos macrolídeos, como azitromicina e claritromicina, além de medicamentos para alívio dos sintomas, boa alimentação e hidratação.

A SES também recomenda a quimioprofilaxia dos contatos de pacientes infectados, com monitoramento por até 42 dias, período de incubação da doença. Além disso, vem realizando capacitações com profissionais da saúde para ampliar a detecção precoce e conter a disseminação da bactéria.

Inez Nazira