O Corpo de Bombeiros de Bataguassu, município de 22 mil habitantes, é hoje um dos mais equipados de Mato Grosso do Sul.
Os equipamentos foram comprados com recursos liberados pela Justiça do Trabalho em um acordo judicial com o frigorífico Marfrig e o Ministério Público do Trabalho em decorrência de um acidente de trabalho. A realidade era completamente diferente há seis anos, quando um vazamento de gás no curtume da cidade matou quatro trabalhadores e deixou 16 feridos.
O tenente Joel Ferreira da Silva é um dos militares que atendeu a ocorrência. Ele conta que no dia do acidente apenas dois bombeiros estavam de serviço e a unidade não possuía estrutura para atendimentos de casos graves. “Ao chegar ao local nós vimos cerca de quarenta a cinquenta funcionários no chão. Aqueles que conseguiram sair retornaram para socorrer os que estavam lá dentro e já tínhamos informação de que tinha óbito. A gente não sabia que produto tinha vazado, mas resolvemos entrar. Havia apenas um equipamento de proteção respiratória. Nesse meio tempo, os bombeiros que moravam na cidade foram chegando em outras viaturas. Eu entrei em contato com eles pelo rádio e solicitei que parte deles fosse para a Santa Casa porque lá tinha muitos pacientes com parada cardiorrespiratória”.
O provedor do hospital, Ulisses Galvan, lembra que a Santa Casa não tinha estrutura para receber os pacientes. “Nós não tínhamos nem oxigênio. Tivemos que procurar nas oficinas mecânicas oxigênio para os pacientes que estavam com problemas respiratórios por causa do vazamento de gás. Ambulância nós só tínhamos uma. As cidades vizinhas tiveram que dar suporte”, lamenta Ulisses Galvan.
Após as mortes, a empresa se comprometeu a pagar R$ 5 milhões em indenização por danos morais coletivos, divididos em cinco parcelas a serem pagas entre 2014 e 2018. O Juiz da Vara do Trabalho de Bataguassu, Antonio Arraes Branco Avelino, destinou parte desse recurso para o Corpo de Bombeiros do município.
A unidade recebeu R$ 500 mil para a aquisição de uma lancha com motor, barco com motor, caminhonete 4x4 e mais de 80 tipos de equipamentos como capacete, macacão, bota, colete, joelheira, cotoveleira, lanterna, nadadeira, cilindro para mergulho, colete salva-vida e para resgate aquático, sonar, prancha naval, mangueira, esguicho, desfibrilador, oxímetro, sinalizador, transceptor móvel, guincho elétrico, maca, circuito de monitoramento interno e aparelhos de musculação para montar uma academia para os militares fazerem exercícios e treinamento.
“São equipamentos de ponta que poucas unidades do Estado possuem. Isso faz com que nós tenhamos um trabalho melhor executado junto à sociedade e mais seguro para os bombeiros. Hoje nós somos uma das unidades mais equipadas, um quartel de referência no Estado”, afirma o comandante do Corpo de Bombeiros de Bataguassu, major Teller Soares Ribeiro.
“Hoje a situação é outra. Todos os militares têm o equipamento de proteção individual, capacete, bota, calça e capa de incêndio, luvas, lanternas, joelheira, cotoveleira. E a roupa de proteção de aproximação nível A que tanto fez falta naquele dia hoje nós temos”, comemora o tenente Ferreira.
Centro de treinamento
A Justiça do Trabalho de Bataguassu está liberando mais R$ 550 mil para a corporação construir salas de aula e uma piscina olímpica para treinamento dos militares. O local também vai sediar o Projeto Bombeiro do Amanhã que tem como objetivo a formação de jovens de 12 a 15 anos, oferecendo cursos técnicos e práticos como noções básicas de combate a incêndio, primeiros socorros, aula de música, hierarquia e disciplina, natação, informática, entre outras atividades.
“Nós estamos construindo o Centro de Treinamento Operacional (CTO) que será um centro de referência para treinamentos operacionais que vai atender não apenas os militares do Corpo de Bombeiros, mas também de outras instituições como a Polícia Militar, Civil, Exército e a população da região. Nós estamos fazendo uma piscina e daremos reforço escolar para as crianças no contraturno da escola com aulas de educação cívica e moral, matemática, língua portuguesa e música”, explica o major Ribeiro.
A obra teve início em maio e deve ficar pronta em setembro. O juiz Antonio Arraes, que acompanha de perto a utilização dos recursos, esclarece que a instituição foi contemplada porque atuou diretamente no socorro às vítimas do acidente no curtume. “O dinheiro vai sendo usado pela instituição e a gente vai destinando paulatinamente em parcelas e a cada parcela destinada a entidade presta conta. Nós submetemos essa prestação de contas ao Ministério Público que também analisa e homologa as despesas. Todas as compras ou prestações de serviço são feitas com três orçamentos”, afirma o magistrado.
O Corpo de Bombeiros de Bataguassu atende, em média, 450 ocorrências por mês e também é responsável pelos atendimentos no distrito de Casa Verde e nas cidades vizinhas de Santa Rita do Pardo, Anaurilândia e Brasilândia. A região é cortada por dois grandes rios, o Paraná e o Pardo.
Com informações do TRT
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