Publicado em 25/11/2016 às 07:09, Atualizado em 24/11/2016 às 23:42
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que Temer usou a Presidência para defender interesses privados.
Deputados e senadores da oposição começaram a defender, após depoimento do ex-ministro Marcelo Calero, um pedido de impeachment do presidente Michel Temer. Eles argumentam que o relato de que Temer teria feito pressão para encontrar uma "saída" para a obra de interesse do ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) indica crime de responsabilidade.
A Folha de S.Paulo revelou nesta quinta-feira (24) que Calero disse à Polícia Federal que Temer o "enquadrou". Na semana passada, Calero pediu demissão após acusar Geddel de "pressioná-lo" para o que o órgão de patrimônio vinculado ao Ministério da Cultura liberasse o projeto imobiliário onde o ministro adquiriu uma unidade.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que Temer usou a Presidência para defender interesses privados. "Absurdo. No nosso entendimento, Temer vai ter que responder processo por crime de responsabilidade para ser julgado pelo Congresso", disse.
Logo após a revelação, o petista se reuniu com a assessoria jurídica do PT e disse que a intenção é protocolar um pedido de impeachment nos próximos dias. "Ele pareceu agir em sociedade com Geddel, usando peso da presidência para interferir num negócio privado, beneficiando empresas."
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também defendeu que a situação é motivo para impeachment. "Se isso não for razão para impeachment, nada mais é. O presidente da República se envolveu diretamente em um negócio ilícito e privado de um ministro seu. Eu vou propor para a oposição que apresente pedido de impeachment do Michel Temer. Isso é crime de responsabilidade na veia", disse.
Randolfe Rodrigues afirmou que a revelação "justifica a atitude de Temer em proteção a Geddel" nos últimos dias. "Agora está claro por qual razão o presidente acha que não há gravidade: porque ele mesmo estava envolvido", afirmou.
A senadora petista Gleisi Hoffmann (PR) disse que se trata de um caso de crime de responsabilidade. "Como um presidente trata de assuntos desse porte? Lamentável. Nunca se ouviu falar isso do presidente Lula ou da Dilma. Espero que os patrocinadores do impeachment da Dilma tenham dignidade e apresentem também o impeachment de Temer", disse Gleisi.
Na Câmara dos Deputados, o deputado Jorge Solla (PT-BA), autor de requerimentos derrotados para convocar Geddel Vieira Lima e convidar Marcelo Calero a prestarem depoimentos, disse que vai acionar a PGR (Procuradoria-Geral da República).
"É um presidente da República pressionando um ministro para atender interesses patrimoniais de outro ministro. É muito grave", afirmou Solla. "Se já era uma coisa complicada, não só ilegal, mas escandalosa a postura de Geddel, isso partindo de um presidente, mesmo sendo golpista, tem que ser rechaçado", disse o deputado.
Pegos de surpresa, integrantes da oposição ao governo na Câmara evitaram comentar a denúncia de Calero contra Temer. "Preciso de mais informação porque o tema é muito delicado", disse Orlando Silva (PC do B-SP), vice-líder da Minoria.