Publicado em 26/04/2020 às 07:30, Atualizado em 25/04/2020 às 21:19

Moro apresenta mais provas contra Bolsonaro e deputada reage

Carla Zambelli mostrou novas mensagens e disse que ex-ministro queria ser indicado ao STF

Redação,
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Divulgação

As acusações do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro estão respaldadas em provas documentais. Troca de mensagens de WhatsApp obtidas pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que o presidente citou reportagem sobre uma investigação envolvendo deputados bolsonaristas como motivo para demitir o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. A mudança no comando do órgão provocou a saída do ministro do governo.

A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), envolvida na polêmica após vir a público mensagens enviadas por ela a Moro - tentando negociar com ele indicação para se tornar ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) -, mostrou novas imagens de conversas dela com o então ministro da Justiça e Segurança Pública, neste sábado (25), trocadas entre eles na quinta-feira (23), quando se ofereceu para intermediar uma negociação com Bolsonaro. Ela estava ao lado deo presidente e demais ministros ontem, quando Bolsonaro fez uma coletiva para expor acusações contra Moro, após ele anunciar sua saída do cargo.

“A gente vê aqui que eu estou desprovida de má intenção e eu gostaria muito de saber se ele já estava fazendo prints [da tela] porque essa frase é muito calculada e parece que foi friamente colocada ali”, disse a parlamentar sobre a resposta do ministro: “Prezada, não estou a venda”.

“Não é isso que se responde quando uma pessoa diz que te ajuda a ir ao STF, quando diz ‘nós queremos o senhor no STF’”, continuou. “A resposta dele não combina com nada do que a gente está conversando. Parece que foi tudo muito mal intencionado da parte dele, querendo achar algo para provar depois.”

Em seu pronunciamento para rebater as acusações do ministro, Bolsonaro afirmou que o então ministro disse que aceitaria uma troca no comando da PF desde que fosse indicado para a Corte.

Zambelli disse também não ser novidade a vontade do ex-ministro de ser indicado para o Supremo. "Tanto é que a imprensa já falou sobre isso, no Twitter já teve Trending Topic falando ‘Moro no STF’”, disse.

“Ou seja, não é algo que eu trouxe do nada. É uma conversa que se tem em Brasília desde que o ministro entrou [no governo]. Ontem ele deixou claro que o presidente não prometeu essa vaga para ele, mas é claro, todo mundo esperava que o ministro Moro, que foi o juiz da Lava Jato, em algum momento fosse pro Supremo”, completou.

Ela disse ainda ter se sentido traída quando Moro revelou parte do diálogo dos dois por meio do WhatsApp, já que se considerava um “cão de guarda” na defesa de Moro em ataques sofridos pelo ex-ministro no Congresso.

“Quando a gente fala de uma vazamento desse, do presidente da república envolvendo segurança nacional – e ele [Moro] tem noção disso – e de outro vazamento que pode ser insignificante para ele, mas que mexeu coma vida de uma pessoa que viveu durante seis anos, de 2014 a 2020, para poder defender esse homem”, afirmou.

PROVAS

Já nas provas apresentadas por Moro contra Bolsonaro o presidente envia - por mensagem - a Moro o link da notícia sobre a apuração envolvendo os parlamentares e, em seguida, comenta: "Mais um motivo para a troca". Na sequência, o então ministro argumenta que o inquérito citado é de responsabilidade do ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e não da Polícia Federal.

A mensagem seria uma prova de que Bolsonaro queria trocar o diretor-geral da PF para interferir em inquéritos sigilosos contra seus aliados.

Interlocutores do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública relataram que Moro e Bolsonaro tiveram inúmeras conversas, pessoais e de governo, especialmente pelo WhatsApp, canal usado pelo presidente para dar ordens aos subordinados.

Essas fontes observaram que Moro tem uma experiência de 22 anos na função de juiz criminal e sabe, como poucos, que não se acusa alguém sem provas concretas. Pelo menos sete crimes que Bolsonaro teria cometido foram apontados pelo ex-ministro no pronunciamento que fez na sexta-feira no final da manhã.

Moro surpreendeu até sua equipe ao revelar com detalhes que o presidente manifestou interesse em interferir na autonomia da Polícia Federal. Ordens que ele nunca repassou. Bolsonaro nunca teve uma conversa a sós com o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. No discurso de despedida, Moro disse que não aceitou a interferência política na PF.

Na avaliação de experientes investigadores que acompanham o ex-ministro, a acusação mais grave apontada por Moro foi o interesse de Bolsonaro em controlar a PF para ter acesso a investigações sigilosas - muitas das quais comandadas pelo Supremo.

"O presidente também me informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no STF e que a troca também seria oportuna na Polícia Federal por esse motivo", disse o ministro.

MUNIÇÃO

É munição nova à disposição dos opositores do governo. O Palácio do Planalto já enfrenta inquérito no Supremo na área das fake news. As investigações conduzidas pela PF sobre o caso já chegaram aos empresários que teriam financiado ataques nas redes sociais a opositores de Bolsonaro.

A mira dos investigadores é o grupo comandado pelo "gabinete do ódio", liderado pelo vereador Carlos Bolsonaro (RJ), filho do presidente da República.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), irmão de Carlos, foi ao Supremo para tentar impedir a continuidade da CPI das Fake News, que também mira os financiadores da rede que destrói reputações de qualquer um que critique o presidente. Os próprios ministros do Supremo costumam ser alvo dos ataques.

A PF não investiga o caso envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (RJ), filho zero um do presidente, e o seu ex-assessor Fabrício Queiroz. O parlamentar é suspeito de desviar dinheiro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Assessores de Flávio repassavam parte do salário para Queiroz. A primeira-dama Michele Bolsonaro chegou a receber valores do ex-assessor. Esse caso é conduzido pelo Ministério Público Estadual. (Com informações CNN)