Publicado em 14/02/2022 às 14:00, Atualizado em 14/02/2022 às 12:33
PT e PSB negociam aliança nacional que deve sacramentar chapa Lula/Alckmin, o que seria uma pá de cal para o PSD local
Um insólito palanque ocupado por nomes da família Trad e outros tradicionais petistas do Estado e o líder maior da agremiação da estrela vermelha, Luiz Inácio Lula da Silva.
Cena que no mínimo despertaria muita curiosidade nos mais apegados às ideologias e conjunturas partidárias e que chegou a ser desenhada por alguns, mas que já parece morta no ninho, ficando apenas no imaginário popular.
Anunciado pelo próprio prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), em programa de rádio como seu vice nas eleições de outubro, o presidente da Cassems, Ricardo Ayache, foi uma escolha tida como “contestável” e até precipitada para alguns nomes importantes da política.
Entre eles está o presidente regional do PSD e irmão mais velho do trio principal do clã dos Trad, Nelsinho, senador em primeiro mandato e ex-prefeito da Capital – e que em 2014 concorreu, sem sucesso, à cadeira de governador.
“Quanto aos desdobramentos de eventuais alianças, ainda está prematuro afirmar qualquer situação”, revelou o parlamentar ao Correio do Estado, ao ser questionado sobre a avaliação que faz sobre o cenário desenhado até aqui.
Nelsinho, como já indicado outrora, flertou com o presidente Jair Bolsonaro (PL) inúmeras vezes enquanto presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, inclusive fazendo parte da comitiva presidencial em viagem para os Estados Unidos.
Foi logo depois dessa viagem que ele se tornou um dos primeiros políticos do Brasil a se infectar com a Covid-19.
“Estou na condição de líder do partido no Senado e membro da Executiva nacional defendendo uma candidatura própria do PSD”, completa Nelsinho, demonstrando contrariedade à possibilidade de apoiar Lula em outubro.
Ayache é líder do PSB sul-mato-grossense, sigla que está em negociação avançada com o ex-tucano Geraldo Alckmin para abrigá-lo como candidato a vice de Lula nas urnas.
Além disso, os dois partidos formariam uma federação, nova modalidade de alianças prevista na legislação eleitoral e que vai possibilitar que as legendas atuem conjuntamente durante quatro anos.
Assim, uma aliança entre PSB e PT colocaria em 2022 Lula no palanque de Marquinhos, caso Ayache seja mesmo o vice do prefeito campo-grandense – fato pouco provável, em virtude de algumas condicionantes já expostas pelos próprios envolvidos.
O próprio Marquinhos já assumiu em outra entrevista que a escolha de Ayache pode “melar” com a consolidação de tal federação. Ao Correio do Estado, ele afirmou apenas que conjunturas políticas devem ser analisadas pelos dirigentes do PSD, que não é o caso dele atualmente.
“Fosse só o nome e o trabalho do doutor Ayache [que é médico cardiologista] penso que a escolha feita pelo pré-candidato Marquinhos Trad foi boa”, resumiu Nelsinho, reforçando ser presidente do PSD e, nas entrelinhas, deixando a entender que não apenas o nome de Ayache, mas outras conjunturas devem ser levadas em consideração.
spinner-noticia
Marquinhos recolocou Ayache, que iniciou a carreira no PT, novamente nos holofotes da política - Bruno Henrique
NÃO SOU, NÃO
Outra situação que clareou o panorama político e mostrou que Lula ao lado dos Trad em 2022 é uma possibilidade remota é que, ao ser anunciado por Marquinhos, o próprio Ricardo Ayache se manifestou em nota no Facebook afirmando que ainda não havia nada fechado sobre a chapa.
Ali, o constrangimento estava lançado na relação entre ambos.
“Recebi, sim, o convite do prefeito Marquinhos Trad, pré-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul, o que me honra muito, assim como o de outros pré-candidatos, reflexo da necessidade de buscarmos soluções para a saúde pública, que é um enorme anseio da população”, diz trecho da nota, que segue com mais conteúdo.
“Nesse momento de definições e alinhamentos políticos, é natural que surjam convites aos que se colocam à disposição do debate e da construção de um projeto de sociedade, que é o que sempre fiz”, opinou Ayache, sem dizer nem sim nem não para o convite feito pelo prefeito – que, conforme anunciado pelo próprio, abandona o cargo no dia 2 de abril.
Apesar de ainda estar distante dessas negociações, Zeca do PT acompanha toda a situação com atenção, afinal, ele, por ora, segue sendo o grande palanque de Lula em MS, saindo da disputa pelo Executivo apenas se for necessário para abrigar outras siglas – uma das cogitadas na gama de apoio é justamente o PSD.
Conteúdo - Correio do Estado