Publicado em 28/04/2012 às 09:00, Atualizado em 27/07/2016 às 11:24

Entre pioneiras na implantação das cotas, UEMS comemora decisão do STF

Nova Notícias - Todo mundo lê

Redação, Assessoria

Nesta quinta-feira (26) o Brasil inteiro assistiu ao julgamento do Supremo Tribunal Federal que confirmou a constitucionalidade do sistema cotas para ingresso de candidatos em vestibular. A decisão unânime. A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), que aprovou em 2003 o sistema de cotas em seus vestibulares comemorou a decisão. O pioneirismo da UEMS justifica-se por ser a primeira Universidade brasileira a oficializar o ingresso de indígenas a partir do sistema de cotas e uma das primeiras a trabalhar com as cotas para negros.

 

O reitor da UEMS, Fábio Edir, lembrou que desde 2007 quando a Universidade formou sua primeira que turma integrada por alunos cotistas, a UEMS já formou um total de 549 alunos, entre negros e indígenas. Fábio destacou ainda a qualidade da formação desses alunos. “Muitos deles hoje são mestres e profissionais destacados no mercado profissional”, disse.

 

“Nós sempre tivemos a marca da inclusão em nossa identidade institucional, é uma vocação e uma missão que vamos sempre buscar cumprir com empenho. Nos orgulha saber que a UEMS tem democratizado, na prática, o acesso ao ensino superior inclusive de grupos que, devido a inúmeros fatores socioculturais que nós conhecemos, dificilmente estariam na Universidade se não fossem as cotas”, completou o reitor da UEMS, Fábio Edir.

 

Neemias Reginaldo Vitorino é um exemplo do sucesso da política de ação afirmativa da UEMS. Indígena da etnia Terena, o jovem ingressou este ano no curso de Ciência da Computação e, entusiasmado nessa nova fase sua vida já faz planos de se tornar um doutor e levar o conhecimento que construir em sua formação para aldeia. “Na aldeia nós temos muita dificuldade de acesso à internet e às tecnologias e com o que vou aprender aqui eu pretende ajudar a resolver esse problema”, diz Neemias. Sonhador quanto ao futuro, Neemias é realista sobre o presente. Para ele as diferenças sociais e de condições de acesso a uma formação adequada torna mais difícil o ingresso do indígena no ensino superior e afirma: “Com as cotas, a UEMS está abrindo as portas do ensino superior para as comunidades indígenas”.

 

Coordenadora do Projeto Rede de Saberes que promove a permanência do acadêmico indígena na Universidade, a professora Beatriz Landa classificou como “histórica” a decisão do STF. “Isso acaba com o argumento de críticos desse sistema que questionavam a constitucionalidade das cotas. O Brasil ainda é um país com muitas desigualdades e, sem esse tipo de ação, dificilmente os alunos provenientes de segmentos sociais mais vulneráveis economicamente teriam as mesmas condições de acesso ao ensino superior pública”, diz Beatriz.

 

Para o presidente do STF, Carlos Ayres Brito, os erros de uma geração podem ser revistos pela geração seguinte e é isto que está sendo feito, referindo-se às diferentes formas de preconceitos, especialmente as étnicas e raciais. Já o ministro Luiz Fux acredita que não se trata de discriminação reservar algumas vagas para determinado grupo de pessoas. "É uma classificação racial benigna, que não se compara com a discriminação, pois visa fins sociais louváveis", disse.

 

Uma das que, desde a implantação das cotas na UEMS, sempre pesquisou e militou pelas questões raciais, a professora Maria José de Jesus Alves Cordeiro vê a decisão do STF como uma conquista e uma resposta aos críticos que questionavam a constitucionalização das cotas. Para Maria José a vitória no STF, todavia, não tira da Universidade a responsabilidade de aperfeiçoar o sistema de cotas, inclusive traçando diagnósticos institucionais sobre como tem acontecido o ingresso e a permanência desses alunos no ensino superior.