A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) disse em interrogatório que sacou arma para um homem negro, em outubro de 2022, após ouvir um tiro e ver um "volume na cintura" do rapaz. Ela responde a processo no STF (Supremo Tribunal Federal), por porte ilegal de arma.
No interrogatório, Zambelli afirma que estava com um amigo policial, que estava à paisana, e que foi alvo de ofensas do jornalista Luan Araújo. Na confusão, ela disse ter ouvido um barulho de tiro e de ter visto o amigo PM quase caído no chão.
"Nesse momento eu me dei conta do tiro e de que Valdeci [Silva de Lima Dias, que é agente da Polícia Militar] estava caindo. Então, na hora eu liguei uma coisa com a outra", disse Zambelli, que teve "certeza absoluta que era o Luan que tinha dado um tiro".
"Até porque o Luan ele tinha um volume, mas outro rapaz também tinha um volume na cintura, o outro rapaz não conseguia identificar, mas o Luan principalmente tinha uma um volume bem grande na cintura", afirma a deputada.
Em vez de Luan, quem disparou com uma arma foi o amigo PM de Carla Zambelli, Valdecir. À época, o advogado da parlamentar, Daniel Bialski, o disparo foi acidental quando o PM cai no chão. "Temos filmagem disso", disse ao blog da Daniela Lima.
Ao g1, a advogada Dora Cavalcanti, que representa Luan, afirmou que "não existe qualquer justificativa para tamanha violência cometida pela parlamentar". "Uma atitude inconsequente que colocou não apenas a vida do Luan em risco, mas também de todas as pessoas que estavam próximas, nas ruas e no bar onde ele buscou abrigo."
Zambelli foi gravada apontando a arma para jornalista, apoiador do presidente Lula, em uma rua dos Jardins, em São Paulo. O caso aconteceu na véspera do 2º turno da eleição presidencial de 2022, vencida por Lula (PT) sobre Bolsonaro (PL).
Parte dos apoiadores próximos de Bolsonaro creditam a derrota em parte pela ação de Zambelli, que caiu de modo negativo na reta final da campanha.
Deputada acusa Janones de vazar telefone
No interrogatório, a deputada afirma ter recebido centenas de ligações na noite anterior à discussão com apoiador de Lula em SP às vésperas do 2º turno de 2022. Segundo ela, as ameaças aconteceram também por mensagens no Whatsapp.
"Depois minha equipe veio a descobrir que [o vazamento] veio de um perfil do Anonymus, que teria colocado isso na rede social. Mas várias mensagens também que me escreviam, e isso está nos autos, falavam assim: 'o [André] Janones' me passou seu telefone'", disse a deputada.
Janones afirmou que nunca teve o contato de Zambelli e que estava acompanhado de uma equipe de TV nos dias que antecederam o caso.
"Não consigo entender como ela, não satisfeita em correr atrás de alguém com uma arma, ainda tem a audácia de mentir em um depoimento, cometendo assim um novo crime", disse o parlamentar.
Trauma ao ouvir 'te amo, espanhola'
Na sequência do interrogatório, a bolsonarista detalhou que naquele dia estava em um restaurante com o filho e o amigo PM e que foi ofendida pelo petista quando deixava o local. Em certo momento, ela conta, o homem fez gestos com mãos no peito e disse "te amo, espanhola".
Zambelli abre um adendo para explicar o termo. Segundo ela, a referência "espanhola" vem da ex-deputada federal Joice Hasselmann após as duas romperem a amizade e faz referência a prostituição.
"Ela disse que em uma conversa entre ela e Bolsonaro, eles falaram que eu era prostituta na Espanha porque meu filho não tinha... eu não sabia quem que era o pai do meu filho. E aquilo ali me trouxe muita tristeza, porque o João tem trauma de não saber quem é o pai dele", disse a deputada, chorando.
Questionado pelo g1 sobre o interrogatório, o advogado de Zambelli afirmou que não pode comentar as provas colhidas, pois o processo está em segredo de Justiça. Afirmou, entretanto, que sua cliente "não cometeu qualquer infração" e que acredita em sua inocência.
Com informações do g1
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