Publicado em 06/06/2021 às 12:00, Atualizado em 06/06/2021 às 11:46
Superioridade física por causa de hormônio masculino é a principal justificativa
O deputado federal Loester Trutis, do PSL-MS, quer banir jogadoras transexuais de disputar competições femininas no Brasil.
Em 6 de maio deste ano, o parlamentar apresentou o PL 1728, que determina que o sexo biológico será o único critério definidor do gênero de um atleta, em competições esportivas em todo o território nacional.
A proposta é polêmica e remete ao caso da jogadora de vôlei, Tifanny Abreu. Ela nasceu homem, mas se identificou como mulher e por isso, até o momento, joga em times femininos. A atleta transexual é um dos maiores destaques da principal competição de vôlei do País: a Superliga.
A excelente performance de Tifanny no time feminino despertou a discussão se, por ter nascido homem, ainda carrega vantagens em relação às atletas cis, como força física e muscular maiores. Mesmo tendo se submetido a diversos tratamentos hormonais, a jogadora ainda é questionada sobre as vantagens de seu sexo biológico em relação às atletas cisgênero (aqueles que se identificam com o sexo biológico).
OPINIÕES
Em janeiro de 2018, o médico Paulo Zogaib, que, entre outras atuações, era professor de medicina esportiva da Unifesp, opinou sobre o caso da atleta, que obtia média impressionante de pontos na Superliga.
Zogaib destacou um detalhe no caso de Tifanny, que faz diferença, segundo ele. É o fato dela ter feito cirurgia já com 30 anos.
‘’Então, ela passou boa parte da vida com uma produção hormonal muito maior do que uma produção hormonal feminina. Isso acaba influenciando no tamanho dos órgãos, coração, pulmões, a parte óssea, ou seja, as alavancas do aparelho locomotor. Então, isso cria diferenças em relação a outras atletas... ‘’, avaliou o profissional.
O médico destaca que a questão da atleta não é pura e simplesmente o controle da testosterona (hormônio masculino) na circulação, mas o fato dela ter passado 30 anos desenvolvendo o corpo de uma forma diferente de uma mulher.
No entanto, o especialista pondera que, ao fazer a cirurgia e a terapia hormonal, a concentração de testosterona será reduzida e isso vai diminuir o poder anabólico.
‘’mas o fato é que ela já teve essa vantagem durante estes 30 anos. O coração vai continuar do mesmo tamanho, o pulmão também, os músculos, e assim por diante’’, observou Zogaib.
CONSENSO
O UOL, também em 2018, viu consenso na opinião de especialistas que a participação de atletas trans em times femininos é válida, desde que a pessoa tenha feito tratamento hormonal antes da puberdade masculina. Sendo assim, a princípio, a legislação de Trutis, se aprovada, poderia ser injusta para as mulheres trans.
A doutora Joanna Harper, professora no Providence Portland Medical Center, nos Estados Unidos refletiu sobre esse assunto:
"Toda mulher trans que nunca experimentou a puberdade masculina deve ser autorizada a competir esportivamente. À medida que mais e mais pessoas trans são poupadas de passar pela puberdade haverá cada vez menos atletas trans que se transpõem depois de se tornarem atletas de alto-rendimento", argumenta a profissional.
LGBT
A ativista dos direitos LGBT, Cris Stefany, que atua em Campo Grande, foi questionada sobre o assunto. Ela publicou uma reflexão em forma de opinião sobre a proposta do deputado Trutis.
‘’Mulheres são mulheres e pronto... Algumas com vaginas e outras com pênis, umas com trompas e outras não, umas com úteros e outras não, algumas estéreis e outras não’’, respondeu.
Ao contrapor a ideia que mulheres trans têm vantagens sobre as cis, a ativista escreveu:
‘’Isso cai por terra no reality show "No Limite"... Ariadna [mulher trans e ex-BBB], foi a última de uma prova de resistência e força!’’, refletiu Stefany.
Segundo o site da Câmara dos Deputados, o PL de Tio Trutis aguarda despacho do presidente da Casa, deputado Arthur Lira.
Curiosidade
Tifanny, quando ainda se identificava como homem, ou pelo menos tinha esteriótipo masculino, atuou no vôlei em Campo Grande.