Publicado em 12/05/2017 às 11:32, Atualizado em 12/05/2017 às 02:19
Ex-senador teria exigido depósito por offsore na Suíça.
O marqueteiro João Santana e sua mulher, a empresária Mônica Moura, contaram em delação premiada que o senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS, ex-PT) exigiu que parte dos pagamentos pela sua campanha ao Senado, em 2002, fosse feita via caixa 2, por meio de depósito no exterior.
Conforme anexos da colaboração do casal à Lava Jato, a negociação com o marqueteiro foi feita numa reunião dentro da sauna da casa do ex-congressista, em Campo Grande.
Na época, ele era secretário estadual de Infraestrutura no Governo de José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, em Mato Grosso do Sul. “João Santana foi convidado, de forma inusitada, a conversar dentro da sauna, pois claramente Delcídio visava a preservar informações quanto a valores e forma de pagamento”, diz trecho do documento.
O suposto caixa 2 não consta do acordo de delação firmado por Delcídio com a Lava Jato. Procurado pelo Estadão, o advogado do ex-senador, Antônio Figueiredo Basto, disse que seu cliente não reconhece os fatos relatados pelo casal como verdadeiros. Por esse motivo, segundo ele, o episódio não foi tratado na colaboração. “Conversa em sauna? Se ele tivesse cautela para conversar com as pessoas, não teria acontecido o que aconteceu”, comentou.
Delcídio foi preso no fim de 2005, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) após ter sido gravado numa conversa com Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, e outras pessoas em suposta tentativa de atrapalhar investigações da Lava Jato. Ele foi solto depois de confessar ilícitos aos investigadores.
Santana e Mônica contaram que o marketing da campanha de Delcídio foi orçado em R$ 4 milhões. Metade teria sido paga “por dentro” e a outra metade, por meio de depósito feito por uma offshore na conta Shellbill, de Santana, na Suíça.
ANEXO
O anexo de delação premiada é o documento em que o delator informa ao MPF o que irá contar no processo de delação.
A colaboração de João Santana, assim como a de sua esposa, Mônica Moura e de um funcionário do casal, André Santana, foi assinada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Isso significa que, a partir de agora, o que foi dito à Lava Jato pode ser usado para embasar abertura de inquéritos ou reforçar investigações já em curso.
Os anexos da delação do casal se tornaram públicos ontem, após o ministro Luiz Edson Fachin derrubar o sigilo da delação. João Santana ficava responsável pelo contato com os principais líderes políticos, enquanto Mônica Moura, empresária, tratava de negociações financeiras.
Fonte - Correio do Estado