Publicado em 22/07/2024 às 10:00, Atualizado em 22/07/2024 às 11:47

Bolsonaristas usam desistência de Biden para atacar Lula; ministros do governo enaltecem decisão

"Biden EUA está fora! Quando o Biden brasileiro vai sair?", postou o senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ), na sua conta no X

Redação,

Para o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que foi ministro-chefe da Casa Civil do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a desistência de Biden "é a vitória da verdade sobre as narrativas falsas e manipuladoras da esquerda".

"Não foi a renúncia a uma candidatura. Foi a vitória finalmente daqueles que ficaram amordaçados por uma narrativa de que Trump era o mal absoluto e Biden o bem incontestável", escreveu o senador.

Por outro lado, ministros do governo Lula avaliaram a decisão como um gesto de grandeza política.

SIMONE TEBET

"Política não é personalismo, mas, sim, serviço a favor das ideias e valores. Biden dá demonstração enorme de grandeza política ao compreender que os democratas precisam de um fato novo para enfrentar o conservadorismo extremista que ameaça o mundo", postou a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB).

O chefe dos Transportes, Renan Filho (MDB), avaliou que a decisão do presidente americano demonstra desprendimento em um momento crítico e, por isso, "é gesto de grandeza".

Já o titular do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), destacou o que para ele é uma "grande decisão para derrotar a extrema direita norte americana".

Integrantes do Palácio do Planalto, por sua vez, comemoraram a desistência de Biden. A avaliação de pessoas próximas do presidente Lula é que a reeleição do atual presidente era improvável e que o cenário havia ficado ainda pior após as gafes recentes e o atentado contra Donald Trump.

OTIMISMO DO GOVERNO LULA

Agora, porém, dois assessores do presidente ouvidos sob reserva pela Folha passaram a demonstrar mais otimismo. A derrota trumpista é considerada importante para o projeto geopolítico internacional de Lula.

A vitória dos Republicanos tornou-se ainda mais preocupante para pessoas do governo depois de Lula declarar publicamente que torcia por Biden na disputa. Há um temor, principalmente na equipe econômica, de que eventuais conflitos com Trump por questões ideológicas minem a relação comercial dos dois países.

Um membro da equipe econômica lembra da diferença da postura do petista em relação a Biden, por exemplo, na guerra entre Israel e Hamas e acredita que em um eventual governo Trump a reação dos EUA poderia ser diferente.

De acordo com esse integrante do governo, em um cenário pessimista, uma simples ameaça de imposição de sanção por Trump ao Brasil seria suficiente para derrubar a bolsa de valores, elevar o dólar e causar uma crise no país.

No entanto, esses assessores também ponderam que em suas duas primeiras gestões Lula manteve relação pessoal mais próxima com o republicano George W. Bush do que com o democrata Barack Obama. Além disso, afirmam que, caso Trump vença, Lula adotará postura pragmática, a exemplo do que tem feito em relação ao presidente da Argentina, Javier Milei.

No fim de junho, Lula afirmou que não gosta de opinar nas eleições americanas, mas que era simpático a Biden.

"O Biden é a certeza de que os EUA vão continuar respeitando a democracia. O Trump já deu aquela demonstração quando ele invadiu o Capitólio. Fez lá o que se tentou fazer aqui no Brasil no 8 de janeiro. Como democrata estou torcendo para que o Biden saia vitorioso. Tenho uma relação sólida com ele e pretendo manter", afirmou Lula em entrevista à rádio Itatiaia.

O presidente afirmou que o resultado das eleições americanas não devem alterar o clima político no país, mas fez críticas a Donald Trump.

"Se Trump ganhar, a gente não sabe o que ele vai fazer. Sinceramente, a gente não tem noção. Ele chegou a dizer que se algum país quiser escapar do dólar como moeda de referência ele vai punir o país. Ele não é presidente do mundo. Essas pessoas que fazem muita bravata não são boas para a política".

Em fevereiro, Lula já tinha declarado sua afinidade com a candidatura democrata para as eleições americanas.

"Eu espero que o Biden ganhe as eleições. Eu espero que o povo possa votar em alguém que tenha mais afinidade. Eu tenho visto o Biden em porta de fábrica. O discurso do Biden desde o começo até agora é em defesa do mundo do trabalho", afirmou em entrevista à época.

DESISTÊNCIA

Biden tem 81 anos e desistiu da tentativa de se reeleger a pouco mais de três meses da eleição americana, marcada para o início de novembro. Ele não resistiu à intensa pressão interna do Partido Democrata pela sua saída, iniciada após o desastroso desempenho no debate realizado no fim de junho.

Ele até tentou assegurar apoiadores e eleitores de que tinha condições de derrotar Donald Trump, mas não conseguiu.

"Acredito que é o melhor para o meu partido e para o meu país que eu desista e me concentre apenas em completar meus deveres como presidente pelo restante do meu mandato", afirmou o democrata em cara pública comunicando a decisão.

O presidente americano endossou a vice-presidente Kamala Harris para o pleito contra o ex-presidente republicano Donald Trump.

Agora, o partido democrata começa uma corrida para oficializar um substituto, que precisa ser aprovado durante a Convenção Nacional Democrata, marcada para os dias 19 e 22 de agosto em Chicago.

Esse evento reúne todos os delegados eleitos durante as primárias, que são votações indiretas para presidente que aconteceram em cada um dos 50 estados dos EUA e envolveram apenas candidatos do partido democrata.

(INFORMAÇÕES DA FOLHAPRESS)