Um dia após sofrer uma derrota no Senado, a presidente Dilma Rousseff reuniu-se nesta quinta-feira com o vice-presidente Michel Temer e mostrou disposição para reverter a enorme insatisfação que contaminou todos os partidos de sua coalizão e desobstruir os canais de diálogo com os aliados.
Na noite de quarta-feira (7), o Senado rejeitou por 36 votos a 31 a recondução de Bernardo Figueiredo para a direção-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O ex-dirigente é técnico de máxima confiança de Dilma. O Planalto considerou que o PMDB foi o principal artífice da derrota, já que teria votos suficientes, ao lado do PT, para aprovar a indicação.
Segundo relato de uma fonte do governo, durante a conversa com Temer a presidente lamentou, mas não demonstrou irritação com a decisão do Senado. Depois da encontro, porém, ela pediu que o porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, dissesse oficialmente que lamentava o resultado da votação. O governo ainda tenta entender a derrota e apontar culpados.
A ideia de que o PMDB teve papel vital na derrota imposta à Dilma foi relatada por uma fonte palaciana sob condição de anonimato. Por isso, também, Dilma reuniu-se com Temer. Mas há também a compreensão, segundo outras fontes do Planalto, de que outros partidos aliados, até mesmo do PT, podem ter contribuído para a não aprovação do nome de Figueiredo.
A fonte do governo, que pediu para não ter seu nome revelado, contou à Reuters que no encontro de aproximadamente uma hora os dois chegaram a um consenso de que a votação de quarta-feira no Senado foi fruto de uma insatisfação generalizada pela falta de canais para diálogo entre o Congresso e o Executivo.
Dilma e Temer também concluíram, segundo a fonte, que é fundamental uma maior abertura aos partidos aliados para que eles possam participar das decisões do governo. Essa é uma das críticas centrais dos aliados, eles reclamam que só são convocados para dar votos a favor das matérias enviadas pelo Executivo ao Congresso e nunca são chamados para opinar sobre programas ou projetos.
Dilma não marcou data para se reunir com os aliados, nem o formato desses encontros, mas na reunião do Conselho Político da Coalizão (que reúne líderes e presidentes de partidos aliados) no mês passado disse que voltaria a chamar as lideranças do Congresso para uma rodada de conversas.
A previsão inicial era que essas conversas começassem na segunda quinzena de março. Mas uma das fontes do Planalto afirmou que a presidente estuda antecipar encontros com aliados, mas ainda não definiu se irá repetir o que fez no ano passado - quando recebeu as bancadas no Senado.
Na quarta, logo após a votação, senadores e deputados consideraram a rejeição a Figueiredo como uma mensagem clara e direta para Dilma, já que o indicado foi seu assessor quando ela era ministra da Casa Civil no governo Lula.
Figueiredo foi apontado por Dilma para desenvolver o projeto do trem-bala entre Campinas e Rio de Janeiro. "Foi para atingir e avisar a presidente", disse após a votação um líder aliado sob condição de anonimato.
Emendas
Dilma e Temer, segundo a fonte do governo, não chegaram a falar sobre temas específicos como liberação de emendas ou a votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados, que tem provocado aflição na área política do governo.
Mas há um diagnóstico, segundo a fonte, de que o governo precisa cumprir um acordo feito com os líderes no ano passado para empenhar entre 30 e 40 por cento das emendas individuais dos parlamentares.
Sem cumprir isso no orçamento de 2011, o mais provável é que a compensação seja feita com a liberação de restos a pagar de emendas de outros anos ou mesmo empenhando emendas do orçamento vigente.
Pouco antes da rejeição a Figueiredo, a presidente discutia com outros ministros esse tema no Palácio do Alvorada, mas interrompeu as conversas ao saber da decisão no Senado para evitar que fosse feita uma ligação direta entre a reunião e a derrota sofrida.
No Palácio do Planalto, a avaliação é que se houver anúncio de liberação de emendas imediatamente os aliados podem fazer a leitura de que impor derrotas à presidente no Congresso serve como arma para pressioná-la.
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