Publicado em 19/08/2022 às 12:01, Atualizado em 19/08/2022 às 11:35
Chefe disse para vítima 'esquecer, que era bobagem' e que conduta é 'normal' em ambiente de trabalho
Uma professora do IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) procurou a delegacia de atendimento à mulher para denunciar caso de assédio sexual de colega de trabalho. A professora em seu relato disse ter procurado a sua superiora hierárquica para relatar os fatos e teve como resposta para ‘esquecer o episódio, que era bobagem’. O caso foi registrado na última terça-feira (16) como importunação sexual e ameaça. O fato aconteceu em 2018.
Tudo começou quando a professora, que ocupava um cargo de confiança de diretora-executiva do instituto, junto do colega que, também ocupava um cargo de confiança na época dos fatos, foram vistoriar uma obra do IFMS.
Em seu relato, ela fala que ao ser chamada para fazer a vistoria na obra disse que solicitaria um veículo oficial para poderem ir até o local, mas o colega se recusou dizendo que poderiam ir em seu carro particular, o que foi recusado pela professora. Ela alegou para ele que havia carros disponíveis no instituto para fazer este tipo de serviço.
O colega, então, desistiu. Mas, outras duas vezes a chamou novamente, sendo que na última tentativa, ele teria dito a ela que, se não confiava nele, levaria o assunto até o reitor. Nesse momento, a professora aceitou ir até à obra no carro particular do autor.
Durante o trajeto, o homem começou a passar as mãos na perna da professora, que em um primeiro momento ficou em choque, sem reação. Mas, depois afastou as mãos dele o repreendendo. Ele ainda teria segurado a sua mão dizendo: “fica calma, você precisa de alguém para te proteger”.
Em resposta, a professora teria dito ao colega para ele parar: “Não é certo o que você está fazendo, você é casado. Não quero”. Mas, o autor continuou a insistir dizendo que a vítima era sozinha, e que poderia cuidar dela. Quando voltaram para o instituto, a professora procurou a sua chefe, mas a mulher orientou a vítima a esquecer os fatos.
A chefe ainda teria dito ser normal esse tipo de conduta em um ambiente de trabalho com homens, e que era para a professora levar na esportiva. Ainda segundo a professora, ela foi orientada a não comentar os fatos com colegas para não atrapalhar as eleições para reitor que estavam prestes a ocorrer.
Os assédios pioraram
Em uma das ocasiões, a professora relata que estava pegando café, e o autor se aproximou por trás encostando nela, pegando em seu cabelo e dizendo: “você está muito cheirosa, que mulher gostosa”. Ela, então, o empurrou dizendo que o colega era inconsequente e louco, momento em que ele respondeu: “você precisa ter alguém te desejando”.
A professora ainda relata que no dia do aniversário do colega foi cumprimentá-lo, e o autor a agarrou chegando a levantá-la do chão. A cena ocorreu na frente de outros colegas de trabalho, deixando a vítima envergonhada.
Segundo a professora, os assédios continuaram por vários meses. Após um tempo, o colega chegou a dizer para a professora para ela não querer ser seu inimigo, já que ele ‘aniquila, transforma em pó os seus desafetos’. Ele ainda disse que teria muitos amigos, investigadores particulares e estava acostumado a lidar com situações.
A professora procurou novamente a sua chefe para relatar os fatos, porém mais uma vez teve como resposta: “não leva em consideração o que ele fala, isso é bobagem”. A vítima ainda teria tentado marcar reuniões com o reitor por três vezes.
Mas, em uma dessas tentativas, o reitor considerou que não se tratava de um assunto oficial. Após a negativa do reitor, a professora representou contra ele no Conselho de Ética.
O Jornal Midiamax entrou em contato com o IFMS, e obteve como resposta que: “A servidora em questão não registrou o caso em quaisquer instâncias da instituição que atuam no tratamento desse tipo de denúncia, como é o caso da Ouvidoria, Comissão de Ética e Comissão Permanente para a Prevenção e Enfrentamento dos Assédios Moral e Sexual.”
Confira a nota na íntegra:
“A servidora em questão não registrou o caso em quaisquer instâncias da instituição que atuam no tratamento desse tipo de denúncia, como é o caso da Ouvidoria, Comissão de Ética e Comissão Permanente para a Prevenção e Enfrentamento dos Assédios Moral e Sexual. No primeiro semestre deste ano, o IFMS implantou a Política de Prevenção e Enfrentamento ao Assédios Moral e Sexual, documento que dispõe sobre prevenção, acolhimento do(a) denunciante, registro e trâmites de denúncias da prática de assédios no âmbito da instituição.
Em junho, foi instituída a Comissão Permanente para Prevenção e Enfrentamento dos Assédios Moral e Sexual no IFMS, responsável por coordenar e monitorar a implementação da Política, com representação na reitoria e nos dez campi da instituição e cujos contatos estão disponíveis em uma página específica do site institucional.
Por fim, o IFMS informa que repudia qualquer forma de assédio e reforça que todos os canais de atendimento supracitados estão à disposição dos estudantes e servidores, com amplo acesso no site institucional, para o registro de denúncias dessa natureza.”