Publicado em 22/11/2024 às 06:31, Atualizado em 21/11/2024 às 16:34
Alta incidência de uso de vapes dentro das escolas leva diretores a pedir socorro à Vigilância Sanitária
O uso indiscriminado do dispositivo conhecido como vape preocupa profissionais da educação que se veem obrigados a lidar com a situação sem precedentes. Na escola Hércules Maymone, o caso tornou-se alarmante quando estudantes começaram a usufruir do “tabaco aquecido” dentro do ambiente escolar e no horário de aulas. Com o intuito de conscientizar os mais jovens sobre os malefícios do cigarro eletrônico, a SES (Secretaria Estadual de Saúde), em parceria com a SED/MS (Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso do Sul), realiza uma campanha educativa para alunos da instituição.
O dispositivo eletrônico, alimentado por bateria e baseado em vaporização, onde o usuário inala o vapor e simula o tabagismo, virou tendência por suas cores e sabores agradáveis. Diferente do cigarro tradicional, o formato do produto é similar a objetos encontrados em mochilas escolares, como canetas ou corretivos, além de ser um acessório presente em séries voltadas ao público adolescente.
Em busca de uma solução a curto prazo, o diretor da Escola Hércules Maymone, Rodolfo Rodrigues, se diz preocupado com a questão, em especial, por lidar com situações nas quais estudantes constantemente ora fumam em sala, ora saem das aulas para fumar ou fumam no banheiro escolar.
“Eles costumam fumar entre uma aula e outra. Ou em sala. Às vezes, um aluno nos avisa ou eles vão ao banheiro usar. Como o cigarro eletrônico não tem cheiro, eles sentem mais facilidade para consumir”, explica. O diretor pressupõe que o uso viral do dispositivo seja provocado por ser uma tendência nas redes sociais. “Muitos dizem que é “só pela vibe”. Eles mencionam vários influencers, como chamam o pessoal do YouTube, que incentivam esse comportamento. Muitos acabam comprando porque esses influencers usam”, supõe.
De acordo com o pneumologista Ronaldo Queiroz, o cigarro eletrônico foi lançado como uma ferramenta de ajuda para fumantes pararem de consumir cigarros comuns, com a promessa de um uso livre de vícios ou de malefícios à saúde. Porém, seus efeitos são contrários. “Muitos tipos de cigarros eletrônicos, conhecidos como “vapes”, possuem até 10 vezes mais nicotina do que os cigarros comuns. A nicotina é a substância que provoca dependência física e psíquica. Além disso, a combustão dos cigarros eletrônicos libera formaldeído, uma substância que pode causar câncer. Portanto, o cigarro eletrônico vicia, e muito. A maior preocupação, no entanto, é sua proliferação entre os jovens: 85% dos usuários de cigarros eletrônicos têm entre 15 e 25 anos. Ou seja, estamos criando uma geração de jovens que, aos 40 anos, terão graves problemas respiratórios e de saúde”, enfatiza o especialista.
Segundo o fiscal do Estado de Vigilância Sanitária da SES/MS, Matheus Moreira Pirolo, que coordenou uma programação de palestras para estudantes do 9º ao 3º ano do HM (Hércules Maymone), explica que “a fumaça branca expelida pelo cigarro eletrônico não é vapor d’água, e sim um aerossol composto por partículas ultrafinas, metais pesados e substâncias tóxicas provenientes do aquecimento do líquido sintético contido no interior do cigarro eletrônico”. Assim, o uso indiscriminado pode levar o usuário “a contrair doenças pulmonares, cardiovasculares e até cancerígenas para os fumantes de cigarros eletrônicos e para quem convive com o fumante, denominado de fumante passivo”.
O corpo escolar, preocupado com as consequências do uso, busca realizar medidas de conscientização sobre os efeitos do dispositivo para a saúde. A partir de uma suspensão educativa, como a confiscação do aparelho, é solicitado ao estudante uma pesquisa sobre os malefícios do dispositivo à saúde.
Operação contra a venda irregular
A comercialização de cigarros eletrônicos é proibida pela Resolução n. 855/2024 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e o uso desse produto é proibido no ambiente escolar e nos demais locais de uso coletivo fechados pela Lei Estadual n. 3.576/2008 e pela Lei Federal n. 9.294/1996.
Para quem for flagrado comercializando cigarros eletrônicos, a multa sanitária pode chegar a até R$ 30.000,00 (trinta mil reais), além da apreensão do produto ilícito, sem prejuízo do encaminhamento do caso para apuração de crime pela polícia civil e para a Promotoria da Infância e Juventude se a venda for realizada para crianças ou adolescentes. Conforme explica o delegado da Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo), Reginaldo Salomé, afirma que, desde o início de 2024, 15 mil cigarros eletrônicos foram apreendidos. A quantidade, contudo, tem subtraído por medidas que a Decon tem realizado.
“A fiscalização realizada pela polícia acontece por duas vias: a tradicional, que envolve fiscalização em bares, tabacarias. A segunda é o trabalho de inteligência, focado em conseguir ‘desbaratinar’ pontos de vendas clandestinos. Em março, localizamos um depósito na Guaicurus, com 8 mil vapes. Esse mês, porém, encontramos 400. Assim como nós conseguimos avançar, aprimorar o nosso trabalho, quem infringe a lei também consegue. Mas estamos em combate!”, ressalta Salomé.
Em caso de denúncias sobre comercialização de cigarros eletrônicos, ligue para 136 (OuvSUS) ou 151 (Procon) e informe dados que identifiquem o local e caracterizem a infração.
Ana Cavalcante