Publicado em 10/07/2021 às 13:00, Atualizado em 10/07/2021 às 11:57
Região ainda nem se recuperou direito da tragédia de 2020, e previsão é de estiagem ainda mais severa neste inverno. Comunidade ribeirinha tem sobrevivido de doações.
Na comunidade ribeirinha de Barra de São Lourenço, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, famílias que antes sobreviviam da pesca, da coleta de iscas vivas e da agricultura de subsistência dependem de doações para viver desde o ano passado, quando viram a região ser devastada pelas queimadas.
Em 2020, o Pantanal foi atingido pela maior tragédia de sua história. Incêndios destruíram cerca de 4 milhões de hectares. 26% do bioma - uma área maior que a Bélgica - foi consumida pelo fogo. Cerca de 4,6 bilhões de animais foram afetados e ao menos 10 milhões morreram.
Só no território de Mato Grosso do Sul, 1,7 milhão de hectares virou cinzas. No Mato Grosso, a destruição foi maior: quase 2,2 milhões de hectares.
A região ainda não se recuperou direito e corre agora o risco de reviver essa catástrofe -- e talvez numa escala até pior, segundo alerta de cientistas. A previsão é de um novo recorde de estiagem neste inverno. Somado a isso, o país vive uma crise hídrica, que também assola a região, com o nível dos rios mais baixo para essa época.
O alerta de uma nova grande estiagem no Pantanal vem a partir de estudos como o do pesquisador Marcelo Parente Henriques, do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM). Ele aponta que, pelo segundo ano consecutivo, está previsto um recorde histórico de estiagem na região.
Segundo Henriques, as sete estações fluviométricas instaladas ao longo do rio Paraguai - principal curso de água do Pantanal -, entre Cáceres (MT) e Porto Murtinho (MS), têm apresentado níveis bem abaixo da média.
O motivo é a pouca chuva na região. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a precipitação dos últimos meses na bacia do alto Paraguai ficou abaixo do esperado. O Pantanal não tem uma “cheia” há três anos, conforme dados do SGB-CPRM. A principal condição para que ela aconteça é que o nível d’água na estação fluviométrica de Ladário supere os 4 metros. A última vez foi em 2018, quando atingiu a máxima de 5,35 metros.
O bioma Pantanal é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta. Cerca de 60% do seu território está no Mato Grosso do Sul e os 40% restantes, no Mato Grosso. A proteção da região é de responsabilidade conjunta do governo federal, por meio do Ibama, ligado ao Ministério do Meio Ambiente, e dos dois governos estaduais.
Em março, o ministério editou uma portaria decretando estado de emergência ambiental nos estados. A medida permite à pasta fazer, por exemplo, a alocação de recursos e preparar estruturas, como as brigadas de incêndio. Procurado pela reportagem, o ministério não informou as ações tomadas em relação ao Pantanal.
O secretário estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, diz que até o momento não houve envio de recursos por parte do governo federal. Verruck conta que encaminhou ainda uma proposta de Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com o Ibama e o Ministério Público Estadual (MPE) e o Ministério Público Federal (MPF), mas que ainda não obteve resposta.
Entre outros pontos, o secretário cita a necessidade da contratação de mais brigadistas do Prevfogo, de responsabilidade do Ibama.
Com informações do G 1 MS