Publicado em 01/04/2024 às 10:05, Atualizado em 01/04/2024 às 09:13
Pela primeira vez em quase duas décadas, produtores enfrentam prejuízos devido à queda na produtividade e aos preços desfavoráveis no mercado
O setor agrícola brasileiro está diante de um desafio sem precedentes.
Após 17 anos de lucratividade constante, os produtores de soja do Brasil podem encerrar a safra 2023-2024 com resultados financeiros negativos, conforme alerta da consultoria Datagro.
A mudança de cenário é atribuída a uma combinação de fatores adversos, incluindo uma significativa redução na produtividade e uma queda nos preços da commodity no mercado global.
A Datagro destaca que, apesar de uma diminuição nos custos de produção, a produtividade média esperada caiu drasticamente, ficando muito aquém das projeções iniciais e do recorde estabelecido no ano anterior.
A expectativa de produtividade média foi revista de 3.592 kg por hectare para 3.233 kg por hectare, marcando uma redução de 10% em comparação ao recorde da safra 2022-2023.
Esse desempenho negativo é amplamente atribuído ao fenômeno climático La Niña, que provocou irregularidades nas chuvas e impactou severamente a produção de soja.
"O fenômeno La Niña, com sua forte intensidade, trouxe desafios significativos para os produtores, afetando diretamente a produtividade das lavouras", explica a consultoria.
Os estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, líderes na produção nacional de soja, também registraram retrações nos custos operacionais.
No entanto, essas reduções ocorrem após períodos de aumento significativo nos custos, o que limita seu impacto positivo no balanço final dos produtores.
Além disso, a análise da Datagro sobre a receita considera fatores como os preços na Bolsa de Chicago, prêmios de exportação e taxas de câmbio, indicando que os preços domésticos podem permanecer abaixo dos níveis excepcionalmente altos observados entre 2020 e 2023.
A consultoria enfatiza que apenas os produtores que alcançaram altos níveis de produtividade poderão manter a lucratividade nesta temporada desafiadora.
Em meio a esse cenário, o estado de Mato Grosso do Sul projeta um aumento de 6,5% na área de plantio de soja para a safra atual, alcançando 4,265 milhões de hectares, com uma expectativa de produção de 13,818 milhões de toneladas.
Por outro lado, a área destinada ao plantio de milho na segunda safra mostra uma expectativa de redução de 5,4% em comparação ao ciclo anterior, totalizando 2,2 milhões de hectares, com uma produtividade estimada de 86,3 sacas por hectare e uma produção esperada de 11,485 milhões de toneladas.
A conjuntura atual sinaliza um momento de reavaliação para o setor agrícola brasileiro, especialmente para os produtores de soja, que enfrentam a possibilidade de encerrar o ano com prejuízos, após quase duas décadas de ganhos consistentes.
Com informações do Correio do Estado