Publicado em 30/01/2022 às 06:43, Atualizado em 29/01/2022 às 19:16

“O direito de ir e vir, sem precisar morrer por ser mulher”

Por - Professora Rosalina Ramos Lopes

Professora Rosalina Ramos Lopes,
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Autora do texto - Professora Rosalina

Todos os dias ao acessar as redes sociais, sites de notícias, ligar a televisão, ouvir rádio, ler jornal impresso ou escutar conversas informais, deparamos com notícias tristes de violência contra a mulher. E lamentavelmente, ainda ouvir comentários como “a violência acontece porque a mulher provoca”, e, “mulher não tem que andar sozinha”, dentre tantos outros. Veja o grau de disparidade em repetir frases como as citadas acima. Desse modo, andar sozinha é sinônimo de querer ser abusada, morta ou assediada? Pensando melhor! Por que o homem pode andar sozinho, não correr esse risco e muito menos ser incluído nesses tipos de frases? Essas reflexões foram necessárias, mediante a um crime brutal contra uma mulher, MARTA GOUVEIA, que aconteceu no domingo passado, dia 23 de janeiro em Nova Andradina-MS, noticiado via jornais locais e já investigado por órgãos competentes. Depois do ocorrido, ficaram a indignação e todas as perguntas possíveis. Entretanto, quando uma mulher morre dessa forma, ao contrário do que se pode pensar, todas as outras se encorajam e clamam que a justiça seja feita com mais agilidade. Pois, a certeza da força feminina, a luta, o autoconhecimento, a autoconfiança, a determinação e o foco, são pilares necessários para enfrentamento dos obstáculos e perigos eminentes.

Embora, saibamos que o mal e os perigos estão por toda parte, todo cuidado é pouco, mas é preciso viver e seguir o nosso caminho. Porquanto, o que de fato acontecem e que muitos escritores abordam, são problemas de uma sociedade patriarcal mal resolvidos e que se configuram em machismo (Bourdieu, 1990), um sistema que beneficia a dominação masculina e muitas vezes cala, aponta as mulheres, ou ainda mediante a fatos, absurdamente, precisam provar que não “provocaram” as violências sofridas. Números oficiais mostram a quantidade de casos exacerbados e violentos que ocorrem com mulheres no Brasil, sem contar que quase a metade não são divulgados ou registrados, pois as vítimas sentem medo, vergonha, ou são ameaçadas. Atrocidades que causam mortes, dores físicas e psicológicas não podem ser aceitas. Portanto, lutas diárias devem ser travadas, bem como movimentos e debates por políticas públicas. Nunca retroceder, focar nos avanços conquistados, fortalecer a esperança de transformação social e direitos igualitários que a lei nos propõe.

Para finalizar, é importante pensar em redefinir e desmistificar o ideal feminino de ‘sexo frágil’, contemporizar para o patamar de desenvolvimento de sua potencialidade física e intelectual. É necessário diminuir os motivos por ordem social, configuração do patriarcado que apresenta uma maneira singular e ‘correta’ da existência do homem e o modelo a ser seguido, cultural e religioso. Entender que a mulher deve ser respeitada como cidadã, destituída de frases pejorativas, discursos rasos, ou qualquer tipo de violência, pois, é necessário questionar essas estruturas dominantes, desmistificar essa cultura que se propaga de manifestação e desprezo, perseguição, objetificação e posse sobre a mulher. A questão é afrontar, através de luta, esse modelo dominante, falar de dignidade feminina, do direito à decisão sobre o próprio corpo, autonomização da sua vida moral, sexual, da liberdade de viver, à sua honra, a sua saúde mental, física e o direito de ir e vir, sem precisar morrer por ser mulher.

Formada em Letras pelas FINAN/FALENA, Pedagogia FINAN/ FENA e Psicopedagogia IESNA, Pós-Graduação em Deficiência Auditiva: Tradução e Interpretação em Libras IESF, subárea Análise do Discurso, pela UEMS.

Professora Rosalina  Ramos Lopes