Publicado em 27/02/2022 às 12:04, Atualizado em 27/02/2022 às 12:01
A mudança climática e a mudança no uso da terra serão a causa de incêndios mais frequentes e intensos
Novo relatório do PNUMA, em parceria com GRID-Arendal, prevê um aumento global de incêndios extremos de 14% até 2030, 30% até o final de 2050 e 50% até o final do século.
Até mesmo o Ártico, antes completamente imune, agora enfrenta riscos crescentes de incêndios florestais.
Segundo o estudo, incêndios florestais e a mudança climática estão “se agravando mutuamente” e os governos precisam mudar radicalmente seus investimentos em incêndios a fim de centrar-se na prevenção e na preparação.
As informações foram reveladas por especialistas pouco antes da Assembleia da ONU para o Meio Ambiente (UNEA), que acontece em Nairóbi, no Quênia, entre 28 de fevereiro e 2 de março de 2022.
A mudança climática e a mudança no uso da terra serão a causa de incêndios mais frequentes e intensos, com um aumento global de incêndios extremos de 14% até 2030, 30% até o final de 2050 e 50% até o final do século, de acordo com um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em parceria com o GRID-Arendal.
A publicação clama pela necessidade de uma mudança radical nos gastos públicos dedicados a incêndios, fazendo com que o investimento mude da reação e resposta para a prevenção e preparação.
O relatório “Fogo Sem Controle: a crescente ameaça de incêndios atípicos em ambientes selvagens” (disponível apenas em inglês) aponta um risco elevado para esses eventos, até para o Ártico e outras regiões que não eram afetadas anteriormente. O relatório é lançado antes do encontro de representantes de 193 nações em Nairóbi para a continuação da 5.ª sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-5.2), entre 28 de fevereiro e 2 de março de 2022.
A publicação convida governos a adotar uma nova “fórmula de prontidão para o fogo”, na qual dois terços dos gastos são dedicados ao planejamento, prevenção, preparação e recuperação, restando um terço para a resposta. Atualmente, a resposta direta aos incêndios florestais geralmente recebe mais da metade das despesas correlatas, enquanto o planejamento e a prevenção dispõem de menos de 1% desse recurso.
Para evitar incêndios, o relatório reivindica uma estratégica que combine sistemas de dados e monitoramento de base científica com o conhecimento indígena para fortalecer cooperações regionais e internacionais.
“As atuais respostas governamentais aos incêndios florestais estão muitas vezes investindo nos lugares errados. Os trabalhadores de serviços de emergência e os bombeiros que estão na linha de frente e arriscam suas vidas pelo combate aos incêndios florestais precisam de suporte”, afirma a diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen.
“Precisamos minimizar os riscos de incêndios extremos estando mais bem preparados”, recomenda a chefe do PNUMA.
Entre as ações, Andersen cita investir mais na redução de riscos de incêndio, trabalhar com comunidades locais e fortalecer o compromisso global pelo enfrentamento da mudança climática.
Impactos desiguais – Os incêndios florestais afetam as nações mais pobres do mundo de forma desproporcional. Com um impacto que pode durar dias, semanas e até anos após as chamas se apagarem, esses eventos impedem o avanço rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e agravam a desigualdade social.
A saúde das pessoas é diretamente afetada pela inalação da fumaça proveniente de incêndios florestais que causam danos respiratórios e cardiovasculares e aumentam os efeitos sobre a saúde dos mais vulneráveis.
Bacias hidrográficas são degradadas pelos poluentes dos incêndios e outra possível consequência é a erosão do solo, que causa mais problemas para os cursos d’água. Além disso, os resíduos deixados para trás são muitas vezes altamente contaminados e requerem descarte apropriado.
Para países de baixa renda, os gastos com a reconstrução de áreas atingidas por incêndios florestais podem ultrapassar os recursos financeiros disponíveis.
Incêndios e mudança climática – Os incêndios florestais e a mudança climática estão “se agravando mutuamente”. Os incêndios são intensificados pela mudança climática por meio da seca, alta temperatura, baixa umidade relativa do ar, raios e ventos fortes que resultam em estações mais quentes, mais secas e épocas de incêndio mais longas. Ao mesmo tempo, a mudança climática é agravada pelos incêndios florestais, principalmente pela destruição de ecossistemas sensíveis e ricos em carbono, como turfeiras e florestas tropicais. Isso transforma as paisagens em fontes de ignição que dificultam o controle do aumento da temperatura.
A vida silvestre e seus habitats naturais são raramente salvos de incêndios, o que aproxima algumas espécies animais e vegetais da extinção. Um exemplo recente disso são os incêndios florestais que ocorreram na Austrália em 2020. Estima-se que bilhões de animais domésticos e silvestres tenham sido mortos.
Há uma necessidade urgente de se compreender melhor o comportamento dos incêndios florestais. Alcançar e manter um manejo adaptativo da terra e do fogo requer uma combinação de políticas públicas, uma base legal e medidas que incentivem o uso apropriado desses recursos.
A restauração de ecossistemas é um caminho importante para mitigar o risco de incêndios antes que eles ocorram e para reconstruir melhor após a ocorrência deles. A restauração de áreas úmidas, a reintrodução de espécies como os castores, a restauração de turfeiras, a preservação de reservas abertas e garantir distância entre a construção civil e a vegetação são alguns exemplos dos investimentos essenciais em prevenção, preparação e recuperação.
A conclusão do relatório faz um apelo por normas internacionais mais fortes em prol da segurança e da saúde dos bombeiros e para minimizar os riscos que eles enfrentam antes, durante e depois das operações. Isso inclui uma maior sensibilização sobre os riscos da inalação de fumaça, reduzindo os riscos de armadilhas potencialmente fatais e proporcionando aos bombeiros acesso à hidratação adequada, nutrição, descanso e recuperação entre os turnos.
O relatório foi elaborado em apoio à UNREDD e à Década da ONU da Restauração de Ecossistemas. O PNUMA analisará a maneira como novos investimentos podem ser feitos para reduzir os riscos de incêndio nos ecossistemas essenciais do mundo.
Sobre o GRID-Arendal – O GRID-Arendal é um centro de comunicação ambiental sem fins lucrativos sediado na Noruega. Transformamos dados ambientais em produtos informativos inovadores, com base científica, e fornecemos serviços de capacitação que permitem uma melhor governança ambiental. O nosso objetivo é fornecer informações e mobilizar um público global e motivar tomadores de decisão a realizar mudanças positivas. O GRID-Arendal trabalha em colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e outros parceiros em todo o mundo.
Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas – A Década da ONU da Restauração de Ecossistemas 2021-2030 é um chamado global à ação para a proteção e revitalização dos ecossistemas em todo o mundo, pelas pessoas e pelo planeta. O objetivo é deter a degradação dos ecossistemas e restaurá-los para atingir os objetivos globais. A Assembleia Geral da ONU das Nações Unidas declarou a Década da ONU da Restauração de Ecossistemas, liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A Década da ONU está construindo um movimento global forte e amplo para acelerar a restauração e colocar o mundo no rumo de um futuro sustentável. Isso implicará na criação de um impulso político para a restauração, bem como em milhares de iniciativas locais.
PNUMA aos 50 – A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano de 1972 em Estocolmo, Suécia, foi a primeira da ONU cujo título trouxe a palavra “meio ambiente”. A criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) foi um dos resultados mais notórios dessa conferência, que teve diversas iniciativas pioneiras. O PNUMA foi criado basicamente para ser a consciência ambiental da ONU e do mundo. As atividades que ocorrerão ao longo de 2022 analisarão os avanços relevantes já realizados, bem como o que está por vir nas próximas décadas.
Com informações da ONU