Mato Grosso do Sul caminha para vivenciar a pior seca do Rio Paraguai de todos os tempos. O alerta vem sendo feito por ambientalistas e pesquisadores há meses, e um número chama atenção para a gravidade da situação: o nível do Rio Paraguai neste mês é menor que no mesmo período de 1964 – até então, ano com a pior seca já registrada na região.
Dados da Marinha do Brasil mostram que o nível do Rio Paraguai, em Ladário, chegou a 1,16 metros no dia 11 de abril. No mesmo dia de 2023, o nível do rio era de 2,74 metros. Em 2022, era 1,97 metros. Em 2021, 1,83 metros. Já em 2020, o nível do rio estava em 1,64 metros. Historicamente, em abril, começa o período de cheia do Pantanal, com auge em julho e agosto.
O professor Dr. Geraldo Damasceno Junior, coordenador do Peld-Nefau (Núcleo de Estudos do Fogo em Áreas Úmidas) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), explica que o nível do Rio Paraguai define o quanto o campo vai ter de água ao longo do ano. Neste, porém, as perspectivas são ruins.
“Não vai inundar o Pantanal este ano. Se chover pouco, como é esperado no período de seca, a chance de períodos secos é grande e, consequentemente, as chances de incêndios florestais aumentam”.
Para ele, todas as organizações estão mais atentas e empenhadas na prevenção dos incêndios florestais. Com isso, as chances de uma tragédia ambiental como vista em 2020 são menores, porém, com “condições críticas”.
Chegada do La Niña pode intensificar condições climáticas
Com histórico de temperaturas muito acima da média nos últimos meses, seca no Pantanal e proximidade do fenômeno La Niña, Mato Grosso do Sul caminha para condições climáticas similares ou piores do que as observadas em 2020, quando os incêndios florestais consumiram 3 milhões de hectares no Pantanal.
Biólogo e diretor da ONG Ecoa, Alcides Faria explica que a meteorologia aponta para o fim do El Niño e chegada do fenômeno La Niña, situação parecida com a vivenciada em 2020. Com o cenário colocado, ambientalistas e pesquisadores se unem para alertar sobre os riscos de incêndios florestais de grandes proporções.
“Entrou pouca água no Pantanal e não foi suficiente para encher o bioma. Com a água vazando para a planície, terá mais massa vegetal para queimar. Precisamos de uma preparação como nunca se teve. Devido à seca e a La Niña, podemos estar diante de uma catástrofe”, afirma Alcides Faria.
Para ele, essa seca atípica no Rio Paraguai tem relação com as mudanças climáticas. “Nada que aconteça em eventos extremos pode se desassociar das mudanças climáticas”, afirma o pesquisador.
Mato Grosso do Sul em emergência ambiental
Na última semana (10 de abril), o Governo de Mato Grosso do Sul publicou o decreto n° 25 que declara estado de emergência ambiental em todo o Estado, por 180 dias, devido às condições climáticas que favorecem a propagação de focos de incêndio sem controle. Entre as ações, estabelece as queimas prescritas.
Conforme o decreto, cabe ao Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) disciplinar o licenciamento da atividade de queima controlada. E a queima prescrita deve seguir as rotinas estabelecidas no Comunicado CICOE nº 01 de 15 de junho de 2022, do Centro Integrado de Coordenação Estadual.
Com relação a áreas identificadas com acúmulo de biomassa, com alto poder de combustão, identificadas pelo Sifau (Sistema de Inteligência do Fogo em Áreas Úmidas), o Estado poderá prescrever e autorizar a realização de queimas controladas ou de queimas prescritas, mesmo durante a vigência deste Decreto e auxiliar a realização de queimas prescritas em áreas particulares.
Também está prevista a realização de aceiros com até 50 metros de largura de cada lado de cercas de divisa de propriedade. O decreto também dispensa o Governo de licitação para a contratação de itens e serviços pertinentes a queimadas.
Entenda o que é queima prescrita
Entre as ações de combate aos incêndios florestais em Mato Grosso do Sul, o governo do Estado estabeleceu a queima prescrita em áreas com grande potencial para incêndios florestais. A decisão consta no decreto de emergência ambiental assinado na terça-feira (9).
O Governo do Estado afirma que a queima prescrita entra no Manejo Integrado do Fogo e é uma maneira de prevenir grandes incêndios florestais, principalmente na época mais crítica e de grande vulnerabilidade ambiental. Na prática, a queima será feita por decisão do Governo e com acompanhamento do Corpo de Bombeiros.
Ao longo dos meses, 140 áreas devem passar pela técnica. Presidente da Famasul, Marcelo Bertoni explica que inicialmente seis propriedades serão notificadas sobre a queima prescrita, mas 140 propriedades foram identificadas com necessidade de passar pela metodologia. No Pantanal de Mato Grosso do Sul existem 3.501 propriedades rurais.
Campanha permanente de prevenção aos incêndios em MS
O Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul segue na linha de frente da prevenção e combate aos incêndios florestais e afirma que, diferente dos anos anteriores, agora a campanha é permanente com maior intensidade em época de estiagem.
“A grande diferença é que não existe mais temporada de incêndio. É temporada o ano todo. Estamos já realizando ações preventivas, para evitar surpresas no período crítico, que é entre junho e agosto, quando chove muito pouco”, afirma Frederico Reis, comandante geral do Corpo de Bombeiros de MS.
Atualmente são 6 guarnições de combate a incêndios dentro do Pantanal, sendo três em áreas de amortecimento dos parques e três dentro do Pantanal, atuando neste momento nas cabeceiras de pontes, para evitar a queima como foram registradas em anos anteriores.
Diretora de Proteção Ambiental do CBMMS, a Tenente-coronel Tatiane de Oliveira, afirma que as mudanças climáticas são apontadas como um fator crítico para o aumento de episódios de incêndios, tendo o El Niño como fator agregador de risco devido à sua relação com a estiagem prolongada na região, o qual trouxe como consequência, nos meses de agosto e setembro de 2023, os menores valores registrados de precipitação dos últimos 24 anos.
“A equipe do Prevfogo tem combatido os incêndios da região, desde janeiro deste ano, com a atuação de mais de 300 combatentes, incluindo brigadistas federais e contingente de apoio. No momento, quatro aeronaves estão dando apoio no combate ao fogo. Além disso, o Ibama monitora os incêndios, por meio de reuniões realizadas no Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional Nacional (Ciman) e o quantitativo de brigadistas é atualizado conforme necessidade”, finaliza.
Conteúdo - Midiamax
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