O Ministério Público Federal (MPF) denunciou na sexta-feira (25) dois indígenas de Mato Grosso do Sul por torturarem e ameaçarem queimar vivas a idosa e a filha dela, de 13 anos, sob a alegação de que a mulher teria amaldiçoado um deles com uma doença.
Os denunciados agrediram as mulheres em uma escola da aldeia e também cortaram seus cabelos para fazê-las "confessar" o “feitiço”.
O crime denunciado ocorreu em fevereiro, na Aldeia Ñande Ru Marangatu Campestre, em Antônio João, a 323 km de Campo Grande. Segundo investigações da Polícia Federal e do MPF, o irmão de um dos denunciados estava doente e disse ter sonhado que havia sido amaldiçoado com um feitiço realizado pela idosa, uma antiga rezadeira da aldeia.
O denunciado, o capitão da aldeia e outros indivíduos que ainda não foram identificados, levaram a rezadeira e a filha à força até uma escola e, na frente de um grande número de indígenas, agrediram as vítimas.
Além da tortura, as duas mulheres também foram colocadas de cócoras e tiveram os cabelos cortados, com o objetivo de fazê-las confessar o "feitiço". Os homens também ameaçaram as vítimas dizendo que se alguém da família deles morresse, elas seriam queimadas vivas, “como bruxas”.
Machismo e intolerância religiosa
Os povos indígenas não estão imunes aos efeitos do machismo estrutural e da intolerância religiosa. As comunidades Guarani-Kaiowá são regidas sobre uma base patriarcal, em que as mulheres são limitadas a exercer determinadas funções, além de sofrerem com imposição de comportamentos e ameaças constantes de violência.
Nesse contexto, o MPF investiga, desde 2021, condutas e acontecimentos em prejuízo das mulheres Guarani-Kaiowá ligados à disputa por liderança de aldeias, violência doméstica e familiar, além de perseguição de cunho místico e religioso.
É possível afirmar a existência de perseguição àquelas que exercem função de oração nas aldeias, conhecidas como rezadoras, rezadeiras ou Ñandesy, especificamente por causa do choque entre as religiões não-indígenas.
Com informações do G1 MS
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