Em nota publicada na tarde deste sábado no site da instituição, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul classificou como grave a situação e prometeu adotar as medidas cabíveis e necessárias diante do vídeo em que formandos da Polícia Militar entoam gritos enaltecendo a violência.
Na nota, o MPMS diz que o conteúdo dos cânticos é “violento e incompatível com os princípios constitucionais que regem a atuação das forças de segurança pública”.
A instituição se referia a cânticos em que os 427 soldados recém-formados fazem um coro dizendo “Bate na cara, espanca até matar. Arranca a cabeça dele e joga ela pra cá. O interrogatório é muito fácil de fazer. Eu pego o vagabundo e bato nele até morrer. Desce aqui e venha conhecer. A tropa da PM que cancela CPF.”
O “festa” de formatura do 38º Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar ocorreu na quinta-feira (31), no Comando-Geral da PMMS, e teve o governador Eduardo Riedel (PSDB) como homenageado, ele deu nome à turma.
Nesta sexta-feira (1º) o Governo do Estado divulgou nota dizendo que “O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul manifesta publicamente seu repúdio a quaisquer condutas que incentivem a violência, e determinou a adoção imediata das providências cabíveis, com rigorosa apuração dos fatos e aplicação das sanções legais previstas”.
O polêmico grito de guerra ocorreu em meio a um cenário de disparada no número de mortes provocadas por policiais em Mato Grosso do Sul. No primeiro ano do Governo Riedel, em 2023, policiais mataram 131 pessoas. Para efeito de comparação, na soma dos três anos anteriores haviam sido 130 mortes.
No ano seguinte, em 2024, no número caiu para 86, o que ainda foi o segundo maior número da história de Mato Grosso do Sul. Em 2025, até o fim de julho, foram 46 mortes, o que já está bem próximo do número de casos de 2022, quando foram 51 registros.
Até agora o comando da Polícia Militar ou o secretário de Segurança Pública não se manifestaram sobre os cânticos de exaltação da violência policial, segundo o Correio do Estado.
A Defensoria Pública, porém, não poupou críticas, dizendo que “O conteúdo do grito, que exalta práticas como ‘espancar até matar’, ‘arrancar a cabeça’ e ‘bater até morrer’, representa apologia explícita à violência, à tortura e ao extermínio, sendo absolutamente incompatível com a missão constitucional da Polícia Militar, que, conforme consta em seu próprio site institucional, é: ‘Servir e proteger a sociedade de Mato Grosso do Sul promovendo segurança cidadã’, diz nota da Defensoria.
Embora tenha adotado um tom mais brando, deixado claro que optou pela "política da boa vizinhança" (as sedes do MPMS e da PM são divididas somente por uma avenida), a nota do MPMS deixa claro que pretende levar o caso às últimas consequências.
VEJA ÍNTEGRA DA NOTA DO MPMS
“O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) informa à sociedade que está analisando as imagens que circulam na internet e em veículos de imprensa, mostrando conduta registrada em vídeo, no qual policiais militares recém-formados entoam um grito de guerra cujo conteúdo é violento e incompatível com os princípios constitucionais que regem a atuação das forças de segurança pública.
Justamente por entender a importância da corporação para o Estado e para a população sul-mato-grossense, o MPMS defende que não se pode permitir comportamentos dessa natureza, sob pena de comprometer a credibilidade e os valores que devem nortear a atuação da Polícia Militar.
A instituição observa de perto os desdobramentos das apurações já anunciadas e irá analisar detalhadamente o conteúdo exposto no vídeo, para adotar as medidas compatíveis com a gravidade da situação”.
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