Buscar

25/07/2016 às 08:00, Atualizado em 27/07/2016 às 12:15

Governo não vai divulgar informações sobre operações antiterrorismo em curso

Decisão de tornar públicas as informações caberá à Justiça

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general de Exército Sérgio Etchegoyen, assegurou ontem (24), no Rio de Janeiro, que os órgãos de inteligência não vão revelar informações sobre operações que estão em curso envolvendo a possibilidade de atentados terroristas na Olimpíada Rio 2016.

“Todas as possibilidades estão nas nossas mais altas preocupações, mas dados específicos sobre isso, nós não vamos dar”, afirmou, acrescentando que dados de operações “não se divulgam”. O general não quis comentar se outros brasileiros, além dos 11 já detidos por envolvimento com o Estado Islâmico (EI), estariam trocando mensagens sobre planejamento de atos terroristas e compra de armamento.

Em entrevista após solenidade que marcou o início oficial do trabalho das Forças Armadas na defesa e segurança dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, no Palácio Duque de Caxias, Etchegoyen disse que a lei antiterrorismo estabelece o limite dos atos preparatórios para que os fatos sejam divulgados. A decisão de tornar públicas as informações sobre elementos com suspeita de envolvimento com o terrorismo caberá sempre à Justiça, afirmou

O general de Exército Fernando Azevedo e Silva, titular da Coordenação Geral de Defesa de Área (CGDA) e comandante do Comando Militar do Leste (CML), admitiu que desde a experiência do Brasil na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92), nos Jogos Panamericanos, em 2007, e com o surgimento do Estado Islâmico, em 2014, muita coisa teve de ser aperfeiçoada em termos de segurança brasileira, para prevenir a atuação do terrorismo.

Silva afirmou que o aparato dos eixos de inteligência e a parte de segurança pública e defesa “estão mais robustos do que os outros. É uma adaptação aos novos tempos”. Na Olimpíada, que é o maior evento esportivo do mundo, o parâmetro é macro, acentuou, e a ele se junta a preocupação com o atual cenário global. Nesse sentido, disse que o planejamento está de acordo com esses novos dados, tanto da parte de inteligência, como da parte de prevenção ao terrorismo e de defesa.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que há um compartilhamento de informações e interação entre órgãos de inteligência de todo o mundo. “Essa é a primeira Olimpíada que terá o Centro de Inteligência com aproximadamente 100 países solicitando credenciamento para enviar representantes”. O Brasil está trabalhando com as principais agências de inteligência do mundo, entre as quais Estados Unidos, Rússia, França, Israel, Turquia, disse Jungmann, com as quais mantém um fluxo constante de informações. O governo brasileiro tem ainda uma troca de cadastro de identidade de pessoas que estão próximas ou tiveram no passado alguma ligação com grupos terroristas.

Jungmann destacou o trabalho de esclarecimento feito junto à população para prevenção e percepção de pessoas que mostrem atitude suspeitas que podem significar alguma ameaça de ataque terrorista: “Isso foi feito junto a taxistas, ao metrô, ao setor hoteleiro, categorias próximas que estão trabalhando com os Jogos Olímpicos”. O ministro lembrou que o Centro Integrado de Enfrentamento ao Terrorismo trabalha de forma integrada 24 horas por dia.

“Febre”

Jungmann admitiu que existe hoje uma espécie de “febre” diante dos atentados terroristas recentes, “diante da amplitude e, sobretudo, pela diversidade que esses atos têm se dado”. Garantiu, entretanto, que no que diz respeito às atividades de inteligência e ao preparo das forças, os compromissos assumidos com o Comitê Olímpico Internacional (COI) estão sendo “rigorosamente cumpridos”. Ao contrário do que ocorreu nos Jogos de Munique, em 1972, marcado por um terrorismo clássico, que tornou a delegação de Israel refém, os atos terroristas e os alvos hoje são difusos: “Por tudo isso, há que se redobrar esforços. Mas há também que se compreender que há uma nova realidade não apenas para os jogos no Brasil, mas para todo o mundo que vamos ter que conviver, e nos preparar cada vez mais e melhor para esse tipo de situação”.

O ministro da Defesa destacou que em termos de terrorismo, o governo atua inicialmente com o enfrentamento, isto é, com ações de contraterrorismo. “A nossa principal preocupação é atuar de forma conjunta com os setores de inteligência, tanto no Brasil, por meio da Agência Brasileira de Inteligência e Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, como os demais sistemas e órgãos da inteligência estrangeira para a troca de informação, na possibilidade de evitar que algo venha a acontecer”.

Deixou claro que vindo a ocorrer algum tipo de incidente como esse, as Forças Armadas estão capacitadas para rapidamente intervir, em conjunto com as demais agências responsáveis pela segurança.

Contraterrorismo

O general de Exército Sérgio Etchegoyen, do GSI, concordou com o ministro que a parte mais importante do combate ao terrorismo é o contraterrorismo, que evita a perpetração do ato terrorista. Considerando as possibilidades de um ato se efetivar, afirmou que o governo agiu de forma rápida e firme com a deportação do professor franco-argelino, Adlène Hicheur, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e a prisão de 11 suspeitos na semana passada.

Ressaltou a ação eficiente dos órgãos do sistema brasileiro de inteligência ao monitorar e deter simultaneamente em regiões diferentes brasileiras esses elementos suspeitos de preparação de ataques terroristas durante a Olimpíada Rio 2016 e fornecer à Justiça elementos de convicção para sua prisão. “Isso não é pouca coisa. Isso é uma senhora operação de inteligência”. Mais adiante, completou: “Nós já estamos trabalhando no contraterrorismo e produzindo esses resultados”.

As operações e levantamentos continuam com a discrição que essa atividade exige, explicou. O ministro da Defesa acentuou que isso é possível graças à criação da Lei Anti Terror que estabeleceu penas de cinco a oito anos para atos preparatórios que, combinados com outros atos, podem chegar a até 21 anos de cadeia.

Disse que isso ocorre porque o ato terrorista fere amplamente direitos e bens jurídicos fundamentais: “Em segundo lugar, fica claro para qualquer que pense em cometer uma ação como essa, que nós temos capacidade preventiva e é muito dura a resposta do Estado”. Na avaliação do ministro, a prisão dos suspeitos teve também o efeito dissuasório de que o governo está alerta, acompanhando, e que a punição é dura. “A resposta não pode ser outra”.

O general Sérgio Etchegoyen, do GSI, ressaltou que, na eventual liberação de suspeitos de terrorismo com monitoramento por meio de tornozeleira eletrônica, apesar de “não entender as razões do juiz” para isso, a perspectiva dos órgãos de inteligência permanece inalterada, que é neutralizar e vigiar: “Em qualquer circunstância, todas as eventuais ameaças aos Jogos Olímpicos serão monitoradas”.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.