O ex-ministro e atualmente presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, disse que o setor de fertilizantes é estratégico e questão se segurança nacional.
A declaração do ministro foi feita durante o 9º Congresso Brasileiro de Fertilizantes.
“Mesmo sendo uma potência agrícola, o agronegócio mostrou ter ‘pés de barro’ com o conflito na Ucrânia e a dependência do fertilizante importado. Como celeiros do mundo, não podemos seguir tão frágeis nesta questão”, disse.
Ele destacou ainda a mudança nas cadeias de produção, em decorrência da pandemia e da guerra no Mar Negro.
“A Europa e os Estados Unidos vão buscar parcerias com países como o nosso: democráticos, sem turbulências. A possibilidade é de expansão do Brasil. Não só no agro, mas também no setor mineral”, completou Jungmann. “Mas para isso precisamos consertar essas fragilidades”.
Entre os pontos que precisam de correção, o ex-ministro citou a necessidade de ampliação do conhecimento geológico do país, que pode ser através de uma parceria público-privada.
“Precisamos também da contribuição do setor de capitais para alavancar os setores mineral e de fertilizantes. Precisamos de capacidade de investimento interno e financiamentos”. Jungmann afirmou ainda que o setor precisa de linhas de crédito para inovação, buscando a expansão do setor, além de uma isonomia tributária com o produto importado.
Plano Nacional de Fertilizantes
Presente ao evento, o diretor de Projetos Estratégicos na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Bruno Caligaris, destacou a implantação do Plano Nacional de Fertilizantes.
“O plano veio para trazer rumo ao setor. Ele indica os caminhos para superarmos os desafios e colocarmos o Brasil como o principal abastecedor de alimentos em 2050”.
Segundo ele, já há avanços de curto prazo, como a busca da isonomia tributária, novas linhas de financiamento e soluções de logística.
“O setor ficou sem rumo por muito tempo. Não vai ser do dia para a noite, mas temos um farol visando abastecer o setor de fertilizantes. A recuperação da industrialização do país passa pela industrialização do agro”, concluiu.
Logística
Segundo o diretor de Gestão e Modernização Portuária do Ministério da Infraestrutura, Otto Burlier, o governo tem “trabalhado para destravar investimentos em portos para torná-los mais competitivos para atender não só o setor de fertilizantes, mas todos os setores da economia”.
Burlier falou sobre as ações da pasta em busca de uma infraestrutura integrada, dando competitividade ao país e transformar o Brasil líder na infraestrutura latino-americana. “Apesar da pandemia, o setor portuário contribuiu para o crescimento econômico, com ampliação de 4% ao ano em 2020 e 2021”, comemorou.
Além de atrair investimentos, o Ministério, conforme o diretor, tem como pontos prioritários desestatizar portos públicos, modernizar a gestão, melhorar as questões regulatórias e desburocratizar o setor. “Queremos a integração entre os órgãos públicos, buscando dar competitividade ao setor e auxiliar o setor de fertilizantes”, disse. O Brasil importa 80% dos fertilizantes aplicados no país, demandando portos ágeis.
O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, respondendo por 8% do comércio mundial do insumo. Mas a dependência do mercado externo é uma questão que preocupa o setor. “Ficamos vulneráveis aos problemas de infraestrutura e dos portos, o que ficou bem evidenciado com o conflito na Ucrânia”, pontua a diretora-executiva da Campo Forte Fertilizantes, Susana Martins Carvalho.
Ela lembrou que mesmo com a maior produção de grãos e com o aumento na internalização de fertilizantes, os acessos são os mesmos. “Os portos e as malhas viárias são as mesmas”, reiterou.
Seguindo nessa linha, o vice-presidente da Associação Brasileira de Transporte e Logística de Produtos Perigosos (ABTLP), Sérgio Sukadolnick, listou os principais gargalos de infraestrutura e logística. “Somos um país rodoviário, mas nem isso fizemos bem. Estamos bem atrás dos Estados Unidos, por exemplo. Até nisso temos que progredir”.
À defasagem do setor rodoviário, o dirigente agregou a carência multimodal do país, o que penaliza a competitividade do país na exportação de grãos. Skaldonick citou ainda problemas na cabotagem, no transporte fluvial e no armazenamento juntos aos terminais portuários. “O Brasil não vai deixar de ser dependente da importação de fertilizantes, mas podemos diminuir o tamanho dessa dependência”, completou, frisando que ainda há muito a ser melhorado.
O presidente executivo da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (Anut), Luis Henrique Baldez, também não poupou críticas. “Nós não temos infraestrutura. Temos projetos. Precisamos de mais infraestrutura para termos mais eficiência, menos custos e, por consequência maior competitividade”.
Para ele, o estado brasileiro tem que estar presente nesse caminho de melhoria, não o governo.
“Senão, seremos sempre o país do futuro. O estado tem que ser parte do problema. Não adianta dizer que não tem dinheiro. As mudanças não serão feitas pela iniciativa privada”, resumiu. Para ele, com falta de infraestrutura e com a dependência do diesel no modal rodoviário, a tendência é do custo logístico continuar crescente no Brasil.
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