Ao longo dos últimos 10 meses, Mato Grosso do Sul acumula uma alta de 18,27% no preço do litro do etanol.
Segundo o Painel Dinâmico de Preços de Combustíveis e Derivados do Petróleo, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o etanol era comercializado em média a R$ 3,23 no primeiro mês deste ano e chegou a R$ 3,82 no fim da semana passada, resultando em um aumento de R$ 0,59.
Ainda conforme o levantamento, entre os dias 7 e 13 de janeiro, o álcool era vendido no Estado com o valor mínimo de R$ 2,98 e máximo de R$ 4,70. Já na semana dos dias 6 a 12/10, a menor precificação encontrada para o biocombustível foi de R$ 3,49 e a maior, de R$ 4,98.
Para o mestre em Economia Lucas Mikael, vários fatores contribuíram para o aumento nos preços dos combustíveis deste janeiro até este mês.
“O principal a ser destacado é o aumento dos custos das distribuidoras e dos postos, repassado diretamente ao consumidor. No entanto, o principal impacto ainda é um reflexo dos impostos e, claro, as questões climáticas, acompanhados das queimadas que interferem nos custos da produção”, avalia.
O doutor em Economia Michel Constantino acrescenta que a majoração está totalmente ligada ao aumento de impostos federais, principalmente na gasolina e no diesel.
“Como o etanol faz parte da composição da gasolina, o aumento da gasolina puxa o preço do etanol para cima”, esclarece, complementando que “esse aumento é em todo Brasil, e temos um efeito multiplicador na economia – aumenta o preço do frete, do transporte, e o custo de produção, elevando os preços dos alimentos”.
O economista Eduardo Matos destaca que muitos consumidores fazem a conta da proporção dos preços dos combustíveis com o seu rendimento e chegam à conclusão que está mais compensatório rodar utilizando o etanol.
Outro aspecto ressaltado por Matos é a questão climática.
“A maioria das indústrias de biocombustível aqui de Mato Grosso do Sul, de etanol especificamente, elas derivam da cana-de-açúcar, e a produção foi um pouco menor do que o esperado. Isso acabou deprimindo a produtividade dessas indústrias, e isso, é claro, faz com que elas aumentem o preço”, detalha.
Nesse contexto, a produção de etanol de milho também aumentou, uma vez que a safra de milho foi bem menor no atual ciclo, em decorrência da seca. Contudo, Matos salienta que o preço praticado atualmente pelo Estado para o etanol é um dos menores.
“Mesmo com a alta acumulada, ele é um dos mais baixos na história do Estado. Isso por conta dos investimentos que a cadeia recebeu, é claro, a cana-de-açúcar que historicamente é o principal [item], mas também [em função da] abertura de usinas de etanol de milho”, frisa o economista.
Diante do panorama de preços, é importante frisar que, mesmo com um aumento de mais de 18% para o biocombustível, na comparação de preços, o álcool continua vantajoso em relação à gasolina.
Para descobrir se compensa fazer a troca, é preciso dividir o valor do etanol pelo da gasolina, e o resultado dessa operação deve ficar abaixo de 0,70.
MISTURA
Na semana passada, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou o Projeto de Lei nº 528/2020, o qual implementa a Lei do Combustível do Futuro. A proposta já havia sido passada pelo Congresso Nacional.
A nova normatização tem por objetivo fomentar a descarbonização, incentivando os biocombustíveis, que são menos poluentes. Entre as alterações está o aumento no índice de etanol misturado à gasolina no País.
A nova lei estipula que o porcentual de etanol na gasolina passará de 22% a 27%, podendo atingir até 35%. Até então, a mistura máxima permitida era de 27,5%, enquanto o mínimo permitido chegava a 18% de etanol.
Outra novidade estabelecida pelo texto é de que a proporção de biodiesel aumentará 1% ano a partir de 2025 até março de 2030, chegando à composição máxima de 20% da mistura com o diesel de origem fóssil. Atualmente, o composto é de 14%.
A mudança realizada pelo governo federal era discutida desde o início do ano passado, sendo uma das demandas do governo Lula para aumentar o consumo de combustíveis “verdes”, acelerando a transição energética e ainda a redução da importação de gasolina do mercado exterior.
A primeira proposta foi apresentada em maio de 2023 pelo Palácio do Planalto ao Congresso e tramitou por mais de um ano até a sua sanção, no dia 9.
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