Uma pesquisa do NEF (Núcleo de Estudos em Farmacoterapia) da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), divulgada nesta sexta-feira, dia 26 de novembro, relaciona a escabiose (sarna humana) ao uso indiscriminado de ivermectina. Segundo os pesquisadores, esse estudo pode ajudar na investigação do surto registrado em Pernambuco.
Até a última quarta-feira (24), foram notificados ao menos 202 casos em três cidades de Pernambuco. As lesões na pele provocam coceira. O surto ainda não tem causa definida e as autoridades de saúde pernambucanas seguem investigando.
Os pesquisadores do ICF (Instituto de Ciências Farmacêuticas), Alfredo Oliveira-Filho e Sabrina Neves, e os estudantes Lucas Bezerra e Natália Alves, se basearam na observação de casos de resistência à ivermectina já relatados, surtos isolados e os dados de aumento de consumo do medicamento por causa da pandemia de Covid-19. O artigo foi publicado no mês de agosto.
“O nosso artigo lança a hipótese de que poderíamos ter problemas com surtos de escabiose resistente, por conta do uso irracional da ivermectina. O surto está configurado, pois está havendo um aumento rápido de casos de lesões de pele com coceira e outros sintomas”, explicou Sabrina
São necessários alguns testes e o descarte de outras hipóteses sobre o que está acontecendo em Pernambuco para então confirmar as questões levantadas no artigo.
Os pacientes se queixam de uma coceira forte, intensificada no período da noite, e que evolui para feridas, mesmo com o uso de antialérgicos. A vigilância epidemiológica emitiu um alerta com os sintomas para os serviços de saúde, assim todos devem notificar o atendimento a pacientes com os sintomas da doença.
“A hipótese do artigo é que é possível que o Sarcoptes scabiei, ácaro causador da escabiose pode ter desenvolvido resistência à ivermectina. Se essa hipótese se confirma, temos um problema enorme, pois a doença poderia atingir qualquer população, e o que é pior, com dificuldade de tratamento”, avaliou Sabrina.
Aumento no consumo de ivermectina na pandemia da Covid
Com a pandemia da Covid, o consumo do medicamento, que é um antiparasitário, aumentou quase 10 vezes no Brasil. Mesmo com pareceres do Ministério da Saúde e da indústria farmacêutica, somados a evidências científicas, a prescrição e automedicação baseada neste medicamento continuaram a acontecer.
“O uso irracional de medicamentos é um problema de saúde pública, porém, no caso de antibióticos, antiparasitários e antifúngicos, esse problema ganha proporções maiores. Quando utilizamos de forma irracional/incorreta medicamentos, como a ivermectina, corremos o risco de induzir a resistência do parasita ao medicamento que deveria tratar a doença causada por ele”, reforça a professora.
Fonte - G 1
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