A crise na pecuária brasileira – corte e leite – em 2023 derrubou as vendas de doses para inseminação artificial em 3%. Para o médico veterinário Armando Pereira, diretor da empresa Rebanho Assistência Veterinária, de Campo Grande (MS), há uma crise instalada no setor da pecuária que puxa para baixo o setor do comércio de sêmen bovino tanto na área de corte – provocada pela desvalorização do preço do bezerro, quanto na pecuária leiteira – causada pelo preço baixo do leite.
A venda total no mercado interno brasileiro (corte e leite) foi de 22,496 milhões de doses – redução de 3% ante 23,141 milhões de doses de 2022.
Em vendas para cliente final – quando as empresas de genética comercializam o material diretamente para os pecuaristas – mais de 17 milhões de doses para corte foram negociadas. Já as doses de sêmen com aptidão para leite obtiveram um aumento de 6% comparado a 2022 – totalizando 5,4 milhões.
MS é terceiro em IA
Mato Grosso do Sul, com quinto maior rebanho bovino no Brasil, é o terceiro Estado que mais utiliza a técnica de inseminação artificial na pecuária, com taxa de 30,4% (corte e leite). Os números são da Asbia (Associação Brasileira de Inseminação Artificial), que acaba de liberar relatório de 2023 com o perfil do setor.
Os números da inseminação artificial na pecuária leiteira são baixos em Mato Grosso do Sul, mas quando o assunto é pecuária de corte – a verdadeira aptidão do Estado – os números são surpreendente. Em 2023, o MS inseminou 2.078.656 matrizes, só perdendo para o Mato Grosso, que utilizou a técnica de IA em 2.246.193 matrizes.
Em Mato Grosso do Sul (veja gráfico), Estado cuja raça mais tradicional é a zebuína nelore, também é dela a maior fatia do bolo da venda de doses se sêmen para inseminação artificial. Em 2023 a raça nelore respondeu por 63% das doses. Em seguida vem a raça angus (23%) e a brangus, com 4%.
“Em quatro anos, o mercado de sêmen no Brasil cresceu 6 milhões em volume vendido internamente. Isso evidencia a profissionalização do pecuarista e o compromisso de agregar genética melhoradora na produção de carne e de leite. De acordo com os dados levantados pelo Cepea (Centro de Estudos em Economia Aplicada), cerca de 23% das fêmeas de corte no Brasil foram inseminadas. Na pecuária leiteira, esse percentual é de 12%. Ou seja, temos grande potencial para otimizar ainda mais a produtividade e levar o Brasil ao patamar mais alto de fornecedor de alimentos para o mundo”, analisa Cristiano Botelho, executivo da Asbia.
Para o veterinário Armando Pereira, a queda nacional na utilização de inseminação. reflete a insegurança que o mercado enfrenta, reduzindo investimentos. "Há uma grande dificuldade no mercado para formação de preços. A pecuária de corte trabalha com base no preço do bezerro e a leiteira no preço do leite", que encontram-se demasiadamente achatados", analisa.
Segundo Armando, um dos reflexos dessa crise é o aumento no abate de fêmeas. "O produtor precisa suprir o custo de produção e o produto bezerro desvalorizou no mercado". O leite enfrenta a mesma dificuldade tanto em MS como em outros estados com pecuária leiteira mais tradicional como Paraná e Minas Gerais. "Muitos produtores estão simplesmente saindo do mercado".
Todos esses fatores atuam para desincentivar a aplicação de inseminação artificial. "Políticas públicas precisam ser repensadas para minimizar o prejuízo do produtor. É preciso também ter gestão de produção, sem isso não se consegue reduzir os custos dentro da propriedade, nos preços para dentro da porteira", avalia Armando Pereira.
Cooperar é preciso
Para a fazenda ser mais produtiva é preciso reduzir custos, para que o produtor possa obter uma margem de lucro melhor. Unir-se em associações e cooperativas é uma alternativa para negociar compras de insumos com melhores preços.
Outro fator apontado por Armando é em relação à mão de obra. Segundo ele, o pessoal precisa receber um treinamento adequado para melhorar a produtividade. "Precisa diminuir os custos para ter mais segurança no negócio. O produtor precisa fazer a lição de casa, mas precisa também se unir em associativismo para cobrar políticas adequadas para o setor", finaliza.
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