Publicado em 21/11/2025 às 12:42, Atualizado em 21/11/2025 às 14:43
Por Adriana Paioli
Diziam que, no alto da colina, havia uma árvore que nunca morria.
O povo a chamava de Raiz do Tempo, porque ali, entre folhas e silêncio, a história respirava.
Mariana sempre passava por aquele lugar quando o cansaço do mundo parecia maior que sua fé.
Era no fim da tarde, quando o céu ficava cor de cobre, que ela sentava aos pés da árvore e deixava que a brisa conversasse com seu coração.
Naquela semana — a semana da Consciência Negra — Mariana carregava no peito um misto de orgulho, dor e esperança.
Lembrava-se da avó Joana, uma mulher de mãos firmes e olhar doce, que sempre dizia:
“Filha, nós somos feitos de fé teimosa.
Quem veio antes de nós abriu o caminho com oração e coragem.
A gente continua.”
Mariana fechou os olhos e imaginou as vozes dos ancestrais dançando no vento.
Sentiu como se cada folha sussurrasse histórias que o tempo tentou esconder:
histórias de força, de luta, de lágrimas que viraram rio e de fé que virou ponte.
O coração dela se apertou.
— Vocês ainda estão aqui? — perguntou baixinho.
E então, como resposta, uma folha caiu bem ao seu lado.
Simples. Suave.
Mas cheia de significado.
Mariana sorriu — daquele jeito que vem de dentro, quando a alma entende o que a boca não precisa dizer.
Ela lembrou de tudo:
Da luta de um povo que, mesmo ferido, nunca deixou de amar.
Da força de quem, mesmo acorrentado, nunca deixou de sonhar.
Da fé de quem acreditou na liberdade antes mesmo que ela existisse.
Do amor que atravessou gerações sem perder o brilho.
E ali, sob aquela árvore, Mariana fez uma oração silenciosa:
“Que minha vida honre aqueles que vieram antes.
Que meu coração nunca esqueça.
Que minha fé nunca se apague.
E que a luz que eles acenderam…
nunca deixe de retornar.”
Quando abriu os olhos, o sol já se punha.
E o horizonte brilhava como ouro derretido.
Mariana levantou-se devagar.
Não estava mais cansada.
Nem triste.
Nem só.
Porque entendeu que a Consciência Negra não termina quando a semana acaba.
Ela continua no gesto, na palavra, na luta, no amor, na memória — e na fé de quem segue caminhando.
E enquanto caminhava de volta para casa, sentiu dentro de si algo que reconheceu imediatamente:
Gratidão.
Amor.
E a certeza absoluta de que um povo que lembra sua história nunca perde o caminho.
A luz sempre retorna.
Sempre.