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27/06/2024 às 13:31, Atualizado em 27/06/2024 às 12:46

“Com fogo recebem recursos, sem fogo morrem à míngua”, dizem fazendeiros sobre ONG’s no Pantanal

Ministério Público realiza pente-fino em Corumbá na tentativa de localizar as causas do incêndio

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Especialistas pontuam que estiagem tem contribuído para maior número de incêndios (Foto: Divulgação)

Moradores, fazendeiros e proprietários de pousadas no Pantanal denunciam que ONG’s (Organizações Não Governamentais), ou até mesmo reservas são suspeitas de atearem fogo na região de Corumbá atingida pelas queimadas. Eles alegam que os incêndios de grandes proporções amplamente noticiados na mídia recentemente surgiram com o aparecimento repentino de entidades que usam a desculpa de preservação.

Vivendo há mais de 40 anos no Pantanal, o fazendeiro Evander Vendramini alega que o fogo que consome parte do Pantanal é de interesse das ONGs. “Sobrevoando pelas regiões pantaneiras da Nhecolândia e Paiaguás é possível ver que o Pantanal só pega fogo perto de Corumbá, nas margens do Rio Paraguai, Estrada Parque e nas reservas cuidadas pelas ONGs””, comentou.

Ele ainda confirma que o interesse de organizações no Pantanal e principalmente em retirar vantagens econômicas não é recente.

“No passado existia uma cultura do próprio fazendeiro queimar a pastagem cedo para nascer um pasto, mas hoje, o pecuarista não pratica mais esse ato. Há alguns anos começou entrar aqui no Pantanal com desculpa de preservar diversas ONGss e tenho ouvido que elas tem interesses financeiros no fogo pois são disponibilizados recursos financeiros pelo governo”, revelou Vendramini.

O fazendeiro continua dizendo que durante 250 anos o Pantanal foi habitado pela pecuária e nunca foi visto fogo de tamanha proporção. “A partir do momento que essas entidades começaram a ocupar espaço na região os focos de incêndio começaram a surgir”, explicou.

Foto feita por satélite mostra que o fogo se concentra mais na região de Corumbá, longe das áreas de reserva. “O fogo é suspeito e no mínimo deve ser investigado pelos órgãos competentes, de fato é causado por humanos e descobrir quem tem interesse em atear fogo”, pontua Vendramini.

Para o Jornal O Estado, o piloto Pedro Lacerda revela que sobrevoou sobre a região da Estância Caiman, e mostra que uma parte da ONG que está situada na região pegou fogo e ninguém fez nada.

“Não foi divulgado esse fato só ficamos sabendo por que fiz um voo naquela região. Ficam os questionamentos será que foram multados?”, questionou o piloto.

Lacerda comenta ainda que diariamente sobrevoa o Pantanal e tem fotos e vídeos que mostram que o bioma não está ardendo em chamas como propagam em diferentes publicações oficiais. “Fato é que depois que chegaram no Pantanal as Ongs virou esse fogaréu. O fogo está onde precisa estar. Com fogo recebem recursos, sem fogo morrem à míngua”, reforçou.

Para contribuir no combate aos incêndios florestais no Pantanal, o Governo do Estado confirmou que estão a caminho do Mato Grosso do Sul 82 bombeiros da Força Nacional. Saíram 42 militares do Distrito Federal em 15 viaturas e mais 40 do Rio Grande do Sul, com 10 caminhonetes e mais um caminhão de suprimentos. Ambas as equipes saíram na quarta-feira (26) e devem chegar nos próximos dias.

Os trabalhos na região continuam em pleno vapor, foram enviados 62 militares estaduais para substituírem as equipes de campo no combate aos incêndios florestais no entorno de Corumbá, além dos que compõem o SCI (Sistema de Comando de Incidentes) , nas funções de planejamento, logística, operações, finanças e outras atividades.

O grupo de ação recebeu reforço de uma aeronave do ICMBio através do Governo Federal, totalizando 5 (aeronaves) Air Tractor, sendo uma do Corpo de Bombeiros e 4 do ICMBio, e 2 helicópteros do CGPA (Coordenadoria Geral de Policiamento Aéreo).

Na região do Abobral e Miranda foi realizado sobrevoo utilizando uma das aeronaves foram feitos pontos de atenção para traçar estratégias que alinhem o combate em conjunto com a equipe solo.

Outras ações são desenvolvidas de combate e monitoramento na região da Baía do Tamengo, próximo a Corumbá, assim como na região da Maracangalha.

Investigação do MPMS

O Ministério Público de Mato Grosso do Sul, em um trabalho integrado e inédito com a Pma (Polícia Militar Ambiental) e o Governo do Estado, representado pelo Grupamento de Operações Aéreas, agora tem à disposição uma aeronave para agilizar a fiscalização dos pontos de ignição dos incêndios, ou seja, os locais onde os incêndios estão tomando grandes proporções.

O MPMS, por meio do Núcleo de Geotecnologias, identifica os pontos, repassa para a PMA e, com o apoio da aeronave, um agente do Estado chega prontamente, para verificar as causas. Até o momento, de todo incêndio que está ocorrendo no Pantanal Sul-mato-grossense, já foram detectados 13 pontos de ignição, que serão investigados.

Segundo o Promotor de Justiça do Núcleo Ambiental, Luciano Furtado Loubet, “por mais que às vezes não se consiga comprovar que houve um incêndio intencional e com isso gerar uma multa ou uma responsabilidade criminal, o Ministério Público vai tomar providências em todos esses casos para a reparação desse dano e especialmente para adoção de medidas preventivas, a fim de tentar evitar que novos incêndios comecem nestas áreas”.

O núcleo de geotecnologias identificou 18 pontos de ignição que geraram aproximadamente 56.631,68 hectares de incêndios florestais ocorridos entre os dias 10 de maio e 23 de junho de 2024, na região do Pantanal de Mato Grosso do Sul. Esse período coincidiu com a declaração de emergência ambiental (Decreto nº 25, de 9 de abril de 2024) pelo Governo Estadual. Desde então, a região pantaneira tem estado em chamas, e atualmente o bioma em MS já queimou cerca de 292.885,62 hectares, no período proibitivo.

Anos de degradação das nascentes colaboraram para crise hídrica

O Pantanal foi o bioma brasileiro que mais perdeu superfície de água, de acordo com o relatório do MapBiomas, divulgado ontem (26). O objetivo do estudo é provar a dinâmica de corpos hídricos para todo o território nacional desde 1985 e, desde o início da série histórica, a região pantaneira foi a que mais secou.

Segundo a pesquisa, a superfície de água anual, em 2023, foi de 382 mil hectares – 61% abaixo da média. Com isso, houve a redução da área alagada e do tempo de permanência da água. O ano passado foi 50% mais seco que 2018, que foi a última grande cheia no bioma. Em 2018, a água no Pantanal já estava abaixo da média da série histórica, que compara com os dados desde 1985.

Os casos mais severos de seca também ocorreram nos estados que abrigam o Pantanal, com perda de superfície de água de 274 mil hectares no Mato Grosso e 263 mil hectares no Mato Grosso do Sul.

Outro ponto alarmante está nas cidades brasileiras que mais perderam superfície de água em 2023, em relação a média histórica. Corumbá está em primeiro lugar, com perda de 261.313 mil hectares, que representa -53%. Em segundo e terceiro lugar estão os municípios mato-grossenses pantaneiros de Cáceres e Poconé.

Para o biólogo Sérgio Barreto, do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), integrante do programa Cabeceiras do Pantanal, além das mudanças climáticas e suas consequências no mundo todo, há várias explicações para a atual crise hídrica que o bioma enfrenta, sendo a degradação das nascentes localizadas no planalto é uma das principais.

“A gente sabe que as principais nascentes que se localizam na região de planalto, elas têm um nível de comprometimento muito alto. São nascentes que estão com suas áreas totalmente desmatadas, tem uma má utilização desse solo, que acaba causando o comprometimento desse fluxo hídrico. Toda água que vem para a planície e abastece o Pantanal depende dessas nascentes que se localizam na região de planalto”, destaca o Sérgio.

Com relação aos focos de incêndio, atual emergência ambiental enfrentada, que já superou as queimadas de 2020, o biólogo explica que quanto menos áreas alagadas, mais áreas e material combustível terá para o fogo consumir.

“Tem mais o acúmulo de sedimento dessa matéria orgânica, principalmente em grandes baías, aos longos dos trechos dos rios. É por isso que a gente tem um fogo concentrado muitas vezes nas margens dos rios, porque é onde era para ter água e não tem. Mas também a gente tem que lembrar das ações humanas. Não está tendo nenhum tipo de evento de chuva, de raio, então a gente já tem um ambiente propício para o fogo, que é aumentado devido a essas ações humanas”, termina o especialista.

Por Thays Schneider e Kamila Alcântara

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