Publicado em 30/08/2021 às 07:31, Atualizado em 29/08/2021 às 20:17
Por: Rosalina Ramos Lopes
É um desafio compreender o que leva a mulher silenciar diante da agressão, na verdade, procurar entender essa grande vilã complexa e perversa, não é tarefa fácil. No “Art. 2º - Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana” mencionado na lei Maria da Penha (BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006.). Discorro sobre o assunto, deixando claro, que ‘NÃO’ incluo todos os homens como ’agressores’ e nem todas as mulheres como ‘vítimas’. A busca é entender o porquê dessa submissão enraizada simbolicamente ao longo do tempo e a dificuldade de rompê-la. Assim sendo, o que leva o grito de muita mulher não sair da garganta e ficar causando dores, sofrimentos, medos e angústias. Por que é tão difícil denunciar o agressor? Contudo, a cultura patriarcal e machista dificulta o entendimento desse ciclo, fortalecendo que a mulher é um ser inferior e submissa, por conseguinte, estabelece um processo de “dominação e pressupõe-se, assim, a presença de pelo menos dois sujeitos: dominador (es) e dominado (s) (CUNHA, 2014, p. 154).”
Para Bourdieu “Os dominados aplicam categorias construídas do ponto de vista dos dominantes às relações de dominação, fazendo-as assim ser vistas como naturais. O que pode levar a uma espécie de autodepreciação ou até de autodesprezo sistemáticos”. Geralmente a mulher demora a entender que está sendo agredida e isso faz o agressor não se responsabilizar pelos seus atos. A Agressão é cruel e silenciosa, ela pode iniciar de maneira sutil dentro de casa, quando ele começa a controlar, ter ciúmes “aparentemente” normal para um casal, depois agredir verbalmente, oprimir, afastar e posteriores brigas com empurrões, quebras de objetos para intimidação, exposição da vida do casal, imposição sexual, fetiches exacerbados, chantagem, espancamento, ameaças, dentre outras que muitas vezes se desfazem com pedidos de desculpas. Ainda citando Bourdieu “A dominação masculina, que constitui as mulheres como objetos simbólicos, tem por efeito colocá-las em permanente estado de insegurança corporal, ou melhor, de dependência simbólica: elas existem primeiro pelo, e para, o olhar dos outros, ou seja, enquanto objetos receptivos, atraentes, disponíveis”.
Conclui-se, que é possível, porém difícil descontruir ideias arraigadas que “coisificam” a mulher, números mostram que está vulnerável tanto no âmbito doméstico quanto no público, mas pode encorajar, desmitificar essa submissão histórica, exercer a sua liberdade e se for agredida denunciar, como fez Maria da Penha. É sabido que no decorrer da história simbolicamente construída, inconsciente, a mulher ficou limitada e sem voz por muitos anos, porém gradativamente está se posicionando, entendendo que pode ser protagonista da sua trajetória de vida. Pois, silenciar causa muita dor e sofrimento, tem que enfrentar e dizer NÃO a essa posição inferiorizada em que o papel masculino ao longo do tempo é ditar regras, desconstruir práticas agressoras aceitas como ‘naturais’ e lutar pelo livre arbítrio.
LOPES, Rosalina Ramos, Formada em Letras pelas FINAN/FALENA, Pedagogia FINAN/ FENA e Psicopedagogia IESNA, Pós-Graduação em Deficiência Auditiva: Tradução e Interpretação em Libras IESF, subárea Análise do Discurso, pela UEMS.