Publicado em 21/03/2022 às 11:45, Atualizado em 21/03/2022 às 15:48

ARTIGO: Guerra na Ucrânia e Saúde Pública

Por: Fernando Rizzolo

Redação,

Na história da humanidade, as doenças surgem tanto em momentos

de paz como em momentos de conflitos, como guerras ou invasões, que

assolam os países e suas populações e geram o estresse que predispõe a

epidemias devido a vários fatores, como a desnutrição, o abandono,

alterações no equilíbrio psicológico em razão da apreensão, que leva

muitas vezes a uma baixa de imunidade e a problemas relacionados à

saúde mental.

Este texto não tem o intuito de se ater aos motivos das guerras em

si, mas de fazer uma reflexão do ponto de vista epidemiológico em torno

dessas tragédias, que, por sinal, foram perpetradas por muitos outros

países em diferentes situações de tempo e por diferentes motivos.

A grande verdade é que o sofrimento causado tanto pelas

pandemias, como a covid-19, quanto pelos efeitos deletérios de uma

guerra é desastroso. Hoje sabemos que a guerra na Ucrânia representa

uma ameaça imediata e crescente à vida e ao bem-estar dos 7,5 milhões

de crianças e adolescentes do país. O que vemos é que as necessidades

humanitárias estão se multiplicando a cada hora à medida que os

combates se intensificam. Até o dia 15 de março, mais de 1,5 milhão de

crianças e adolescentes haviam fugido da Ucrânia, sendo que crianças e

adolescentes em deslocamento correm maior risco de violência,

exploração e abuso, ao mesmo tempo em que mulheres e meninas estão

especialmente em risco de violência de gênero enquanto buscam abrigo

ou asilo. Ademais, a infraestrutura civil, como instalações de água e

saneamento, foi grandemente atingida, deixando milhões de pessoas sem

acesso à água potável.

Uma análise da OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgada

este mês mostrou que casos de ansiedade aumentaram 25,6% durante a

pandemia – que teve início oficialmente em 11 de março de 2020. Para

piorar a situação, a invasão russa na Ucrânia trouxe novos temores para a

humanidade em geral, incluindo o temor de uma guerra nuclear.

Desta forma, uma situação de guerra, assim como uma pandemia,

provoca evidentemente um esgotamento psíquico causado

principalmente pela liberação contínua do hormônio de estresse. Tal

como se um botão de pânico se mantivesse ligado de maneira perene,

com a liberação ininterrupta de cortisol (hormônio do estresse).

Outro aspecto também pertinente à saúde pública na Ucrânia é que

há relatos da OMS de que a imunização de rotina e os esforços de controle dos surtos de poliomielite foram suspensos no país em função dos combates. Vale a pena ressaltar que, em outubro passado, a Ucrânia teve o primeiro caso de poliomielite na Europa em cinco anos. Enfim, a falta de tratamento e de suprimentos de medicação, o deslocamento e as doenças infectocontagiosas passam a fazer parte desse cenário de horror.

As tratativas de paz que não prosperam e o envolvimento de vários

países no conflito acabam, por sua vez, piorando o cenário, num mundo

em que o Ocidente incita a Eurásia e o Oriente, com fins de cunho

puramente imperial, fazendo-nos regredir à época da Guerra Fria, com a

diferença de que agora não se disputa uma ideologia, e sim blocos de

mercado, visando à hegemonia do capital.

Fernando Rizzolo é advogado, jornalista, mestre em Direitos Fundamentais.