Aparições de onças em propriedade rurais do Pantanal tem preocupado alguns fazendeiros e gerado a impressão de que há uma superpopulação da espécie nessas localidades. Entretanto, pesquisas recentes têm mostrado que, na verdade, há um equilíbrio populacional do felino na região pantaneira.
De acordo com pesquisador Diego Viana, do programa Felinos Pantaneiros, vinculado ao IHP (Instituto Homem Pantaneiro), o último levantamento mostrou que foi registrado uma densidade populacional de 8,3 onças a cada 100 km² na Serra do Amolar, a 411 km de Campo Grande. Este índice aponta que há um equilíbrio populacional dos felinos, de acordo com pesquisadores.
Entretanto, a percepção de aumento é mais comum para proprietários de fazendas do ramo pecuarista no Pantanal. Segundo Viana, a percepção exacerbada da superpopulação de onças é causada, principalmente, pelos ataques ao rebanho bovino. “Quando há um ataque ao rebanho, isso causa perda não só financeira, mas também emocional. O cara sente que o trabalho dele está sendo afetado pela onça. Então, consequentemente, as pessoas superestimam o número populacional e acham que tem muita onça”, explica.
O pesquisador do IHP explica que o número populacional de onças, na verdade, é estável, conforme o monitoramento realizado por biólogos e outros pesquisadores. “Vários pesquisadores, incluindo eu, têm acompanhado a população de onças com câmeras, e isso tem sido documentado em artigos científicos com revisão científica rigorosa. O que temos é uma população equilibrada de onças pintadas no Pantanal, com densidades variando de região para região, de acordo com estudos recentes”.
Densidade populacional - Segundo Diego, desde o começo da produção pecuária no Pantanal, as onças sempre estiveram nas áreas com gado. Ele aponta que o aumento no número de avistamentos pode ser influenciado por diversos fatores, como a maior presença de pessoas no campo e a degradação do habitat que tem forçado as onças a se deslocarem para locais habitados por humanos.
“Hoje também é comum as pessoas terem um celular e, com isso, registrar os encontros, além dos fatores ambientais que podem influenciar nessa movimentação das onças, como cheia, incêndios, degradação de habitat, entre outras variáveis”, explica o pesquisador.
Há também o fator de densidade populacional e distribuição dos animais nas regiões do Pantanal. De acordo com a pesquisa de mestrado do biólogo André Camilo, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), a onça-pintada é mais encontrada em regiões do Pantanal onde há florestas mais densas e em áreas onde a intensidade e duração das inundações são maiores.
De acordo com Viana, é preciso compreender como entender como as onças ocupam as diferentes regiões do Pantanal bem como estimar o impacto causado na produção pecuária e implementar estratégias anti-predação de rebanho nessas diferentes regiões. “Isso só vai acontecer se for de uma forma colaborativa entre todos os grupos envolvidos na coexistência entre onças e pessoas no Pantanal”.
Prevenções - Atualmente, o programa Felinos Pantaneiros, do IHP, tem tentado estabelecer um diálogo entre o conhecimento científico e o conhecimento dos produtores rurais. “Sempre tentamos aliar o conhecimento tradicional ao conhecimento científico, que a ciência vem gerando nos últimos anos”, explica o pesquisador.
De acordo com Viana, o foco do programa é aumentar a produtividade por meio da coexistência com os felinos, enquanto se prioriza a proteção e a conservação da biodiversidade pantaneira.
O IHP e pesquisadores se reuniram no Sindicato Rural de Corumbá, sendo apresentadas 11 estratégias de coexistência com a onça, para diminuir esse impacto causado na produção pecuária. Também foram lembradas estratégias já conhecidas, como manejo do rebanho de áreas mais vulneráveis, associando a outras iniciativas mais recentes, como a cerca elétrica e repelente luminoso.
Atualmente, três fazendas que servem de "modelo" para o projeto estão situadas em três regiões distintas do Pantanal: Nhecolândia, Nabileque e Aquidauana. Após a fase piloto do projeto, o objetivo é expandir as estratégias anti-predação para o maior número possível de propriedades rurais em todas as regiões pantaneiras, incluindo o Estado do Mato Grosso.
Conteúdo - Campograndenews
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