Agropecuaristas de Naviraí propõem alternativa para conter queimadas e conservar o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema. A proposta busca por uma parceria público-privada para conter os incêndios no local, que é uma unidade de conservação de proteção integral. Desde agosto, o Parque sofre com diversos focos de queimadas ainda ativos. Corpo de Bombeiros considera o cenário alarmante.
Com uma área de 73.345,15 hectares, o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, localizado na bacia hidrográfica do Rio Paraná, abrangendo os municípios de Taquarussu, Jateí e Naviraí, encontra-se em situação alarmante por diversos focos de queimadas ativos. Diante do cenário crítico, agropecuaristas do município de Naviraí apresentam alternativa de conservação ao Parque. “Estou na região há cerca de 20 anos, e o parque tem aproximadamente 25 ou 26 anos. Todo ano, sem falta, há queimadas. É triste ver que o capim cresce, e sabemos que as queimadas podem ser causadas por uma bituca de cigarro, uma faísca de raio ou um problema com a energia elétrica. Com o tempo, isso pode levar à destruição completa da vegetação”, afirmou agropecuarista, Nelson Antonini.
Antonini também observou que, ao contrário das fazendas e reservas próximas que são bem cuidadas por agropecuários e outros produtores, o parque, que é uma área de conservação, enfrenta uma constante ameaça de queimadas, o que o indigna. “Nossas reservas, fazendas, estão todas bem cuidadas, todas verdes. E ali, por ser um parque, não devia queimar. Como alguém que trabalha com a terra e cuida da natureza, eu quero que as futuras gerações também possam ver o parque verde e saudável”, destaca.
Para o pecuarista, há uma necessidade urgente de uma reunião entre o governo e a prefeitura para abordar e mitigar o problema. “Podemos, na época do fogo, propor uma parceria e pôr as nossas máquinas para fazer aceiro com antecedência. Mas, para isso, é necessário que o governo faça estradas no parque, com espaços de 50 metros em cada lado, com uma grama mais baixa, que nós manteremos roçado, assim conteremos o fogo. Além do auxílio do Corpo de Bombeiros”, defende.
Já o produtor, com duas décadas de experiência em reflorestamento, Nereu Menezes, ressaltou que, apesar de o ano passado ter sido uma exceção sem grandes incêndios, a situação atual é crítica. Ele acredita que a implementação de um manejo adequado poderia minimizar significativamente os problemas relacionados ao fogo. “Integrando a pecuária com o reflorestamento, acredito que podemos restaurar grandes áreas de vegetação nativa e reduzir a necessidade de manutenção constante dos aceiros no futuro. O uso de gado para controlar o crescimento do capim pode ser crucial. Sem esse manejo, considero praticamente impossível recuperar a floresta em sua totalidade, já que as queimadas frequentemente destroem a vegetação nativa restante”, argumenta.
Especialistas e Semadesc
Contudo, o Parque do Rio Ivinhema é uma unidade de conservação com proteção integral regida pela SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza), Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que estabelece critérios e normas para implantação e gestão das unidades de conservação. Ou seja, para intervir no local é necessária uma alteração na legislação, conforme explica a bióloga e conselheira do Parque Municipal Natural de Naviraí, Silvana Lima. “O que os produtores estão propondo necessita de uma brecha que altera a legislação, permitindo fazer o manejo dessas áreas de vegetação seca que ficam dentro do parque, para não ter esse fogo que acontece todos os anos. Mas, para isso, tem que ser feito estudos. Buscamos meios para que se resolva essa questão do fogo, que daqui de agora para frente vai ser cada vez pior, mas tudo isso tem que ser feito com muito cuidado. Porém, diante da emergência climática, de tudo que está acontecendo, eu acho que é algo que devemos começar a pensar”, reflete a bióloga.
O secretário da Semadesc (Secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, em resposta ao Jornal O Estado sobre a proposta, afirma uma reunião agendada para a semana que vem. “Eu vou me reunir com eles para saber qual é a proposta que eles estão fazendo. Então, a gente quer ver como é a proposta, para que a gente possa fazer um sistema de parceria”, disse.
CBMSC sobre o Parque
Desde agosto, o CBMSC (Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina) atua no combate às chamas na região, desenvolvendo diversas estratégias para mitigar o fogo em cenário que consideram alarmante. “O cenário que encontramos aqui no Parque é extremamente crítico. A extensão da área, somada às frentes de fogo que chegam a 30 quilômetros, torna inviável o combate direto. Por isso, estamos adotando estratégias de contra-fogo, com o objetivo de evitar que as chamas avancem em direção às fazendas e causem ainda mais destruição a esse ambiente de fauna e flora tão rica”, relatou o comandante da operação, capitão Ricardo Bianchi em reportagem a CBMSC.
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